Os Estados Unidos, a partir desta sexta-feira (15) e até o dia 24 de julho, recebe pela primeira vez na história o Mundial de Atletismo Outdoor. A cidade de Eugene, no Oregon, tradicional reduto de atletismo no mundo, será a responsável por sediar o maior evento entre todas as modalidades esportivas, abaixo apenas dos Jogos Olímpicos em termos de participantes.
Este ano, a competição reunirá 2 mil atletas de 200 países. A cidade americana receberia o campeonato no ano passado, mas foi adiado em função da pandemia de covid-19, que alterou os Jogos Olímpicos de Tóquio de 2020 para 2021.
As competições serão no estádio Hayward Field, construído em 1919 e reformado em 2020, a casa dos Ducks da Universidade do Oregon, cuja equipe de atletismo é uma das principais do circuito universitário. O local tem capacidade para 12,6 mil pessoas e também recebe regularmente a etapa dos norte-americanos da Diamond League e as provas nacionais de classificação para os principais eventos. O Campeonato Mundial terá transmissão do SporTV.
O Brasil
A delegação brasileira desembarcou nos Estados Unidos com 58 atletas. Desde 1983, o país conquistou 13 medalhas no Mundial, sendo uma de ouro, seis de prata e seis de bronze. Joaquim Cruz, campeão olímpico dos 800m em Los Angeles-1984 e prata em Seul-1988, será o chefe da delegação brasileira.
— O Brasil tem uma equipe grande, com 58 atletas, e o destaque é o fato de termos classificado três atletas em algumas provas (nas de campo, no disco feminino, no peso masculino e no triplo masculino), o que mostra evolução. Mostra o trabalho que o Brasil tem feito na formação e na preparação de mais atletas em condições de participar e competir num campeonato mundial — analisa o treinador-chefe, Victor Fernandes.
São pelo menos três as esperanças de medalha do Brasil na competição. Aos 22 anos e medalhista de bronze na Olimpíada de Tóquio nos 400m com barreiras, Alison dos Santos vem fazendo os melhores tempos do ano na prova de velocidade. Piu, como é conhecido, pode se tornar o primeiro sul-americano a ganhar uma medalha nos 400m com barreiras em um campeonato mundial.
Ele venceu as três provas que disputou na Diamond League deste ano e lidera o ranking mundial da World Athletics com 46.80. O recorde pessoal dele é 46.72, alcançado na final olímpica do Japão. O grande adversário do brasileiro será o campeão olímpico e recordista mundial Karsten Warholm. No entanto, o norueguês sofreu uma lesão no tendão em Rabat, Marrocos, no início de junho, e ainda não recuperou o ritmo de competições.
A outra aposta do país é Darlan Romani, do arremesso de peso. Quarto lugar em Tóquio e campeão no Mundial Indoor, disputado em março deste ano, em Belgrado, na Sérvia. Na oportunidade, o brasileiro superou dois adversários fortes para chegar ao ouro: o norte-americano Ryan Crousier e o neozelandês Tom Walsh, bicampeão olímpico e campeão mundial, respectivamente.
— Fizemos um bom trabalho, dedicamos todas as nossas energias e agora é competir — disse Darlan.
Além deles, Thiago Braz também é mais um dos nomes brasileiros que podem subir ao pódio em Eugene. Ouro no Rio de Janeiro e bronze em Tóquio, uma medalha no Mundial poderia botar o paulista como um dos maiores atletas brasileiros na história. Braz tem boas chances de pegar prata ou bronze. O ouro deve ficar com o fenômeno sueco Armand Duplantis, principal astro do atletismo na atualidade e recordista mundial no salto com vara.
Os gaúchos
Os três “gaúchos” que disputarão o Mundial são menos postulantes a brigarem pelo pódio, mas podem pelo menos disputarem as finais das suas provas. As aspas se justificam pois Samory Uiki, do salto em distância, e Fernanda Borges, do arremesso de peso, são nascidos no Rio Grande do Sul, mas Almir Júnior, do salto triplo, é de Matupá, no Mato Grosso, mas radicado no Estado, treinando na Sogipa, como Samory.
Assim como os dois homens, Fernanda disputou a Olimpíada de Tóquio no ano passado, mas não conseguiu chegar à final. Mesmo suspensa provisoriamente por um caso de doping antes da competição, ela competiu no Japão, pois a suspensão aplicada foi de apenas dois meses apenas, o que já havia sido cumprido.
Almir e Samory chegaram como apostas para os últimos Jogos, mas não conseguiram seus melhores desempenhos e ficaram de fora das finais das suas provas. O primeiro vem de alguns bons resultados na temporada. O triplista foi ouro nos Jogos Paavo Nurmi, superando o bicampeão olímpico Christian Taylor, e também venceu o Meeting de Lisboa. Já Samory ficou em quarto no Meeting da Finlândia. Recentemente, ele contraiu dengue, mas já está recuperado.
— Os dois saíram bem do Brasil. Estão bem preparados e motivados, mas é a competição de nível técnico mais alto da temporada. Então, a nossa meta é chegar na final. Estando na final, tudo pode acontecer — afirma o técnico dos dois, José Haroldo Loureiro Gomes, o Arataca.
As estrelas
Apesar de algumas ausências importantes e dúvidas de última hora, o quadro de atletas de Eugene conta com as principais estrelas da atualidade.
Uma delas é a venezuelana Yulimar Rojas. Campeã olímpica do salto triplo, a venezuelana é a grande favorita para conquistar seu terceiro título mundial ao ar livre, que se somaria aos três que já conseguiu em pista coberta. Ela tentará ser a primeira triplista a saltar além dos 16 metros.
O público também espera grandes feitos de outros recordistas mundiais, como o sueco Armand Duplantis (salto com vara) e a americana Sydney McLaughlin (400m com barreiras).
Entre as batalhas mais esperadas está a dos 100m rasos feminino, com as jamaicanas Shericka Jackson e Shelly-Ann Fraser-Pryce desafiando o reinado de Elaine Thompson-Herah, e a dos 200m masculino, em que o canadense André de Grasse e o americano Noah Lyles vão tentar interromper a ascensão de Erriyon Knighton, americano de 18 anos. O italiano Marcell Jacobs, medalha de ouro nos 100m em Tóquio, precisará superar seus problemas físicos para encarar adversários como os americanos Fred Kerley, Trayvon Bromell e Christian Coleman, atual campeão mundial.
As medalhas do Brasil em Mundiais Outdoor
Ouro
- Fabiana Murer – salto com vara – 4,85 m – Daegu-2011
Prata
- José Luiz Barbosa – 800 m – 1:44.24 – Tóquio-1991
- Claudinei Quirino – 200 m – 19.89 (-0.8) – Sevilha-1999
- Sanderlei Parrela – 400 m – 44.29 – Sevilha-1999
- 4x100 m masculino – 38.26 – Paris-2003 (Vicente Lenilson, Edson Luciano Ribeiro, André Domingos e Cláudio Roberto de Sousa)
- Jadel Gregório – salto triplo – 17,59 m – Osaka-2007
- Fabiana Murer – salto com vara – 4,85 m – Pequim-2015
Bronze
- Joaquim Cruz – 800 m – 1:44.27 – Helsinque-1983
- José Luiz Barbosa – 800 m – 1:43.76 – Roma-1987
- Luiz Antônio dos Santos – maratona - 2:12:49 – Gotemburgo-1995
- Claudinei Quirino – 200 m – 20.26 (2.3) – Atenas-1997
- 4x100 m masculino – 38.05 – Sevilha-1999 (Raphael Raymundo de Oliveira, Claudinei Quirino, Edson Luciano Ribeiro e André Domingos)
- Caio Bonfim – 20 km marcha atlética – 1:19.04 – Londres-2017