Certa vez, em entrevista ao jornal Telegraph, Christopher Lee fez um apelo:
- Por favor, não me descrevam como uma lenda do horror. Já deixei isso para trás.
Morto no domingo, aos 93 anos (a notícia se espalhou apenas nesta quinta, por meio do mesmo periódico britânico), Lee construiu uma carreira múltipla, que foi além dos rótulos que pareciam lhe cair tão bem. Seus trabalhos mais conhecidos foram os filmes de terror, mas ele lutou para não ficar restrito à tradicional imagem do vilão.
Um dos mais notáveis Dráculas do cinema, despontou nos anos 1950 com títulos como A Maldição de Frankenstein, O Vampiro da Noite e A Múmia. Além do lendário conde de Bram Stoker - que encarnaria em outros filmes nas décadas de 1960 e 70 -, interpretou o vilão Scaramanga em 007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro, de 1974. Uma curiosidade: Lee era primo de Ian Fleming, escritor que criou o personagem James Bond.
Sua proficuidade se deu muito em função da atuação como dublador: a voz marcante de Christopher Lee foi usada em animações e jogos de videogame. A imagem cult foi reforçada pela paixão pelo heavy metal, que o levou à música - seu último disco foi o EP Metal Knight (2014), em que interpretou versões de canções do musical O Homem de la Mancha, uma faixa da ópera Carmen, de George Bizet, e o clássico My Way, popularizado por Frank Sinatra.
A partir dos anos 1980, Lee fez vários papéis na televisão, entre eles o de Sherlock Holmes em uma série de telefilmes adaptados da obra de Arthur Conan Doyle. Apareceu em comédias (Os Babacas, Loucademia de Polícia 7) e longas de seu fã Tim Burton, que o dirigiu em A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça (1999), A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005) e Sombras da Noite (2012), além de ter usado sua voz em A Noiva Cadáver (2005) e Alice no País das Maravilhas (2010).
Mas o que o aproximou definitivamente das novas gerações foram os filmes recentes da franquia Star Wars (na qual interpretou o Conde Dookan) e, principalmente os das séries O Senhor dos Anéis e O Hobbit. Sua caracterização de Saruman, se não colaborou para afastá-lo do estereótipo do vilão que o incomodava, ao menos ajudou os fãs mais jovens a conhecerem um dos mais lendários atores britânicos do século 20.