Parte da história de Porto Alegre saltou aos olhos de funcionários que trabalhavam ontem na obra de duplicação da Avenida Edvaldo Pereira Paiva (Beira-Rio), próximo à Usina do Gasômetro. E ela estava logo abaixo do solo, a apenas 40 centímetros da superfície. Alicerces da Casa de Correção, antiga cadeia da Capital, foram encontrados pela empresa contratada pela Secretaria Municipal de Obras e Viação (Smov).
Os vestígios arqueológicos estão na Praça General Salustiano, entre as ruas Duque de Caxias e Riachuelo. As robustas colunas de pedra datam do século 19 (leia abaixo). Segundo Alberto Tavares, arqueólogo que acompanha a obra, vestígios semelhantes haviam sido localizados em 2010.
- Nossa função é registrar e monitorar a obra para que se tenha o menor impacto possível sobre o patrimônio arqueológico - explica.
Das entranhas da terra, ontem, saíram apenas parte dos alicerces. Nos próximos dias, é possível que surjam objetos metálicos, louças e vidros. As amostras devem ser encaminhadas ao Museu de Porto Alegre Joaquim Felizado. Segundo técnicos da Smov, a descoberta não atrapalha o ritmo das obras de duplicação da avenida.
MEMÓRIA DE PORTO ALEGRE
Antiga cadeia foi demolida na década de 1960
- A Casa de Correção de Porto Alegre, também conhecida como Cadeia Civil, começou a ser construída em 1852, às margens do Guaíba, para substituir a "Cadeia Velha" - que ficava no Beco ou Travessa da Cadeia, hoje conhecida como Avenida Salgado Filho.
- O prédio foi tão importante para a cidade que passou a ser referência geográfica: a Ponta da Cadeia. Em 1855, recebeu os primeiros presos.
- Com o passar das décadas, especialmente na Primeira República, a Correção foi ampliada com a construção de oficinas industriais. Seus produtos de marcenaria tinham boa reputação.
- A partir dos anos 1940, mal conservada e pequena para a população carcerária que aumentava, a Casa de Correção começou a ser um tema polêmico na Capital. Uma campanha pregava sua demolição.
- Em 30 de novembro de 1954, o prédio pegou fogo. A cadeia abrigava então 1.089 detentos.
- A estrutura foi dinamitada no início da década de 1960.