O protagonismo das mulheres no futebol vem crescendo em diversas esferas. Além de jogadoras e treinadoras, outra função vem ganhado evidência com a presença feminina: a arbitragem. Em 2020, a Confederação Brasileira de Futebol registrou recorde nas escalas de árbitras e assistentes em competições profissionais masculinas. Além disso, o ano de 2021 já marca o maior número profissionais na Seleção Nacional de Árbitros (SENAF).
As estatísticas de crescimento de participação ajudam a explicar os feitos históricos, que foram sendo construídos nas últimas temporadas. Somente neste ano, já tivemos Edina Alves e Neuza Back compondo o primeiro trio feminino a comandar uma partida de futebol masculino da FIFA, durante o Mundial de Clubes de 2020. A dupla, juntamente com Ana Paula de Oliveira (analista de vídeo), também integrou o jogo inédito na Copa Libertadores com apenas mulheres na equipe de arbitragem.
O primeiro passo para tais feitos começou em 30 de junho de 2003. Na ocasião, no Estádio Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas, Silvia Regina foi a pioneira em apitar um jogo da Série A do Campeonato Brasileiro masculino, entre Guarani e São Paulo. Depois de 2005, quando a árbitra comandou Fortaleza e Paysandu, se passaram mais de 14 anos para que a cena pudesse se repetir.
A partir de 2019, coube a Edina Alves recuperar o protagonismo de mulheres na arbitragem. Foi com ela, naquele ano, que o Brasileirão masculino voltou a ter uma figura no comando de uma equipe de arbitragem. Por ironia do destino, sob a observação de sua antecessora. Silvia Regina estava na equipe do VAR naquela partida entre CSA e Goiás, no Estádio Rei Pelé, em Maceió. Neuza Back foi uma das assistentes.
Depois do feito, já foi possível confirmar um aumento das escalas de árbitras e assistentes em competições profissionais masculinas. Nos dois últimos anos, o crescimento foi de 74%. Quando Edina apitou, o número era de 227. No ano seguinte pulou para 394. Se traçarmos uma comparação de 10 anos, entre 2020 e 2010, o aumento é de 399%.
Ao mesmo tempo que a evolução é satisfatória, é possível observar através do gráfico abaixo, que a participação de mulheres nas escalas de competições masculinas representa menos de 10%.
No mesmo comparativo do período de uma década, também é possível observar o crescimento do número de inscrições de árbitras e assistentes no quadro da CBF. Em 2011, o número total era de 73, com 20 árbitras e 53 assistentes. Já neste ano, o dado mais recente aponta para 114 no geral, com 30 árbitras e 84 assistentes. O crescimento de 56% registrado traz influencia direta para o Brasil ser um dos destaques do quadro internacional de arbitragem.
Brasil com maior quadro arbitral FIFA
Conforme estatística recente divulgada pela CBF, o Brasil é, atualmente, o maior quadro internacional na FIFA. São 38 árbitros atuando sob a insígnia da FIFA: 16 centrais, 16 assistentes, além de seis indicados para o inédito quadro do VAR (árbitro assistente de vídeo). Da relação total, seis mulheres são árbitras e seis assistentes.
As árbitras, assistentes e árbitras de vídeo brasileiras conquistaram esse espaço com muito trabalho. O futuro só depende delas. Não existe limite para competência.
LEONARDO GACIBA
Chefe de arbitragem da CBF
Relação de árbitras:
- Charly Wendy Straub Deretti
- Daiane Caroline Muniz dos Santos
- Deborah Cecilia Cruz Correia
- Edina Alves Batista
- Rejane Caetano da Silva
- Thayslane de Melo Costa
Relação de assistentes:
- Bárbara Roberta da Costa Loiola
- Brigida Cirilo Ferreira
- Fabrini Bevilaqua Costa
- Fernanda Nândrea Gomes Antunes
- Leila Naiara Moreira da Cruz
- Neuza Inês Back
Para o chefe de arbitragem da CBF, Leonardo Gaciba, a presença feminina nas equipes de arbitragem é fruto do esforço e dedicação. O crescimento deste cenário só depende das próprias mulheres.
— As árbitras, assistentes e árbitras de vídeo brasileiras conquistaram esse espaço com muito trabalho. O futuro só depende delas. Não existe limite para competência - declarou Gaciba à GZH.
A nível FIFA, não há representantes profissionais mulheres do Rio Grande do Sul. No âmbito nacional, Andressa Hartmann é a única árbitra do quadro da Federação Gaúcha de Futebol.
Mais do que palavras de incentivo, é preciso ações
Aos 41 anos, Edina Alves é uma das principais referências quando falamos da participação de mulheres no quadro arbitral. Atualmente, já são 23 jogos comandados na Série A do Brasileirão, a melhor marca entra as árbitras do Brasil.
Um dos feitos mais recentes de uma trajetória histórica foi na final do Brasileirão Feminino entre Corinthians e Palmeiras, no Parque São Jorge, em São Paulo. Edina Alves comandou uma equipe de profissionais 100% feminina.
— Eu me senti honrada com a escala da final do Brasileirão feminino, um jogo tão importante para o futebol feminino do Brasil. Foi um degrau que subindo, em busca da consolidação da mulher no futebol. Foi uma grande responsabilidade, mas nossa missão era fazer com que o destaque do jogo fosse o bom futebol — declarou Edina em entrevista a GZH.
A consolidação das mulheres no ambiente esportivo é fruto de uma evolução que vem sendo construída nos últimos anos. Para Edina, o processo de crescimento precisa ir além de palavras de incentivo, é preciso ações.
— Gostaria de dar parabéns à Aline Pellegrino, ao Manoel Flores e a todos os envolvidos no desenvolvimento das competições femininas na CBF, pelo grande trabalho que tem sido feito. O futebol feminino evoluiu muito. Pudemos observar o nível do futebol apresentado na última Copa do Mundo, na França. Esse ano, acompanhando o Brasileirão Feminino, deu para notar o crescimento das equipes, na parte técnica, tática, em estrutura. Mais do que palavras de apoio, as mulheres precisam de visibilidade, de atitudes, para que nosso espaço se consolide cada vez mais no futebol brasileiro.