Na sexta-feira, ao comparar a pressão que sofre agora com as enfrentadas na Copa de 1994, Dunga comentou: "Eu até acho que eu sou afrodescendente de tanto que apanhei e gosto de apanhar. Os caras olham para mim: Vamos bater nesse aí. E começam a me bater".
Dunga sempre foi mais hábil com os pés do que com as palavras, mas não é racista. Ele falou o que todos sabem e muitos toleram: os negros, historicamente, apanham de diferentes formas no Brasil. São eles que enchem as prisões (cerca de 55% dos mais de 600 mil presos são negros ou pardos), que são maioria nas vilas de periferia. Nas universidades, apesar das cotas, os negros são exceção. Em postos de comando de empresas, é raro vê-los em ação. São eles, os negros, que mais sofrem com assassinatos no último país do ocidente a abolir a escravidão.
Diante da repercussão, Dunga se desculpou "com todos que possam se sentir ofendidos" e assegurou: "A maneira como me expressei não reflete os meus sentimentos e opiniões".
Ok, Dunga. Só não entendi, já que ele também não explicou, por que diabos o capitão do Tetra acha que os negros gostam de apanhar. Não sou negro, mas posso assegurar, Dunga, que a vasta comunidade negra cansou de apanhar. Eles buscam inserção em uma sociedade que teima em excluí-los e que lhes seja devolvido, pelo menos em parte, aquilo que deram pelo país durante séculos de escravidão.
*Diário Gaúcho