David Byrne não chegou a cantar uma nota sequer, mas a música acompanhou sua apresentação hoje, na Flip - ao menos, no início, quando foi exibido um clipe com belas cenas de filmes com personagens famosos (Tony Curtis, Buster Keaton, Paul Newman, etc.) andando de bicicleta, ao som de uma canção adorável composta por ele. Ciclista notório, Byrne veio ao Brasil para um congresso de sustentabilidade e foi esse o seu assunto em Paraty que, no sábado, conheceu um pouco pedalando.
O ex-líder da banda Talking Heads exibiu fotos que fez de diferentes cidades que conheceu de bicicleta. Nesse longo passeio, destacou lugares como Berlim, Amsterdã e Ferrara, na Itália, como exemplares na facilidade de acesso. Do outro lado da moeda, criticou localidades americanas, especialmente Los Angeles, onde as largas avenidas impossibilitam a integração humana.
- O curioso é que existe uma área de lojas de luxo, chamada Rodeo Drive, que simula uma rua por onde as pessoas circulam a pé. É compreensível, uma vez que não podem fazer isso nas ruas verdadeiras. - ironizou.
Byrne mostrou também uma foto de São Paulo, justamente um clique da infinidade de prédios. O músico, no entanto, foi condescendente com a maior metrópole da América do Sul.
- São Paulo me surpreendeu por ter mais potencial. Tem mais verde do que parece, é mais eficiente e, apesar do tráfego pesado, demonstra ser uma cidade com mais possibilidades de melhora - disse.
Curiosamente, na entrevista coletiva que concedeu no sábado, Byrne confessou que não teria coragem de andar de bicicleta na capital paulista.
Ele lembrou também do exemplo de Curitiba, pioneira na criação de corredores de ônibus, e de ações agregadoras, como a do AfroReggae, que ajudou a tornar mais civilizada a vida em uma favela por meio da arte e da música.
- Uma medida semelhante à da cidade espanhola de Bilbao, que, por outro lado, consumiu mais dinheiro.
Byrne destacou ainda as vantagens específicas de se passear de bicicleta - quando pedalava por uma rodovia perto de Utrecht, na Holanda, por exemplo, descobriu um prostíbulo flutuante, instalado sobre um rio.
- Eu jamais teria notado isso se estivesse viajando de carro - comentou.
Os locais em que verificou o respeito máximo com ciclistas não surpreendem: Copenhagen, Berlim, Amsterdã, cidades mais abertas às pessoas e com alternativas de transporte, como bondes.
- Mas não foi sempre assim. Em Copenhagen, por exemplo, a população inicialmente foi contra limitar o uso de carros e, apenas quando uma área onde antes funcionava um estacionamento foi transformada em praça, estimulando o comércio, é que a medida convenceu os habitantes - comentou.
Na Flip, músico David Byrne critica modelo urbanístico não sustentável
Ex-líder do Talking Heads falou das vantagens de pedalar
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