Passado um ano dos Jogos Olímpicos e o Brasil corre para ocupar e dar utilidade à mais cara e brilhante joia daquelas duas semanas. O Parque Olímpico da Barra da Tijuca, coração do evento e lar de suntuosas arenas, ainda não é um local integrado à cidade e plenamente utilizado pela população. Culpa de um planejamento mal feito.
Muito se falou antes dos Jogos que a iniciativa privada assumiria o Parque, que teve custo total de R$ 7 bilhões. O plano era simples: seria firmada uma parceria público-privada e a empresa faria a gestão do local, sem custo para os cofres públicos. Com a crise econômica, porém, faltaram interessados no local. E a prefeitura do Rio, com gravíssimos problemas financeiros, ficou com a missão de administrar.
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Passados alguns meses dos Jogos e os sinais de abandono eram evidentes. A situação do Parque ganhou evidência em reportagem da TV Globo, que mostrou a água suja que se acumulava na área onde ficava a piscina de aquecimento, do lado de fora do Estádio Aquático, entre outros indícios de falta de manutenção.
– O que se verificou é que não houve um documento específico e formal de planejamento do Plano de Legado e do Plano do Uso de Legado, detalhando os equipamentos esportivos e complexos esportivos adquiridos e construídos com verbas públicas, identificando o ente público ou privado responsável pela destinação de cada empreendimento, seus custos previstos de manutenção, a forma de gestão de cada empreendimento, sua finalidade após a realização dos Jogos Olímpicos e os benefícios esperados – afirma o procurador do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, Leandro Mitidieri.
O resultado foi constatado pelo próprio Ministério do Esporte, em relatório ao qual a Revista Veja teve acesso. A pasta assumiu, em dezembro passado, quatro arenas antes sob gestão da prefeitura. O documento aponta os problemas das instalações, que incluem infiltrações, corrosão, materiais cortantes no chão das quadras, fiação elétrica exposta, pisos e portas danificados.
O desafio das autoridades é ocupar o local. Não ajuda o fato de que a prefeitura só abre as instalações ao público nos finais de semana. A preocupação tem sido de sediar o máximo de eventos possível nas arenas, de modo a movimentá-las e atrair o interesse da iniciativa privada.
– Desde que assumimos, sediamos 15 eventos, temos 18 já confirmados e 40 sendo analisados. Entendo que, a partir do momento que a gente começar a ocupar, a iniciativa privada passa a se interessar na exploração financeira, trazendo benefícios – avalia Paulo Mello, presidente da Autoridade para Governança do Legado Olímpico (AGLO), autarquia ligada ao Ministério do Esporte que gere o Centro Olímpico de Tênis, o Velódromo e as Arenas Cariocas 1 e 2.
A utilização para eventos recebe ressalvas do MPF-RJ, que cita que a ideia é "atrair eventos que antes eram realizados em outros centros ou pavilhões de eventos da cidade". A crítica indica que o Parque não traz, até agora, novas opções à cidade. Mello discorda e cita a utilização do local para treinamentos de alto rendimento e projetos de inclusão social.
O desafio, agora, é criar o maior número de alternativas de utilização para o Parque. A AGLO planeja, por exemplo, lançar o Museu Nacional do Esporte, que estava previsto inicialmente no Velódromo, mas está sob análise diante do incêndio que consumiu o local na semana passada. Enquanto isso, a autarquia e a prefeitura buscam movimentar as arenas e tentar reproduzir, diariamente, ao menos um pouco da mágica das duas semanas de agosto passado.
COMO ESTÃO AS ARENAS DO PARQUE OLÍMPICO
CENTRO OLÍMPICO DE TÊNIS
Gestão: AGLO
Situação: recebeu competições importantes do vôlei de praia. Estruturas temporárias utilizadas nos Jogos foram desmontadas.
VELÓDROMO
Gestão: AGLO
Situação: uma sala de visitação foi montada no local e já recebeu excursões de colégios. O Rio Bike Fest, evento aberto de passeio ciclístico, recebeu cerca de 500 participantes no local. Há planos de montar o Museu Nacional do Esporte na arena, mas o incêndio no teto pode prejudicar a ideia.
ARENA CARIOCA 1
Gestão: AGLO
Situação: recebeu o basquete nos Jogos Olímpicos e hoje comporta 6.500 espectadores. Tem sido utilizada para eventos esportivos.
ARENA CARIOCA 2
Gestão: AGLO
Situação: receberá adequações para fazer parte de um centro de treinamento.
ARENA CARIOCA 3
Gestão: prefeitura do Rio
Situação: tem recebido eventos esportivos e há planos de transformá-la em uma escola voltada para o esporte, o Ginásio Experimental Olímpico.
ARENA DO FUTURO
Gestão: prefeitura do Rio
Situação: plano era de desmontá-la, usando o material para construir escolas públicas. Recentemente, a prefeitura solicitou extensão do prazo, que ia até 31 de julho, para a desmontagem. Segundo o jornal Extra, o Rock in Rio ajuda a pagar a manutenção e usa as estruturas como base para a preparação dos shows, que acontecerão em setembro na região.
PARQUE AQUÁTICO
Gestão: prefeitura do Rio
Situação: as piscinas já foram removidas, mas o estádio não foi desmontado, como foi planejado. O Rock in Rio também usa as estruturas. O projeto, após a desmontagem, é transferir os materiais para outros pontos do Rio para utilização em centros de treinamento.
* ZH Esportes