Jornalista, comentarista esportivo, escritor, professor. Ruy Carlos Ostermann completa, nesta quinta (26), 90 anos de uma vida baseada em diferentes talentos.
O profissional que marcou época na imprensa brasileira ainda mora no bairro Petrópolis, em Porto Alegre. Atualmente, está mais recluso. Segundo a filha Cristiane, o pai segue lúcido, com falhas de memória naturais para alguém que viveu tanto e de forma tão intensa.
Entretanto, da trajetória pessoal e profissional, nada de importante se perderá. A comemoração do aniversário está acompanhada do início da pré-venda do livro Ruy Carlos Ostermann - Um Encontro com o Professor, escrito pelo jornalista Carlos Guimarães. A biografia pode ser adquirida neste site.
— As pessoas conhecem muito o Ruy mito, o professor. Existe, por trás, um pai super carinhoso e um cara com gosto pelas coisas da vida. O livro traz a parte humana do Ruy. O que muitas pessoas vão esperar é a revelação do time dele, se está no livro. O que, obviamente, não direi, porque é um spoiler precioso. Mas o que os leitores mais vão gostar é ver que a história do Brasil, ao menos da década de 1930 para cá, passa pelo livro. O Ruy está inserido nela — comenta Guimarães.
Trajetória
Ruy Carlos Ostermann foi muito além de um comentarista esportivo famoso. Até hoje, permanece na lembrança de ouvintes e leitores porque foi único na maneira de atuar. Trouxe para o trabalho jornalístico a visão reflexiva da Filosofia, área na qual é formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Em 1962, deu o pontapé inicial na carreira de cronista, na Companhia Jornalística Caldas Júnior, escrevendo para os jornais Folha da Manhã e Folha da Tarde. Depois de passar também pela Rádio Guaíba, chegou à Rádio Gaúcha em 1978 para chefiar o Departamento de Esportes.
O gaúcho de São Leopoldo, no Vale do Sinos, rompeu fronteiras. Ganhou o mundo duas vezes com a dupla Gre-Nal, em 1983 e em 2006. Coberturas de Copas do Mundo foram 13, de 1966, na Inglaterra, a 2014 no Brasil, quando fez suas últimas participações como comentarista na Gaúcha, em jogos da Seleção Brasileira e em partidas disputadas por outros países no Beira-Rio, em Porto Alegre.
A voz calma e bem articulada descrevia o jogo de futebol para os ouvintes como um professor explica uma disciplina para seus alunos. Estratégia, por certo, dos tempos em que lecionou filosofia no Colégio Israelita Brasileiro e no Colégio João XXIII, na Capital. A personalidade serena, contudo, tornava-se enérgica nos debates do Sala de Redação, programa que mediou por cerca de três décadas.
— Ruy havia revolucionado o comentário esportivo durante a Copa da Inglaterra, em 1966, ponderando prós e contras, sem deixar de reconhecer os méritos dos adversários. No trabalho que realiza desde então, embasa seus argumentos, analisando a partida pelo número de arremates a gol, de chutes, de jogadas bem ou mal finalizadas, de escanteios cobrados ou cedidos, de faltas. Enfim, uma série de detalhes cuidadosamente planilhados que podem ser resumidos em uma única palavra: informação. Bacharel em Filosofia, leva bagagem cultural ao ambiente esportivo, sem deixar de conferir caráter jornalístico a suas opiniões — escreveu o doutor em Comunicação e Informação e professor da UFRGS, Luiz Artur Ferrareto, no blog Uma História do Rádio no Rio Grande do Sul, em 2014.
Nas páginas de Zero Hora, tornou-se hábito de leitura na coluna Gol de Letra. A habilidade nas palavras transpuseram as páginas dos jornais e dos sites e foram para os livros, 11 escritos por ele, no total.
A suas opiniões reverberavam como um gol. Comentários fortes e estruturados que o levaram a participar, por diversas vezes, de programas nacionais, como o Bem Amigos, apresentado por Galvão Bueno, no SporTV.
— O comentário esportivo brasileiro se divide em antes e depois de Ruy Carlos Ostermann — define o ex-comentarista esportivo e apresentador da Rádio Gaúcha Lauro Quadros, contemporâneo de Ruy.
Sofisticado, ponderado, crítico e, até hoje, sem revelar o time do coração. Mesmo assim, foi popular. Tão conhecido das pessoas que acabou eleito deputado estadual duas vezes, em 1982 e 1986, chegando a comandar, mais tarde, as secretarias estaduais de Ciência e Tecnologia e de Educação do Rio Grande do Sul no governo de Pedro Simon.