O empresário Oskar Coester testemunhará neste sábado uma cena pela qual aguarda há mais de 35 anos.
O inventor do aeromóvel verá o veículo A100, com capacidade para 150 passageiros, ser içado para a via elevada construída entre o trensurb e o Aeroporto Salgado Filho.
- Sonhar é bom. Realizar o sonho é melhor ainda - comemora o pelotense de 74 anos.
A partir do posicionamento do aeromóvel no trilho de um quilômetro de extensão, Coester dará início às calibragens necessárias para colocar o veículo em operação. Ajustará os sistemas de freio, de ar-condicionado, de propulsão, de automação. Em junho, se não ocorrerem imprevistos, inaugurará a primeira linha comercial de seu invento no Brasil.
Para Coester, será o final feliz de uma novela cheia de percalços e momentos difíceis:
- É um prêmio pelo qual eu nem esperava mais. O caminho foi muito tortuoso, muito difícil. Comemos o pão que o diabo amassou. No dia da inauguração, vou ter de tomar uma injeção de calmantes.
Fabricado no Rio de Janeiro, o A100 está sendo transportado para Porto Alegre desde a terça-feira. Ele chegará hoje a Osório.Sábado pela manhã, entrará em Porto Alegre e será colocado no lugar definitivo. Um segundo veículo, com o dobro da capacidade, virá a seguir. O projeto ligando a estação da Trensurb ao Terminal 1 do aeroporto custará R$ 37,8 milhões.
Curiosamente, essa história nasceu também em um aeroporto, há mais de meio século. Coester era funcionário da Varig quando a companhia passou a oferecer voos de apenas uma hora e meia entre Porto Alegre e o Rio. Ele ficou espantado ao constatar que depois de chegar ao aeroporto fluminense é que se iniciava a viagem mais longa, até a cidade. A partir dali, começou a pesquisar um meio de transporte capaz de facilitar os deslocamentos urbanos.
- Eu queria um sistema que transportasse gente, não peso morto. Um automóvel pesa mil quilos. Uma pessoa pesa 70 quilos. A ocupação é em média de 1,2 passageiro por veículo, menos de cem quilos. Ou seja, os carros levam menos de 10% de carga útil. Por isso, imaginei um charutinho de alumínio bem leve, em via elevada. Então comecei a me perguntar: como faço para isso andar? - conta o empresário.
Depois de anos de estudos e leituras, Coester encontrou a resposta. Lembrou dos barcos a vela e imaginou um veículo em que a vela ficasse na parte inferior, dentro de uma tubulação com vento. Foi assim que nasceu o aeromóvel, o veículo movido a ar.
A partir do primeiro protótipo, de 1977, o projeto foi de vento em popa. O Ministério dos Transportes se entusiasmou, a UFRGS virou parceira, uma via de 750 metros foi construída na zona sul da cidade para testes. Em 1980 começou a construção da linha inaugural de Porto Alegre, que sairia da Loureiro da Silva e chegaria à Praça da Alfândega.
- Em 1982, mudou o governo e o novo ministro achou que era uma bobagem. Foi um desastre. Foi difícil - conta Coester.
A via já construída, na Loureiro da Silva, ficou relegada à condição de pista de testes. Até hoje, o inventor conseguiu implantar seu invento apenas na longínqua Indonésia. Em abril de 1989, ele viajou ao país asiático para a inauguração de uma linha circular de 3,2 quilômetros, ainda em operação. Teve uma sensação estranha:
- Estava eu dentro do veículo, sentado com o embaixador do Brasil, com o presidente do país e com convidados. Então o aeromóvel começou a andar e eu pensei: o que um cara de Pelotas está fazendo aqui? Por que no Brasil eu não consegui levar isso para a frente?
Nestes últimos meses, com o projeto de sua vida prestes a virar realidade na cidade onde ele deu os primeiros passos, Coester tem sido figura constante no canteiro de obras, acompanhando cada passo. Escaldado por décadas de frustrações, segue cauteloso.
- Só depois que estiver tudo operando direitinho eu vou dizer: agora deu - diz.