A organização do Aberto da Austrália informou neste domingo (17) que mais 25 jogadores que disputarão o torneio foram obrigados a ser confinados em seus quartos de hotel após a confirmação de outro caso de coronavírus em um voo fretado vindo de Doha, no Catar, para Melbourne. Com isso, o número total de tenistas em isolamento subiu para 72.
O teste positivo de covid-19 veio de um passageiro que não era membro do grupo de jogadores, disseram os organizadores do Grand Slam australiano. Mas todos os 58 passageiros, incluindo os 25 tenistas do voo de Doha, agora não podem deixar seus quartos de hotel por duas semanas.
Anteriormente, os organizadores haviam anunciado que 47 atletas teriam que ficar em quarentena depois que três passageiros de dois voos, de Los Angeles e Abu Dhabi, testaram positivo para o novo coronavírus.
O torneio tradicionalmente disputado em janeiro foi adiado para fevereiro para que todos os envolvidos possam passar por uma quarentena obrigatória. Alguns jogadores se mostraram indignados com a situação, já que estão trancados em seus quartos e não poderão treinar nas quadras, estando limitados a exercícios físicos, ao contrário dos tenistas que não tiveram contato com pessoas infectadas. Estes poderão treinar por até cinco horas diárias.
Mas as autoridades de saúde locais disseram que todos foram alertados sobre os riscos e afirmaram que qualquer jogador que esteja considerando quebrar as regras foi avisado que violar os regulamentos de quarentena pode provocar multas pesadas.
Três casos foram anunciados no sábado e a comissária Emma Cassar, responsável por controlar a quarentena no estádio de Victoria, onde está situada Melbourne, disse em coletiva de imprensa que houve um quarto teste positivo. Até agora, nenhum jogador foi contaminado.
Os casos positivos são de um membro da tripulação aérea, dois treinadores e um funcionário de uma equipe de transmissão de TV. Todos os quatro tiveram teste negativo antes de embarcar em seus voos para a Austrália e estão isolados em um hotel. Um dos infectados é Sylvain Bruneau, técnico da canadense Bianca Andreescu, campeã do US Open de 2019.
Cassar ressaltou que houve casos de atletas tentando burlar o isolamento e que não haverá tolerância para quem tentar escapar da quarentena.
— Haverá tolerância zero para esse comportamento. Este é um procedimento para deixar as pessoas seguras. Não pedimos desculpas por isso —ressaltou a comissária.
Atletas reclamam de mudanças nas regras da quarentena
Vários jogadores em quarentena, incluindo a romena Sorana Cirstea, a suíça Belinda Bencic e a cazaque Yulia Putintseva reclamaram nas redes sociais que as regras mudaram nos últimos dias.
— Se eles tivessem nos contado essa regra antes eu não jogaria na Austrália. Teria ficado em casa. Não tenho problemas para ficar 14 dias no quarto assistindo Netflix. Acredite em mim, este é um sonho que se tornou realidade. O que não podemos fazer é competir depois de termos ficado 14 dias em um sofá. Esse é o problema, não a regra da quarentena — disparou Cirstea, 71ª colocada do ranking mundial da WTA.
A romena resgatou um trecho de uma entrevista do diretor do torneio, Craig Tiley, para endossar seu posicionamento.
— Se um jogador tiver que fazer quarentena e ficar preso no quarto duas semanas antes de sua temporada, isso não vai acontecer. Não se pode pedir aos jogadores que façam quarentena por duas semanas e então saiam e estejam prontos para jogar um Grand Slam — disse o executivo.
Número 12 do mundo, Belinda Bencic reforçou os protestos de Cirstea.
— Não estamos reclamando de estar em quarentena. Estamos reclamando das condições desiguais impostas antes de um torneio tão importante — disse suíça.
Em sua conta no Twitter, Putintseva chegou a publicar um vídeo onde mostra que seu quarto de hotel tinha sido invadido por um rato.
—Estou tentando mudar de quarto já faz 2 horas e ninguém vem para me ajudar por causa da situação de quarentena —reclamou a cazaque, que em outra postagem colocou um vídeo onde bate bola contra a parede do quarto: "Preparação para um Grand Slam" escreveu em tom de ironia.
Mas o governo local rejeita todas essas alegações e garante que as regras serão mantidas.
— Não há outra maneira de você considerar isso. Se você estiver em um avião por 16 a 24 horas com o ar que circula pela aeronave, você é um contato próximo com um possível contaminado. Isso foi deixado muito claro e nada mudou — reiterou Emma Cassar.
Craig Tiley disse que os organizadores e jogadores foram avisados de que haveria um "risco significativo" de restrições impostas aos atletas se houvesse casos de coronavírus e assegurou que o Grand Slam será realizado, apesar das reclamações dos competidores.
— Nós deixamos isso muito claro no início. Agora temos que gerenciar um ambiente nos próximos 14 dias para aqueles que não poderão treinar. É uma situação difícil. O Aberto da Austrália está acontecendo e continuaremos a fazer o melhor que pudermos para garantir que esses jogadores tenham as melhores oportunidades — acrescentou o dirigente.
O protocolo para evitar a propagação da doença impacta a preparação de nomes como a bielorrussa Victoria Azarenka, bicampeã do torneio australiano, a americana Sloane Stephens e o japonês Kei Nishikori. Outros tenistas que chegaram em aviões diferentes também estão passando por uma quarentena obrigatória de 14 dias, mas foram liberados a deixar seus hotéis por cinco horas por dia para treinar.
A Austrália é um dos países que adotou protocolos rígidos para a entrada de estrangeiros. A nação da Oceania obteve sucesso no controle da pandemia. Foram registrados cerca de 28 mil casos da doença, com menos de mil mortes, sendo apenas duas registradas desde novembro.
O estado de Victoria, que tem como capital Melbourne, foi responsável por 820 óbitos durante uma segunda onda há três meses que resultou em toque de recolher noturno e outras medidas mais rígidas na cidade.