A provável chegada de uma nova leva de haitianos e senegaleses ao Rio Grande do Sul, que mobiliza e muitas vezes surpreende os órgãos responsáveis por organizar a acolhida, expõe a falta de coordenação no Brasil para receber os imigrantes que entram no país.
Eles chegam pelo Acre para depois tentar recomeçar a vida em cidades do Sul e do Sudeste. Porto Alegre espera 300 pessoas, em 10 ônibus, a partir desta quarta-feira, forçando prefeitura e governo a uma corrida contra o tempo para assegurar abrigo, alimentação e a busca de emprego para os estrangeiros.
Ônibus com haitianos e senegaleses deve chegar em Porto Alegre
Alojamento no Acre tem 600 haitianos e senegaleses
Porém, um ônibus que chegou no final da tarde de segunda-feira em Florianópolis, e que surpreendeu a prefeitura local, seguiu viagem para Porto Alegre, onde deveria chegar na madrugada passada. A bordo, estariam dois imigrantes vindos diretamente do Acre e outros nove que desembarcaram na noite passada na capital catarinense e prosseguiriam para o Sul.
A maior reclamação é a falta de coordenação do governo federal, que fez um convênio e repassou recursos para o Acre custear o transporte, mas até agora não acenou com qualquer auxílio aos Estados e cidades para onde se destinam. Há ainda a queixa pela comunicação truncada com governo do Acre, que não dá informações precisas sobre as viagens.
Ônibus com 25 senegaleses e 18 haitianos chegam a Florianópolis
Para tentar começar a reverter a situação, uma comitiva gaúcha se reúne quarta com o diretor do Departamento de Estrangeiros do Ministério da Justiça, João Guilherme Granja.
- Acreditamos que o ministério tem que repartir a verba que dispõe com os Estados para onde os imigrantes estão indo para atendermos melhor essas pessoas com um mínimo de planejamento - diz Sérgio Nunes, coordenador de Igualdade Étnica e Racial da Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos do Estado.
Porto Alegre se prepara para receber refugiados haitianos
Para o secretário municipal de Direitos Humanos de Porto Alegre, Luciano Marcantônio, um dos pontos que deveriam ser observados para decidir para onde os imigrantes serão direcionados é a existência de vagas de empregos. Segundo Marcantônio, uma empresa do ramo de estacionamentos já ofereceu cerca de 50 vagas para os imigrantes.
Estado recebeu 6 mil pessoas desde 2010
Também envolvida na questão, a defensora pública federal Fernanda Hann aponta falhas na organização dos estrangeiros a partir do momento em que cruzam a fronteira. Para ela, muitos chegam com contatos de conhecidos e familiares que já estão no Brasil, mas não conseguem expressar para onde querem ir e acabam em destinos errados:
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- Eles estão em situação de vulnerabilidade e pegam o primeiro ônibus que aparece sem saber para onde vão. Essa questão precisa ser federalizada para que consigamos pensar melhor esse fluxo, articulando com os Estados.
A expectativa da prefeitura, a partir de informações do governo do Acre, é que, entre quarta e quinta-feira, cheguem dois ônibus à Capital. Depois, mais oito veículos, engrossando o contingente de imigrantes haitianos e africanos que buscam vida nova no RS. Dados do governo gaúcho indicam que, desde 2010, quase 6 mil imigrantes se estabeleceram no Estado.
Com uma reclamação parecida, a prefeitura de São Paulo acertou semana passada acordo com o Ministério da Justiça e o governo do Acre para cessar o envio de haitianos para a capital paulista. Na cidade, o grupo se dirige à Paróquia Nossa Senhora da Paz, onde o padre Paolo Parise se tornou uma referência para os estrangeiros.