O paulista Rodrigo Garcia é o responsável por fazer o elo entre a organização dos Jogos e as Federações Internacionais de cada modalidade. Diretor de esportes do Comitê Rio 2016, ele conversou por telefone com ZH e fez uma avaliação dos eventos-teste realizados até aqui.
Apesar de uma ou outra questão relacionada às instalações, os eventos-teste tiveram poucos problemas relacionados à operação. É um motivo de comemoração para vocês?
A gente comemora, mas, ao mesmo tempo, é um ponto de atenção. Temos uma equipe experiente, alguns que já trabalharam na Copa do Mundo, nos Jogos Pan e Parapan-americanos. Gente que vem de federações e confederações com larga experiência em eventos. Mas a gente não pode relaxar em relação a isso. Esse é o centro da nossa entrega. Tecnicamente, é isso que a gente testa. Reforçamos que é onde não podemos cometer erros, a não ser que seja um erro em algo que estamos testando. Ficamos felizes de ver que os eventos estão acontecendo sem nenhum grande percalço, mas não relaxamos. Temos todo um processo de avaliação após cada evento para melhorar.
No ciclismo BMX, os atletas reclamaram que a pista estava perigosa. Depois das adaptações, a chuva impediu que o evento fosse realizado. Como vocês avaliaram esses problemas?
Apesar das questões que surgiram, o que era um grande problema para a gente, conseguimos transformar também em uma grande oportunidade de teste. Em 14 horas, conseguimos fazer adaptações mínimas necessárias na pista para que a gente pudesse ter um evento-teste. Infelizmente, como choveu, não pudemos fazer. Mesmo em uma situação de risco como essa, a gente busca alternativas que já vinham sendo planejadas. Para todo evento, existe um levantamento de risco, para saber onde pode acontecer alguma coisa e já ter um plano emergencial para cada situação.
Veja imagens dos eventos-teste
Na vela, houve atletas que tiveram o desempenho prejudicado por sacolas plásticas que se prenderam aos barcos. A poluição da Baía de Guanabara segue sendo um ponto de preocupação?
Tudo que interfere no desempenho do atleta, para nós, é preocupação máxima. A gente planeja os Jogos para entregar um nível de instalação olímpica em que os atletas possam ter o melhor desempenho. A instalação tem de estar da melhor forma. No caso da vela, a gente sabia de todos os riscos que poderíamos ter. A gente vem trabalhando, junto com os entes governamentais, com ações mitigatórias. Se você for hoje à Baía de Guanabara, vai encontrar um cenário que não vai ser o mesmo durante os Jogos. Pelo simples fato de que estamos no verão, então temos mais chuva, e um acúmulo maior de lixo nos afluentes da Baía. Mas, além disso, também as ações mitigatórias que são temporárias não estão sendo realizadas agora porque existe um custo, um prazo de validade de ocorrência. O governo do Estado vem investindo nessa parte de contenção do lixo flutuante, mas a gente intensifica próximo do evento para termos uma qualidade de área de competição que não interfira na performance dos atletas.
Houve também reclamações em relação às algas na Lagoa Rodrigo de Freitas.
No caso da canoagem, do remo, a Lagoa tem uma característica de crescimento de algas. A gente não pode, como escutamos nos eventos-teste, arrancar todas as algas. A alga é o que filtra a água dentro da Lagoa. O que temos de fazer é um controle, uma poda da alga que cresce naturalmente. Isso foi planejado, aconteceu um pouco do planejamento dos Jogos no evento-teste de remo. Tivemos um aumento do calor inesperado para a época do evento-teste da canoagem, e aí teve um crescimento exagerado das algas, junto com um erro nosso, do Rio 2016, e também da prefeitura, em um equipamento que faz a poda das algas. Isso já está corrigido, e nos Jogos não deve acontecer.
Como vocês enfrentam as críticas ao sistema de ar condicionado do Riocentro, que gerou reclamações por desviar a trajetória da peteca no evento-teste do badminton?
No caso do Riocentro, tivemos aqui o melhor atleta do mundo de badminton. Ele nos deu esse retorno. Falou que a peteca estava diferente, variando a velocidade. A gente já sabia que o evento-teste servia para a gente avaliar essa situação. A Federação Internacional vinha, há dois anos, solicitando um estudo, e a gente dizia que não adiantava ligar o ar condicionado e medir a velocidade do vento, porque isso não é a realidade da competição. Queríamos fazer isso justamente no evento-teste, para corrigir para o evento principal. É o caso de todos os pavilhões do Riocentro. Fizemos, durante o evento-teste, várias medições. A Federação Internacional trouxe um consultor para avaliar a ventilação do Riocentro. Temos, agora, um projeto de adaptação e de como vamos trabalhar os dutos de ventilação. Ele vai ser apresentado agora para a Federação Internacional, foi apresentado nessa semana para o COI. Aí implementamos o projeto para não termos problemas durante os Jogos. Mesmo assim, o tênis de mesa, o badminton, ainda têm um componente que é o julgamento do atleta, que é um pouco subjetivo. Alguns atletas têm uma certa preferência. Então a gente tem de ser muito claro. Estamos nos cercando de toda a informação técnica possível para, caso haja um embate em relação a isso, mostrarmos o que foi feito e provarmos que estamos de acordo com a Federação Internacional. Agora, o mais legal para a gente foi ver que tivemos aqui os melhores atletas do mundo, podendo opinar e trabalhar com a gente. Não temos outras oportunidades como essa.
No evento-teste do hipismo, falou-se insistentemente da epidemia de mormo, doença que poderia ameaçar a saúde dos cavalos. Como vocês enfrentam essa situação?
O mormo não tem uma relação direta com a nossa operação e do teste que estávamos fazendo no evento-teste, mas tem toda relação com nosso protocolo zoo-sanitário, de como vamos receber os cavalos que vêm de fora. Foi muito discutido isso na época porque a gente tinha o problema latente. A federação estava muito preocupada, as equipes também. Mas já tomamos todas as medidas cabíveis para que a gente possa isolar a área de Deodoro, o que já era o planejamento inicial. No momento do evento-teste, a instalação já estava dentro de um período quarentenário, em que não teria a possibilidade de que um cavalo entrasse lá e fosse infectado pela instalação. Essa é a grande preocupação. Para nós, foi até uma coisa chata, porque tivemos de responder mais perguntas sobre o mormo do que sobre a instalação, que é belíssima. Sobre a performance dos atletas, sobre o que estamos trazendo de diferente, como os obstáculos que retratam o Brasil. Muita gente ainda não conhece o Concurso Completo, que é uma das provas da equitação. Durante os Jogos vamos fazer um esforço de divulgação.
Veja a avaliação dos eventos-teste realizados em 2015
Confira o calendário dos eventos-teste de 2016
* ZH Esportes