Neste sábado, das 14h às 19h, o Salão de Festas da Igreja do Amaral, no bairro Camobi, em Santa Maria, vai abrigar o II Forjando Amizades Afiadas - Feira de Cutelaria e Antiguidades. Na ocasião, 35 cuteleiros (artesãos que confeccionam facas de maneira manual) de todo o Estado vão comercializar peças artesanais, expor antiguidades e raridades (como facas, adagas e facões), além de outras peças que carregam valor histórico e são cobiçadas por colecionadores. Além de cuteleiros, participam do encontro os guasqueiros (artesãos que fabricam peças em couro cru).
Um dos organizadores do evento, Patrick Souza, 39 anos, é filho e neto de cuteleiro. Ainda hoje, ele mantém a tradição centenária da família e produz facas de forma artesanal. Segundo ele, o evento foi criado por quatro amigos, com o objetivo de manter as tradições da confecção de facas artesanais e para integrar interessados pela atividade e colecionadores.
- Meu avô foi dos primeiros funcionários da Fábrica de Facas Coqueiro, há cem anos. Meu pai aprendeu a confeccionar facas com ele e, anos depois, me ensinou tudo que sabia - recorda.
Além das habilidades em produzir belas facas, Patrick herdou do pai o galpão da cutelaria, localizado nos fundos de sua casa. Apesar de querer construir um espaço maior para a produção, Patrick afirma que vai manter o cômodo que pertenceu ao seu pai, como parte de sua história.
- Trabalhar no local que foi construído pelo meu pai e exercer a atividade que vem sendo realizada pela minha família há 100 anos, tem um significado muito especial - orgulha-se.
Produzindo os objetos cortantes há quase três décadas, Patrick contabiliza mais de 28 mil peças confeccionadas por ele. Elas já foram vendidas para diferentes cidades do Estado, do país, e do mundo. O valor das facas varia de acordo com o modelo e o material que será utilizado em seu cabo. O custo varia entre R$ 80 e pode chegar a até R$ 1 mil.
- O modelo mais caro que produzi foi uma encomenda. Era uma faca personalizada com o cabo de prata decorado com três pedras de rubi. O cliente enviou o presente para alguém que reside na Itália - recorda.
Aprendiz de cuteleiro
Dilmar Rodrigues, 30 anos, motorista, criado em Dona Francisca, é filho de um gaúcho tropeiro e cultiva o tradicionalismo desde guri. Mudou-se para Santa Maria em função dos estudos, mas, como todo bom assador, gosta de facas especiais para servir seus churrascos. Foi motivado a ter uma peça exclusiva que Rodrigues, por indicação, chegou ao nome do cuteleiro Patrick Souza, em 2014. Ele encomendou uma faca larga, chamada picanheira, indicada para cortes de pedaços grandes de carne. O resultado agradou tanto que ele quis encomendar uma segunda faca. Porém, Patrick o desafiou a fazer sua própria faca. Ele encarou a missão, aprendeu e não parou mais de criar e fazer as peças. Hoje, Rodrigues produz suas próprias facas e auxilia Patrick na cutelaria.
Presente especial
Uma antiga lenda diz que não se deve presentear um amigo com uma faca, pois, há o risco da amizade ser cortada. Apesar de a lenda ser muito conhecida, Patrick revela que isso não atrapalha nas vendas e que o objeto é um ótimo presente.
- As pessoas sempre falam sobre essa lenda. Os mais supersticiosos trocam a faca por uma moeda, quando presenteiam, para que simule uma compra. Mas, o que noto é que muita gente adora presentear e receber uma bela faca. Uma faca artesanal, além de ser um objeto útil, é uma peça bonita e exclusiva. O que torna o presente muito especial. Ainda mais no Rio Grande do Sul, onde todo gaúcho quer ter uma boa faca para cortar o seu churrasco - afirma Patrick.
Tipos de facas:
A cutelaria de Souza produz dois tipos de facas artesanais: as cortadas por esmerilhadeira e os modelos forjados.
- Facas a disco (esmerilhadeira) _ Feitas a partir de chapas, disco de arado ou outros materiais recicláveis. Nesse modelo, o desenho da faca é feito na chapa e, em seguida, recortado com a esmerilhadeira.
- Facas forjadas _ Feitas a partir de um pedaço de aço virgem. Após ser submetido ao calor, o aço é amassado até achatar e adquirir o formato desejado.
Passo a passo para fabricar uma faca artesanal
Após escolher o material e o modelo (cortada ou forjada) o processo de produção é o mesmo.
- A faca é levada ao fogo para o alinhamento da lâmina
- Em seguida, o objeto é passado pelo rebolo (esmerilho) para ser afiado
- Depois, é submetida à têmpera no calor de 1 mil°C, para o endurecimento do aço
- A faca descansa por cerca de 30 minutos, mergulhada em graxa animal
- Depois, é a vez do tratamento térmico, quando a faca é levada ao forno elétrico, em temperatura de 280°C, por 40 minutos, para tirar a tensão do aço
- Para o acabamento, é preciso voltar a trabalhar o fio, tirar os vestígios de gordura animal, polir a lâmina e, finalmente, escolher e colocar o cabo.