Conversar com Roger Machado é bem mais do que falar sobre futebol. É ouvir sobre esporte, gestão, cidadania e, sobretudo, pessoas. O ex-lateral e técnico do Grêmio é um erudito, um professor, um filósofo, um vencedor. Sabe muito de bola e de gente. E de comunicação. Por isso, Potter e eu fizemos questão de ouvi-lo o quanto antes para a série Técnicos. E, finalmente, pude contar para ele sobre o maior erro da minha carreira.
Na análise puramente pessoal, o que mais me impactou foi a análise do próprio Roger sobre a relevância do papel de treinador em um time de futebol:
— Se eu souber o que estou fazendo, escolher os melhores jogadores, aplicar o treinamento certo e encontrar o modelo ideal, eu, um técnico, vou melhorar a equipe em 30%. Se eu não souber o que estou fazendo, atrapalho em 50%. A técnica vai ser decisiva sempre, em qualquer esporte.
Ele foi além, trouxe matemática:
— De cada tentativa de jogada do vôlei, do saque em diante, 50% das bolas vão para o chão. Ou seja, é ponto. No basquete, igual. A razão no futebol é de uma para 140. Cada vez que recupero a bola, é uma oportunidade para fazer um gol no adversário.
Perguntado sobre técnicos estrangeiros, Roger apresentou um aspecto poucas vezes falado. Em um tema que gera tanta controvérsia, polêmica e preconceitos, trouxe um ponto prático:
— A contribuição que esses dois estrangeiros (Jorge Jesus e Eduardo Coudet) deram ao futebol brasileiro foi a possibilidade de voltar a jogar com dois atacantes, o que não fazíamos há muito tempo.
Assim, sem pedir reserva de mercado, sem reclamar de paciência ou impaciência com gringos, sem crítica pela crítica. Um aspecto meramente técnico, prático, de jogo.
Falamos sobre dupla Gre-Nal, claro. Por que saiu do Grêmio em 2016? O que aconteceu naquele vestiário do Moisés Lucarelli? Perguntou o Potter, referindo-se ao último jogo do treinador no Grêmio, uma derrota por 3 a 0 para a Ponte Preta:
— Foi o quinto jogo sem vencer, era um entendimento que precisávamos interromper o desgaste externo por causa dos maus resultados. Entendemos que o melhor era sair. Houve tentativa do Romildo de me demover da ideia. Mas tinha uma eleição logo adiante, e foi minha leitura de que aquela gestão precisava continuar porque sabia que os resultados aconteceriam. O campo precisava estar bem na hora da eleição.
Sobre seu substituto, Renato Portaluppi, deu um lindo depoimento:
— Sou uma das pessoas que ficam mais à vontade para falar sobre o Renato. Joguei com Renato, naqueles idos de Copa dos Campeões. Foram 45 minutos, mas está no meu currículo, não vão me tirar (risos). Fui jogador do Renato no Fluminense e voltei ao Grêmio por intermédio do Renato e do César Dias. Os times do Renato sempre jogaram para a frente. Pelo estilo dele, diminuem a capaciade. Eu pegar um livro para estudar não me torna melhor. Cada um sabe como melhorar. Talvez o Renato veja mais jogos do que eu ou tenha uma capacidade maior do que entender o jogo do que nós, que estudamos. Ele tem uma sabedoria tão grande que levo até hoje a forma que ele gere o vestiário.
Claro que Potter não deixaria de fazer a pergunta de colorado. Treinaria o Inter?
— Tranquilamente. Não tenho porque não pensar em um grande clube como o Inter. Desde quando era jogador, sempre fui abordado pelos torcedores do Inter com carinho e respeito.
Teve muito mais, sobre futebol, sobre preconceito, sobre gestão, sobre gente. Sugiro clicar no vídeo. E se isso não convencê-los, cliquem ao menos para descobrir o maior erro da minha carreira.