A conduta do soldado que disparou três vezes contra o veículo conduzido pelo engenheiro Vilmar Mattiello, 58 anos, na madrugada desta quinta-feira, é criticada por especialistas em segurança pública consultados por ZH.
Segundo a Brigada Militar, Mattiello teria se recusado a parar em abordagem na Avenida Wenceslau Escobar, na Zona Sul. O engenheiro foi morto com um tiro no tórax. O consultor em segurança José Vicente da Silva diz que o PM errou ao atirar contra o veículo.
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– Independente das condições, não se atira em carro que está em fuga. As pessoas dizem: "ah, então deixa fugir?". Sim. É preferível deixar fugir do que atirar e matar um inocente. O policial que está do lado de fora não tem como saber por que o veículo está em fuga. Pode ter um inocente dentro, uma pessoa sequestrada – afirma Vicente.
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O consultor, que também é coronel e já comandou batalhões da Polícia Militar, conta que, anos atrás, um soldado e um cabo que estavam sob suas ordens envolveram-se em situação parecida.
– Um rapaz estava em uma motocicleta e fugiu de uma abordagem. Na hora, o soldado atirou e matou ele. Imediatamente, o cabo, que era o mais graduado naquele momento, prendeu o colega em flagrante. Era isso que deveria ter ocorrido – explica.
O tenente-coronel Diógenes Lucca, ex-comandante do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Militar de São Paulo e especialista em segurança, ressalva que não pode julgar a conduta dos brigadianos que participaram da ocorrência por não dispor de mais detalhes, mas lembra que os protocolos indicam atitudes diferentes das adotadas por eles.
– Quando você persegue um veículo suspeito em fuga, a própria presença da polícia faz o sujeito acelerar mais. Portanto, a perseguição policial é uma prática em desuso. Você tem de tentar acompanhar o veículo sem fustigá-lo e tentar coordenar um cerco para bloqueá-lo.
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Lucca reforça que não se deve atirar contra um veículo que fura cerco policial:
– O tiro tem de ter um objetivo determinado, tem de ter endereço certo. Em uma situação de perseguição, é muito arriscado atirar. No limite, é melhor deixar fugir do que colocar pessoas em risco.
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juliano rodrigues
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