Não creio que a corrupção no Brasil acabe. Essa praga é tão antiga e está de tal forma inserida na sociedade brasileira que virou missão impossível acabar com ela. Não falo apenas do "andar de cima", onde os escândalos com dinheiro público já são contabilizados em bilhões de reais. Tem gente levando vantagem indevida em todos os setores da vida nacional. Na esfera pública, na iniciativa pública, em toda parte.
Começa, por exemplo, pelo contribuinte que usa recibo frio para aumentar a restituição do Imposto de Renda, passa pelo garçom que, na festa boca-livre, serve melhor o convidado que lhe dá propina, e chega ao comerciante e ao cliente que combinam desconto para uma venda sem nota fiscal.
Todos que, em maior ou menor escala, aceitam favores indevidos ou forçam situações para levar vantagem estão incorrendo em corrupção. O que muda é o tamanho da fraude. Na falta de dinheiro, tem gente que se vende até por 1kg de bananas.
Obviamente, no outro extremo, lidando com verbas astronômicas, os corruptos graúdos embolsam milhões de reais. As negociatas, infelizmente, fazem parte da rotina do brasileiro. Não é de hoje.
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Ruy Barbosa
Já em 1914, em discurso no Senado, o grande Ruy Barbosa lamentava que "de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto."
Vergonha que até hoje perturba o cidadão que insiste em agir corretamente: diante de tanta podridão e safadeza, o íntegro se vê como trouxa. Ao enquadrar e colocar poderosos na cadeia, a Operação Lava-Jato poderia ser um divisor de águas na luta contra a corrupção.
Mas nem os procuradores diretamente envolvidos nessa investida inédita contra o crime do colarinho branco têm esperança disso. Como admitiu um deles, a corrupção no Brasil é endêmica e atingiu o estágio da metástase, feito o câncer que entra na corrente sanguínea e se alastra para outros pontos do organismo distantes do problema original. A única saída que vejo é de longo prazo e passa pela palavra educação. Só ela poderá criar uma nova geração de brasileiros, capazes de ignorar os atalhos do ganho fácil e indevido para apostar no crescimento via conhecimento, mérito pessoal e trabalho. Será que, algum dia, chegaremos lá?