A exemplo do que aconteceu com cantor Cristiano Araújo, que teve imagens do momento da necropsia divulgadas em redes sociais, em Santa Maria, fotos da mulher que teria batido o carro contra a mureta da ponte sobre o Vale do Menino Deus e, depois, pulado, na última terça-feira, estão sendo espalhadas pelo WhatsApp.
Pelo menos duas imagens chegaram ao "Diário" - uma do corpo no local onde ele foi localizado, e outra, feita após o resgate, já sobre a ponte, durante perícia do Instituto-Geral de Perícias (IGP). Segundo a Polícia Civil, a propagação das fotos pode caracterizar crime de vilipêndio de cadáver.
- O crime de vilipêndio é configurado quando alguém trata de forma desrespeitosa o cadáver, com desprezo ou ultraje - explicou o delegado regional de Polícia Civil, Sandro Meinerz.
A Polícia Civil ainda não recebeu as imagens ou denúncia sobre o caso. Se receber, deve investigar. Se comprovada a autoria da foto e a distribuição, a pessoa pode ser responsabilizada com uma pena de um a três anos de prisão, que pode ser convertida em multa ou prestação de serviços à comunidade. Caso se trate de servidor público, pode responder a processo administrativo disciplinar.
O primeiro órgão de segurança a atender a ocorrência foi a Polícia Rodoviária Federal (PRF), às 12h15min, quando foi bloqueado o trânsito sobre a ponte na BR-158. Em seguida, chegou o Corpo de Bombeiros, por volta de 12h30min. Depois, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e o Instituto-Geral de Perícias (IGP).
O chefe da Delegacia da PRF, Marcelo Ramos, garantiu, na sexta-feira, que os policiais rodoviários não desceram até o local do corpo e que as fotos não foram feitas por eles. O major Iremar Charopen, responsável pelo setor operacional dos bombeiros, disse que, além dos bombeiros, socorristas do Samu e peritos do IGP foram ao local. Segundo ele, o acesso é difícil, mas não é impossível que um popular tenha chegado ao ponto. O major afirmou que esta não é uma conduta adotada pelos bombeiros e que vai investigar o caso internamente.
O chefe do Posto de Criminalística do IGP em Santa Maria, Railander Barcellos, disse que existe um perito fotógrafo que faz o levantamento do local e do corpo, mas que usa uma câmera específica, e que as fotos não podem ser divulgadas. O médico Ângelo Zamberlan, do Samu, que atendeu ao chamado naquele dia, garantiu que não foi a equipe que tirou as fotos. Ele diz que ele e o enfermeiro desceram até o local, verificaram o óbito e voltaram, acompanhados pelos bombeiros.
No caso do cantor Cristiano Araújo, três pessoas foram indiciadas pela Polícia Civil de Goiás por compartilhar as fotos do corpo em redes sociais. Dois são técnicos que trabalham para a clínica especializada na reconstituição visual de corpos de vítimas de mortes violentas para velórios com caixão aberto, e o terceiro é amigo de quem fez as imagens. Os envolvidos responderão por vilipêndio de cadáver.