A Copa América 2021 trará 10 seleções com cerca de 56 pessoas em cada delegação ao país onde mais pessoas morreram por covid-19 no continente. Segundo o levantamento da Universidade John Hopkins atualizado nesta terça-feira (8), são 2.138 óbitos a cada um milhão de habitantes (7º no ranking mundial). O protocolo sanitário das competições de clubes da Conmebol foi atualizado pelo Ministério da Saúde, mas ainda não impede que o torneio piore ainda mais os índices de contágio pelo coronavírus no território nacional, segundo especialistas.
Infectologista do Hospital Mãe de Deus, Cezar Riche destaca que a testagem a cada 48 horas prometida pela organização do torneio é eficiente na teoria, mas alerta para o possível intervalo entre contágio e circulação do vírus antes da detecção dele pelo exame PCR:
— Não existe protocolo que acabe com os riscos. Quanto mais regras, testagem e isolamento, melhor. É importante ser mais rígido que o atual, porque vimos surtos acontecendo em delegações que o seguiam.
Se os atletas, membros das comissões técnicas, profissionais de imprensa e dos hotéis serão testados, nada foi oferecido pelas autoridades como reforço da fiscalização contra aglomerações ou ampliação da testagem, rastreamento e vacinação da população em geral. Ronaldo Hallal, membro da Sociedade Riograndense de Infectologia, aponta para as aglomerações que ocorrem em locais onde as delegações passam. Em Porto Alegre, dezenas de pessoas aguardavam pela passagem dos jogadores da Seleção na frente do hotel da concentração a cada deslocamento.
— Por mais rigoroso que seja o protocolo de testagem dos que estão envolvidos, ainda existem falhas que proporcionam o contágio de jogadores e funcionários no ambiente, além das aglomerações. Isso pode aumentar o risco do surgimento de novas variantes, além de aumentar a circulação das já existentes — destaca Hallal.
Na apresentação das diretrizes sanitárias, segunda-feira, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga afirmou que a realização das demais competições nacionais e continentais de clubes seriam a garantia de que outro torneio não traria piora na situação da pandemia. O infectologista do Hospital de Clínicas Eduardo Sprinz questiona este acúmulo de permissões para eventos esportivos que se cruzam. Tanto no calendário quanto geograficamente, o deslocamento de equipes e eventuais resultados favoráveis são sinônimo de queda nos cuidados da população.
— As pessoas foram para a rua comemorar um título estadual. Com o Flamengo tivemos, com o São Paulo também. Se o Brasil chegar na final, teremos aglomeração. Foram liberadas muitas situações que permitem tal mobilidade. A Copa América é mais uma delas — ressalta Sprinz.
— Trazer a competição para o Brasil é uma decisão que desconsidera a gravidade da pandemia, e deve contribuir para o agravamento dela no nosso país — conclui Ronaldo Hallal.