Guitarrista do grupo Gurizada Fandangueira, Rodrigo Martins, 32 anos, ferido no incêndio, refugiou-se em casa, em Rosário do Sul, e foi o único integrante da banda a conceder entrevista. O grupo passava por uma fase de reconhecimento do público e lançava o CD O Som Que o Povo Gosta.
Zero Hora - O que ocorreu na boate?
Rodrigo Martins - A gente começou a tocar. Na quinta música, usamos o sputnik (sinalizador). Na metade da música seguinte, eu vi que começou a pingar e, quando olhei para o teto, tinha uma chama na espuma. Pareciam umas aranhazinhas se mexendo.
ZH - Quem acionou o sinalizador?
Martins - Foi o auxiliar de palco, com um controle remoto. Foi na hora do gaitaço, para produzir um efeito. O sputnik fica no chão e produz uma chama de mais ou menos 1m70cm. Nunca houve problema.
ZH - Vocês já haviam usado o equipamento antes?
Martins - Sim, a gente sempre usava. Até em lugares menores.
ZH - O que aconteceu depois que você viu a chama?
Martins - Os guris jogaram água, mas não adiantou. Depois, um segurança tentou apagar com um extintor, mas o extintor não funcionou. Aí, a gente saiu.
ZH - Vocês conseguiram sair logo?
Martins - Foi um pesadelo. A fumaça logo se espalhou. O pessoal que estava na frente, as gurias, nossas fãs, se salvaram, porque saíram logo. Mas eu cheguei a ser atropelado e inalei fumaça. Caí, pisaram no meu pescoço, nos braços. Vi gente agonizando.
ZH - Vocês ajudaram a salvar alguém?
Martins - Sim, tiramos muita gente. Fizemos o que foi possível.
ZH - E o integrante da banda que acabou morrendo? O que aconteceu?
Martins - Eu não vi, mas disseram que ele conseguiu sair e depois voltou para pegar a gaita. Não voltou mais.
ZH - Vocês se sentem culpados por terem usado o sinalizador?
Martins - Sou empregado da banda e nunca gostei muito disso, porque a fumaça me incomoda. Mas não acredito que o sinalizador foi a causa da tragédia. Acho que foi um curto-circuito ou algo assim. Querem culpar a banda. Mas nem o extintor funcionou. A boate não estava em condições.
ZH - Você pretende voltar a tocar?
Martins - Acredito que não. Vou viver com a minha família.
A tragédia
O incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna.
Sem conseguir sair do estabelcimento, mais de 200 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.
A tragédia, que teve repercussão internacional, é considera a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos útimos 50 anos no Brasil.
Veja onde aconteceu
A boate
Localizada na Rua Andradas, no centro da cidade da Região Central, a boate Kiss costumava sediar festas e shows para o público universitário da região. A casa noturna é distribuída em três ambientes - além da área principal, onde ficava o palco, tinha uma pista de dança e uma área vip. De acordo com o comando da Brigada Militar, a danceteria estava com o plano de prevenção de incêndios vencido desde agosto de 2012.
Clique na imagem abaixo para ver a boate antes e depois do incêndio A festa
Chamada de "Agromerados", a festa voltada para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) começou às 23h de sábado. O evento era de acadêmicos dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária, Tecnologia de Alimentos, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia. Segundo informações do site da casa noturna, os ingressos custavam R$ 15 e as atrações eram as bandas "Gurizadas Fandangueira", "Pimenta e seus Comparsas", além dos DJs Bolinha, Sandro Cidade e Juliano Paim.
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Entrevista
"Foi na hora do gaitaço, para produzir um efeito", conta guitarrista sobre início de incêndio em boate
Por telefone, Rodrigo Martins comentou a tragédia e a morte do amigo Danilo Jaques, 28 anos, gaiteiro oficial da banda
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