Um projeto de alfabetização que elevou em até 25% o desempenho de alunos da rede pública foi substituído no Estado. O que há pouco mais de seis anos era considerada uma aposta para melhorar a educação básica gaúcha é tida hoje como ultrapassada pelo governo. Em seu lugar, um programa federal dá os primeiros passos.
Em 2007, uma ação do governo estadual testou métodos de alfabetização de três organizações: o Grupo de Estudos sobre Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação (Geempa), o Instituto Alfa e Beto e o Instituto Ayrton Senna. Tratava-se de um projeto-piloto que, inicialmente, envolveu 8,6 mil alunos, de 410 turmas - 8% dos 109.588 estudantes que o Estado tinha no 1º ano do Ensino Fundamental.
Os resultados foram verificados após o primeiro ano. Os alunos que participaram da iniciativa fizeram uma prova, e o mesmo teste foi aplicado a estudantes de aulas tradicionais. A avaliação mostrou que o grupo do programa teve notas de 15% a 25% superiores ao do ensino tradicional. Os que tinham aulas convencionais conquistaram média 54,41 (insatisfatória), e os que participaram do projeto, médias entre 62,83 e 67,87, de nível regular. Mesmo assim, em 2011, com a troca de governo, as parcerias foram encerradas.
Atual secretário de Educação, Jose Clovis de Azevedo afirma que os métodos estavam ultrapassados. Também argumenta que o custo era alto em relação ao número de escolas atendidas. Conforme a SEC, em três anos foram gastos R$ 20 milhões para capacitar 500 professores e atender 9 mil alunos.
Hoje, vigora o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, programa federal que prevê alfabetizar todas as crianças até os oito anos de idade, ao final do 3º ano do Ensino Fundamental. A maior parte do investimento é feita pela União. O Estado é responsável pelo custeio de passagens, hospedagem e alimentação dos professores e orientadores de estudo que precisam se deslocar a encontros de formação em outros municípios. Em 2013, o RS investiu R$ 3,64 milhões na iniciativa, que incluiu 173.628 alunos das séries iniciais e 9 mil alfabetizadores.
- Substituímos por parcerias com universidades públicas, onde estão os pesquisadores. Não podemos privatizar a educação. Estes institutos não são órgãos de pesquisa, são vendedores de técnicas de ensino - diz Azevedo.
Métodos ainda são utilizados
Apesar do fim das parcerias para o uso de métodos alternativos de alfabetização, alguns professores, herdeiros da iniciativa, ainda levam as experiências testadas para a sala de aula. É o caso da professora Luciana Lago Nazari, que incentiva a leitura por meio de metas.
Ela atua na escola Estadual de Educação Básica Monteiro Lobato, em Passo Fundo, onde em 2007 foi testada a proposta do Instituto Ayrton Senna. A educadora relata não ser possível aplicar a metodologia completa, por falta de material, mas incorporou a proposta em sua rotina:
- A educação precisa ter metas.
Ex-diretora adjunta do setor pedagógico da Secretaria da Educação (SEC), Sônia Bier garante que a presença de um método claro se mostrou favorável à alfabetização:
- O projeto-piloto mostrou que é preciso ter um método. Um professor que vai para a sala de aula sem uma metodologia corre o risco de criar lacunas e isso é prejudicial aos alunos.
Para a professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Passo Fundo (UPF) Adriana Dickel, os métodos dos institutos não são ultrapassados, mas não levam em conta a diversidade de crianças que chega ao 1º ano:
- Professores que trabalham com propostas próprias conseguem resultados até melhores do que com as metodologias pré-estabelecidas.