Em 2023, o Relatório da Discriminação Racial no Futebol identificou 250 casos de racismo no esporte. Com destaque para o futebol e os episódios que envolvem atletas brasileiros no Exterior.
Essa foi a maior quantidade de incidentes verificados, em um único ano, desde o início do monitoramento do Observatório da Discriminação Racial no Futebol. Mesmo assim, de acordo com o relatório, os números representam “a ponta de um iceberg”, pois são reunidos e identificados somente os casos divulgados na mídia.
— O nosso objetivo é conseguir falar sobre racismo no futebol para além de um caso, então para isso a gente lança o relatório anual da discriminação racial no futebol, que apresenta as denúncias de racismo de cada ano e vai provocando clubes, empresas, federações e outras entidades para que a gente consiga levantar essa pauta para além de casos de racismo — afirma Marcelo Medeiros Carvalho, diretor-executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.
Com 10 anos de atuação, o projeto monitora, acompanha e noticia casos de racismo no esporte brasileiro.
— Eu acredito que a maior importância do Observatório foi responder uma pergunta que surgiu lá em 2014, no ano em que o Brasil foi sede da Copa do Mundo, que era se os casos de racismo no futebol eram esporádicos ou não. O Observatório respondeu essa pergunta: os casos de racismo no futebol acontecem com frequência — ressalta.
Novembro negro
Na entrevista coletiva após a vitória do Inter sobre o Fluminense, no dia 8/11, Roger Machado, único técnico negro da Série A, falou sobre o Dia da Consciência Negra e o impacto do racismo no futebol. O pronunciamento viralizou e gerou reflexões nas redes sociais.
— É importante que a gente tenha pessoas negras nesses espaços de gestão para que elas falem sobre discriminação racial e a necessidade desse diálogo. Mas, ao mesmo tempo, muitas vezes a gente vai forçar com que essas pessoas falem e a gente acaba não entendendo que existe toda uma uma cadeia do futebol e que, às vezes, ela não está preparada para esse diálogo — aponta o diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.
De acordo com Carvalho, falar sobre racismo é também incentivar que pessoas não negras falem debatam discriminação racial.
— Não só em novembro, mas no dia a dia, a cada ato de racismo, a gente precisa que pessoas não negras estejam junto nessa corrente para que o agressor seja punido, para que os clubes incentivem mais e que pessoas pretas estejam nesses espaços para além das quatro linhas — defende.
*Produção: Gabriela Ferreira