O prédio da Confeitaria Rocco, uma das construções mais bonitas do centro da Capital, está completando hoje cem anos.
Vazio e fechado, o edifício está prestes a ser reativado como um importante elo entre o presente e uma época memorável do passado da cidade.
Em processo de desapropriação pela prefeitura - que está negociando com os diversos herdeiros e suas famílias um preço adequado - desde que, em 6 de janeiro de 1997, foi aprovado o seu tombamento, a Confeitaria Rocco aguarda o momento de voltar a brilhar. Assim que essa etapa estiver concluída, é intenção das autoridades municipais buscar, por meio de licitação, uma parceria público-privada capaz de revitalizar o tradicional endereço do número 1 da Rua Riachuelo. Quem assumir o negócio será obrigado a reabrir, no térreo, uma confeitaria com o mesmo nome da original - que foi um dos grandes pontos de encontro da sociedade porto-alegrense, especialmente na primeira metade do século 20.
A história começou quando o italiano Nicola Rocco (1861-1932), depois de trabalhar na famosa Confeitaria El Molino, de Buenos Aires, chegou aqui e, em 1892, fundou a Confeitaria Sul América. O sucesso permitiu sonhos mais altos: em 1910, ele decidiu que faria uma nova e exclusiva casa, na Praça do Portão (antigo nome da atual Praça Conde de Porto Alegre, em frente ao edifício). Com projeto dos arquitetos Salvador Lambertini e Manoel Barbosa Assumpção Itaqui, Nicola pôde, orgulhoso, inaugurar sua nova confeitaria em 1912.
A Confeitaria Rocco obedeceu ao gosto da época. Foi concebida em estilo eclético, com elementos de composição e decoração de fachadas profusamente ornamentadas e baseadas na arquitetura e na mitologia clássica greco-romana. Destaca-se pela monumentalidade e pelos simbolismos diversos, influenciados pelas ideias positivistas. A fartura, a abundância, a natureza e a luz, por exemplo, são representadas por esculturas portando guirlandas com frutas ou tochas erguidas ao alto.
Apresentação de dança e abraço simbólico vão celebrar o aniversário
Mas nem os musculosos atlantes que sustentam o peso dos balcões, com seus gradis de ferro fundido, foram capazes de suportar a decadência e a inexorável passagem do tempo: em 1968, a Confeitaria Rocco fechou. Nesta quinta-feira, a memória da casa será lembrada com manifestações em frente ao prédio, às 18h. Haverá uma apresentação de tango, e a Academia Rio-Grandense de Letras - que reivindica o uso do prédio - convoca a população a realizar um bolo vivo, em que os cidadãos acenderão velas para abraçar simbolicamente a confeitaria.
A qualidade excepcional da arquitetura, como enfatiza o coordenador de Memória Cultural da Prefeitura de Porto Alegre, Luiz Antônio Bolcato Custódio, justifica plenamente qualquer esforço para sua preservação. O trabalho de revitalização do Centro Histórico vai ganhar um grande impulso na hora em que a Confeitaria Rocco voltar a abrir suas portas. É com grande esperança que todos nós aguardamos esse doce momento.