Depois de surpreender o Brasil, no Mineirão, com um estrondoso 7 a 1, em 7 de julho de 2014, a Alemanha confirmou o título de tetracampeã mundial da Copa do Mundo perante a Argentina em pleno Maracanã. Desde então, apesar do relativo favoritismo nos dois torneios seguintes, os europeus decepcionaram ao não ultrapassar a fase de grupos na Rússia, em 2018, e no Catar, em 2022. GZH apresenta justificativas para os fracassos.
Na Ásia, a Alemanha abriu a fase de grupos sofrendo uma virada por 2 a 1 para o Japão. Depois, diante da Espanha, conseguiu o empate em 1 a 1 com um gol nos instantes finais. Na última quinta-feira (1º), conseguiu a única vitória no Catar, contra a Costa Rica, mas que não serviu para alcançar a pontuação necessária para avançar na competição.
Segundo o Bild, principal jornal esportivo alemão, "a equipe carece de líderes" é o primeiro diagnóstico realizado. Joshua Kimmich, de 27 anos, estrela do Bayern de Munique, não conseguiu dominar o meio-campo e o vestiário.
— Hoje é o pior dia da minha carreira. Tenho medo de cair em um buraco! Isso faz você pensar, essas falhas estão ligadas à minha pessoa. E isso não é algo que você queira defender — relatou o atleta após a segunda desclassificação precoce em mundiais.
Sobre a falta de liderança, o noticiário destaca que campeões anteriores não conseguem exercer o papel nem manter o bom nível anterior. São citados atletas como Manuel Neuer e Thomas Müller, ambos também do Bayern, com respectivamente de 36 e 33 anos, além de Gündogan, de 32, do Manchester City, atual campeão inglês. Da nova safra, Goretzka também não teve bom rendimento, afirma o Bild.
Aposta do treinador Hans-Dieter Flick para tentar marcar gols, Niclas Füllkrug, atacante do Wolfsburg, sonhava com o penta. Para ele, o grupo ainda não estava pronto para a conquista:
— Tive a sensação de que era um time que queria muito o sucesso, mas não estava 100% pronto para isso — revelou o centroavante.
Já para Gerd Wenzel, jornalista alemão que trabalha na imprensa brasileira, atualmente no OneFootball, Colunista do portal Deutsche Welle e no podcast Bundesliga no Ar, a responsabilidade precisa ser dividida. O técnico apresentou instabilidade nas decisões e modelo de jogo na breve estadia na competição. O elenco tem uma base composta por sete jogadores do Bayern de Munique e em alto nível no mercado do exterior apenas Antonio Rüdiger, do Real Madrid, tem destaque.
— A atual defesa alemã é uma pálida sombra de outras eras. Em toda Copa de 2014 sofreu apenas quatro gols em sete jogos. Nesta Copa do Catar, amargou cinco gols em apenas três partidas, uma média de quase dois gols por jogo. A última vez que a Alemanha não sofreu nenhum gol, seja numa Copa do Mundo ou numa Eurocopa, foi em 2016, frente à Eslováquia — explicou Gerd em sua coluna no Deutsche Welle.
— Desde a aposentadoria de Klose, não apareceu no futebol alemão um único atacante de ofício sequer para preencher essa vaga. Não restou outra alternativa a não ser convocar Niclas Füllkrug, um jogador que até outro dia atuava na segunda divisão. A falta de opções de bom nível para essa posição é gritante — complementou.
Na mesma linha, André Donke, comentarista de futebol internacional da ESPN, compreende que há deficiências nas escolhas da comissão técnica. Para ele, a queda é devido aos em momentos específicos diante do Japão:
— Pagou um preço muito caro por um tempo ruim, o segundo contra o Japão. Ofensivamente o time produziu legal, fez o melhor jogo da Copa contra a Espanha e fez o dever de casa contra a Costa Rica. Defensivamente esse time está com um problema que não é de hoje. No ciclo todo, na transição defensiva, o time tem muitos problemas. É muito lento para recompor. Foi algo já visto na Nations League e que o Flick não conseguiu corrigir.
O jornalista brasileiro acredita que a ausência de Timo Werner, ex-Chelsea, atualmente no RB Leipzig, que foi desfalque no mundial em virtude do rompimento nos ligamentos do tornozelo esquerdo, também colaborou na eliminação. Os erros individuais de Schlotterbeck e Neuer contra os asiáticos também pesaram.
Reflexos
Segundo a imprensa alemã, o trabalho de Oliver Bierhoff é contestável. O ex-atacante, atual diretor-esportivo, sofre críticas e é reivindicada uma nova reformulação. O Bild cita a mudança promovida no começo dos anos 2000 desde as categorias de base que resultaram nas revelações de jovens e na conquista da Copa do Mundo no Brasil. Há o temor, no Velho Continente, que um longo período sem conquistas se aproxima para o maior vencedor europeu do torneio.