Não seria exagero dizer que Christian Eriksen, jogador de 29 anos, da Dinamarca e da Inter de Milão, morreu em campo na tarde de sábado (12), defendendo seu país em um jogo da Eurocopa. Porém, graças aos médicos que prestaram um rápido atendimento ao jogador, a morte foi "abortada". É o que diz o cardiologista e eletrofisiologista Jose Alencar, autor do livro Manual de Medicina Baseada em Evidências.
— O jogador dinamarquês Christian Eriksen não teve uma convulsão. O que ocorreu foi uma morte súbita. E, devido ao rápido atendimento, essa morte súbita foi "abortada". Morte súbita é aquela inesperada, que ocorre até 1 hora após o início dos sintomas (no caso de Eriksen, foi instantâneo). Cerca de 13% das pessoas morrem subitamente. 50% das pessoas que morrem do coração morrem subitamente. No esporte, ocorre 0,5-2,1 morte súbita por 100 mil pessoas/ano — começou explicando, em postagem feita no Twitter.
— Quanto mais rápido uma pessoa em morte súbita recebe a desfibrilação, melhores as suas chances. A cada minuto sem desfibrilação, a chance de sobreviver cai 10%! É a maior emergência de toda a medicina — afirmou.
Eriksen segue repousando e sendo monitorado em um hospital após assustar milhões de pessoas que acompanhavam a partida em todo o mundo. O jogador, segundo o cardiologista, agora faz parte de um grupo seleto de menos de 10% das pessoas que sofrem morte súbita, também conhecido como 'infarto fulminante', e sobrevivem.
— Atualmente, a taxa de sobrevivência de um episódio de morte súbita é de 7,6% em países desenvolvidos. Em locais onde há DEA e há treinamento em massa da população para oferecer suporte básico de vida (compressões de qualidade e manuseio correto do DEA), a chance é maior — disse.
— A principal causa de morte súbita é o temido infarto (o que chamam de infarto fulminante). Antes dos 35 anos, contudo, essa causa ainda é frequente, mas começa a perder espaço para outras doenças cardíacas: cardiomiopatia hipertrófica, displasia do VD, entre outras — concluiu.
José Alencar explicou ainda que em casos como o de Eriksen é comum a implantação de um aparelho conhecido como CDI, que tem função semelhante ao popular marca-passo, mas que não precisa ser trocado com tanta frequência, pois age por demanda.
— CDI é um cardiodesfibrilador móvel que implantamos no paciente. O aparelho detecta arritmias e entrega um choque sempre que necessário. A causa que levou à arritmia também deve ser diagnosticada e tratada (infarto deve receber stent, por exemplo). Se for descoberta uma cardiomiopatia ou canalopatia (doença dos canais iônicos do coração) genética, os familiares devem ser rastreados — analisou.