Uma multidão acompanhou o anúncio das reformas de base em 13 de março de 1964, no Rio de Janeiro. Mas o discurso do presidente João Goulart não agradou as Forças Armadas, nem setores conservadores da sociedade. A resposta veio seis dias depois, com outra multidão reunida na Marcha da Família com Deus pela Liberdade.
A história oficial diz que Jango caiu em 31 de março, mas há quem conteste, dizendo que o golpe foi em 1º de abril, "dia da mentira". Em 2 de abril, ele deixava o país e o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declarava oficialmente vaga a Presidência da República.
O comício na Central do Brasil é considerado o estopim para o golpe, mas o governo balançava há algum tempo. Jango era trabalhista, tinha sido ministro do Trabalho do governo Getúlio Vargas e era cunhado de Leonel Brizola. Além das relações, as diferenças ideológicas com Jânio Quadros, presidente que renunciou em 1961 e deixou o posto para Jango, despertavam na população a desconfiança de que ele pudesse implantar um regime socialista no Brasil, como explica a professora do curso de História da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Eliana Xerri.
"Com essa, entre aspas, desconfiança de ideais de cunho mais social por parte do Jango, a sociedade brasileira mais conservadora acaba então, de imediato, dando apoio ao golpe".
Caxias do Sul não ficou de fora da movimentação que mudava os rumos do país. Uma sessão extraordinária foi convocada na Câmara de Vereadores ainda no dia 1º para debater as mudanças. Dias depois, em 5 de abril, 30 mil pessoas foram às ruas, para comemorar a tomada de poder pelo Exército.
Presidente da União Caxiense dos Estudantes Secundaristas (Uces) em 1964, Guiomar Chies lembra que a imagem vendida na época era de que o Brasil sofria uma ameaça comunista.
"Havia um movimento muito forte da Tradição, Família e Propriedade, a TFP, da Igreja Católica e de outros partidos que não concordavam com a administração federal da época".
Em todo o país, prisões foram realizadas. O jornal Pioneiro de 11 de abril de 1964, mesma data da eleição de Castello Branco pelo Congresso Nacional, estampava na capa 20 nomes de presos remetidos para a Delegacia de Ordem Política e Social em Porto Alegre. Entre eles, Bruno Segalla, Henrique Ordovás, Darwin Corsetti e Luiz Pizzetti.
Dias depois, em 20 de abril, o vereador Percy Vargas de Abreu e Lima, da Aliança Republicana Socialista (ARS), que também havia sido preso, teve o mandato cassado. Mansueto Serafini era um dos colegas de Percy naquela legislatura. Ele não conseguiu votar contra, porque não estava no plenário no momento da votação.
"Estávamos no bar da Câmara eu, os vereadores Nadir Rossetti, Victor Faccioni, e outros, quando no plenário foi aprovada, a toque de caixa, a cassação, sem que houvesse a presença de vereadores lá".
A repressão estava apenas começando. O golpe de 1964 resultou em 21 anos de perseguições, prisões e torturas.
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