Enquanto o Grêmio luta para segurar Pepê diante do assédio do Porto, um outro atacante formado nas categorias de base tricolores tenta reencontrar seu bom futebol em terras lusitanas. Contratado a pedido do técnico Jorge Jesus, Everton é titularíssimo do Benfica desde que desembarcou em Lisboa. Contudo, não consegue alcançar o mesmo protagonismo dos tempos de Porto Alegre. Até agora, Cebolinha disputou 22 partidas com a camisa vermelha (tendo iniciado 21 jogos) e marcou somente quatro gols.
É bem verdade que o desempenho do time também não contribui. Mesmo depois de gastar cerca de 100 milhões de euros em reforços, os benfiquistas decepcionaram em todos os torneios até aqui. Foram eliminados ainda nos playoffs da Liga dos Campeões, perderam a Supertaça de Portugal para o rival Porto e ocupam o terceiro lugar no Campeonato Português, a quatro pontos do líder Sporting.
A campanha rende críticas junto à torcida e à imprensa nacional, como a coluna assinada pelo jornalista Luís Mateus, na edição do jornal A Bola desta terça-feira (5). No texto, intitulado "O Benfica irreconhecível de um Jorge Jesus irreconhecível", sobram críticas até mesmo para o ex-atleta gremista:
"Se defensivamente as coisas não melhoram, o excessivo jogo interior em ataque posicional torna a equipa demasiado previsível. Everton é um jogador que não consegue jogar por fora, precisa que Grimaldo (lateral-esquerdo) esteja em overlappings constantes, o que também o desprotege defensivamente. Rafa (meia-direita) ataca muito mais o canal interior entre lateral e central do que a linha, e já se sabe que Gilberto (lateral-direito) não consegue grande profundidade".
Nova função
Comprado por 20 milhões de euros, o jogador brasileiro foi a segunda contratação mais cara do clube português nesta temporada, ficando atrás somente de Darwin Núñez, ex-Almería, que custou 4 milhões a mais. O atacante uruguaio, contudo, tem sido mais efetivo, já que balançou as redes adversárias em nove oportunidades.
— Mais do que um jogador em específico, a equipe do Benfica está a desiludir como um todo. Em um contexto particularmente difícil, que é o de pandemia, enquanto outros clubes cortaram gastos, o Benfica fez o maior investimento de sua história e falhou em vários objetivos da temporada. E, para além dos resultados, desilude também pela pobreza das exibições. Tem dificuldades em ganhar todos os jogos contra adversários teoricamente mais frágeis. Everton, de fato, era o jogador que mais prometia. Apesar das diferenças entre o futebol brasileiro e o europeu, era esperado que ele chegasse aqui e tivesse um impacto imediato, mas não teve — atesta Sérgio Pires, repórter do site Mais Futebol, de Portugal.
Além de ver problemas na engrenagem do time, o jornalista português também observa diferenças no posicionamento de Everton. Acostumado a atuar como ponteiro-esquerdo no Grêmio, que joga no 4-2-3-1, Cebolinha tem sido usado como uma espécie de meia-esquerda por Jorge Jesus, que costuma posicionar suas equipes no sistema 4-1-3-2. Assim, na comparação imediata, cobra-se dele a mesma função executada pelo meia De Arrascaeta no Flamengo de 2019.
— Nota-se que ele (Everton) é um jogador diferenciado, com muita técnica, mas não tem tido a influência que foi esperada pelos torcedores do Benfica. O futebol aqui é mais duro, de transições mais rápidas, com maior velocidade de execução. Ou seja, Everton não está tão solto e livre como estava no Grêmio. Aqui também tem de defender, o que não é fácil. Ele fica mais preso na marcação, amarrado taticamente, e isso faz com que ele renda menos, pois está dependente da movimentação da equipe — conclui Pires.
A mudança de postura fica evidente quando se compara o mapa de calor, elaborado pelo site SofaScore, nas atuações de Everton por Grêmio e Benfica. Sob o comando de Renato Portaluppi, Everton ganhava mais liberdade do meio para a frente, podendo até mesmo se deslocar para o meio, em diagonal.
Em Portugal, sua faixa de campo parece mais limitada à esquerda, já que dois atacantes ocupam a área e, por dentro, quem constrói é o lateral Grimaldo. Desta forma, Cebolinha diminui seu potencial como artilheiro, mas se transforma em um "passador". Não à toa tem seis assistências para gols nesta temporada. Resta saber se o novo posicionamento não irá atrasar o seu crescimento e, até mesmo, convocações para a Seleção Brasileira.
Números de Everton no Benfica:
22 jogos
4 gols e 6 assistências
13 vitórias, 5 empates e 4 derrotas
21 jogos como titular
11 vezes substituído