Esperar que o mundo real acompanhe a fama da internet pode ser complicado, especialmente para um nativo digital acostumado a uma enxurrada diária de curtidas, retuítes e seguidores. Pergunte a ILoveMakonnen, rapper de 25 anos de Atlanta, na Geórgia (mais conhecido como Makonnen), cujo vídeo para o single "Tuesday", com participação de Drake, já foi visto mais de 73 milhões de vezes no YouTube.
Em março, no festival de música South by Southwest em Austin, Texas, isso foi mais que o suficiente para garantir a Makonnen uma vaga na área VIP da festa após o show, além de ter sido reconhecido por uma fã (que ainda não dominava seu nome). "MACK-a-nin!" gritou ela várias vezes por trás de uma barreira (a pronúncia é Muh-KO-nen). Ele se inclinou para um abraço antes de olhá-la com ceticismo e desaparecer na multidão.
- Você nem sabe meu nome! Só está gritando por causa do Drake. Se realmente conhecesse minha música, saberia dizer meu nome. Eu repito toda hora - disse Makonnen, nascido Makonnen Sheran, recordando o incidente. Esse é o limbo onde Makonnen se encontra: conhecido como o ursinho de pelúcia com uma coroa de cachinhos, visto por milhões no Twitter, Instagram e Snapchat, mas ainda não tão famoso depois de um ano que contou com uma indicação ao Grammy e uma apresentação em The Tonight Show com Jimmy Fallon (os dois com "Tuesday", hino das noitadas no meio da semana).
Ele recentemente fez seu quinto lançamento, uma série de mixtapes chamada "Drink More Water", e em abril saiu em sua primeira turnê, seguida por festivais de verão antes da estreia de seu álbum, prometido para o fim do ano pela mesma gravadora de Drake, a OVO Sound, um selo da Warner Brothers Records. Mas Makonnen é também uma aposta no escuro e um excêntrico, mesmo para a estranha cena do rap de Atlanta (a New Weird Atlanta), com a qual ele é frequentemente associado e que já lançou estrelas esquisitas como o cantor robô Future, o trio Migos e seus mantras e o diferente Young Thug.
Makonnen também se aproveita da singularidade de sua voz no estilo barítono da Broadway, que alcança notas bem altas e trabalha com os mesmos produtores que construíram o som atual da cidade, mas ele não é exatamente um rapper e fica meio dividido entre cantores como Morrissey e Nate Dogg, além de se inspirar em suas bandas de rock favoritas, como Killers e o mago do rap de Atlanta, Gucci Mane.
Em "Drink More Water 5", Makonnen alterna facilmente entre músicas duras, talhadas para a cena dos clubes noturnos e que falam sobre tráfico de drogas ou fuga da polícia e outras sem bateria, com solos de piano mais melancólicos como "Get Loose With Me".
- Eu me identifico mais com a internet do que com o New Atlanta. Não foi assim que saí de Atlanta, andando pelas ruas e fazendo um monte de shows ou um monte de mixtapes. Meu lance é on-line - disse Makonnen durante uma pausa nas gravações, no Red Bull Studios em Manhattan. Ele estava à vontade em uma camiseta que combinava os logotipos de Versace, Gucci, Louis Vuitton e Chanel.
A internet basicamente aconteceu por necessidade. No dia seguinte à sua formatura do ensino médio, Makonnen, então com 18 anos, testemunhou a morte de seu melhor amigo quando uma arma com a qual os dois brincavam no carro disparou, atingindo o jovem na cabeça. Embora o tiro tenha sido inicialmente considerado um acidente, Makonnen, mais tarde, foi preso e acusado de homicídio involuntário depois que a mãe da vítima exigiu mais investigações, ele disse. Os dois planejavam ingressar na Academia da Força Aérea através do "buddy program" para poderem ficar juntos.
- Éramos bem amigos mesmo. Foi uma tragédia - disse, lembrando que um frequentava a casa do outro e que iam juntos para a igreja.
O rapaz passaria os próximos sete anos sob a supervisão do Estado, primeiro com um monitor de tornozelo enquanto aguardava o julgamento e em seguida, após um acordo, em liberdade condicional. Segundo ele, para se manter ocupado e são durante esse longo período, havia seus dois pit bulls, Daisy e Snow, "a internet e meu teclado", um presente de sua mãe, que acreditava que aprender piano iria mantê-lo em casa e longe dos problemas. Além da construção de sua rede on-line, Makonnen produzia sua própria música para que ele e sua mãe cantassem, gravando vários álbuns em seu quarto, todos influenciados por bandas como MGMT e Bloc Party.
Enquanto estava em liberdade condicional, Makonnen também teve aulas de cosmetologia e se especializou em coloração de cabelo, sonhando em trabalhar para os desfiles de moda de Milão ou Paris e fazer fotos para a Vogue.
- Passava os dias com garotas. Acabei virando uma e aprendi muito sobre elas.
Sua música hoje traz personagens e experiências femininas e uma cabeça de manequim do curso de cosmetologia, a quem ele chama de Martha, se tornou uma característica estética. Makonnen sabe que seus interesses podem ser considerados raros no rap, mas se diverte com sua reputação de diferente com a segurança de alguém acostumado a se destacar.
Tendo se mudado de Los Angeles para Riverdale, um dos principais bairros negros de Atlanta, aos 13 anos, Makonnen também era fluente na linguagem do hip-hop.
- Na escola eu só andava com prostitutas, vendendo drogas e imitações de bolsas de estilistas para arranjar uns trocados.
A combinação dessa experiência com a sensibilidade do indie-rock, e a ética de trabalho no estilo faça-você-mesmo acabou chamando a atenção da classe de produtores de Atlanta, que já começava a crescer e que inclui Mike Will Made-It, que trabalhou com Rihanna e Miley Cyrus. Ele conseguiu que Makonnen assinasse um contrato com a Warner Brothers em 2013. Porém, foi só um ano depois, quando Makonnen se ligou à nova geração de produtores e os outros arquitetos de "Tuesday", Sonny Digital e Metro Boomin, que seu som começou a tomar forma.
- Eles gostaram do meu tom de voz - disse Makonnen.
Sonny Digital (cujo nome verdadeiro é Sonny Uwaezuoke) disse que a primeira vez que ouviu falar de Makonnen foi on-line e não sabia inicialmente que ele era de Atlanta.
- Foi meio engraçado no começo, era só ele e o teclado, mas Makonnen permitiu que tentássemos algo diferente. O que "Tuesday" realmente fez pela gente foi dar espaço para um pouco mais de criatividade e inovação, para mostrar às pessoas que não fazemos só música trap pesada - disse Sonny.
Makonnen, que acaba de sair da condicional, recentemente descobriu drogas alucinógenas, que ele diz terem "desbloqueado" sua mente, e afirmou que estava em uma viagem de cogumelos, frustrado depois de uma longa noite no estúdio, quando percebeu que Drake havia acrescentado um verso à sua canção - um ingresso para o mundo do rap atual.
- Chorei, disse Makonnen sobre o momento, em agosto passado, que foi filmado e se tornou viral.
"Tuesday" explodiu na rádio e chegou ao 12º lugar da Billboard Hot 100. No entanto, mesmo que essa introdução feita pelo rapper de Toronto seja algo como ganhar na loteria musical, o negócio não para por aí.
- Na verdade, não estou tentando entrar no hip-hop e no rap. É triste, mas eu sabia que essa era a maneira de começar, porque sou 'negro' e 'urbano' e de Atlanta", disse Makonnen.
Ao usar o som regional que está bombando hoje para se tornar conhecido do público com sua voz teatral e peculiaridades estilísticas, Makonnen pretende surfar a nova onda com "a molecada e a internet", algo que ele compara esteticamente a "uma mistura de Dia dos Namorados e Dia das Bruxas". Agora, sua mixtape mais recente usa raps das ruas como um meio de introduzir baladas no piano com influência dos anos 80 e do eletro-pop psicodélico. E acrescentou:
- Primeiro é preciso fazer as pessoas se viciarem na droga, e então você começa a mudar a droga. E aí eles acabam gostando.
Música
Rapper ILoveMakonnen faz sucesso online
Músico de Atlanta, Estados Unidos, conquista espaço através de parceria com Drake
GZH faz parte do The Trust Project