Depois de o Flamengo ter informado 19 casos de covid-19 no final da semana passado e o jogo contra o Palmeiras quase ter sido suspenso por conta de decisão judicial, muita gente se perguntou sobre o que dizem os protocolos da CBF e da Conmebol a respeito dos jogadores infectados pelo coronavírus. Por meio de nota, a entidade máxima do futebol brasileiro garantiu que, se o clube tiver pelo menos 13 atletas em condições de atuar, as partidas serão realizadas.
"Em linha com a jurisprudência que vem sendo construída pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol (STJD) sobre o tema, a CBF estabeleceu, com anuência da grande maioria dos clubes, o mínimo de 13 atletas não infectados para que a partida seja realizada. Na ocasião, tendo sido apresentada a possibilidade de aumento do limite de inscrições para o Campeonato Brasileiro da Série A de 40 para 50 atletas, os clubes se manifestaram favoravelmente", dizia o texto enviado pela CBF.
O protocolo da Confederação Brasileira de Futebol, no entanto, diverge do documento da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) no que diz respeito ao tempo de recuperação necessária para que um atleta contaminado esteja novamente apto a jogar. Isso porque a entidade continental entende que, se um jogador testar positivo para a covid-19 no teste PCR (feito a partir da retirada de amostras da garganta e do nariz, que detectam se o vírus está naquele momento no corpo da pessoa), ele não poderá jogar ou treinar até que o IgM (anticorpos da fase aguda da doença) dê negativo por meio do teste sorológico, que é feito antes de cada partida.
"O jogador será reintegrado quando os sintomas desaparecerem ou os testes derem negativo para a covid-19, sendo realizados a cada semana", detalha o protocolo médico da Conmebol.
Já a CBF atualizou seu protocolo e determinou que um atleta poderá jogar mesmo se testar positivo para o coronavírus, desde que a contaminação tenha ocorrido pelo menos 10 dias antes. Essa medida é baseada em uma norma do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, que diz que após um exame PCR positivo o isolamento de 10 dias é suficiente para que o paciente não transmita mais a doença.
— O CDC puxa uma revisão sistemática (método de pesquisa que reúne as melhores evidências atuais ou disponíveis) de Oxford. Eles descobriram que, após o oitavo dia de infecção, no indivíduo que está assintomático, não há mais replicação viral, apesar de o PCR vir positivo. O PCR pode vir positivo por muito tempo, porque ele detecta o RNA (material genético) do vírus. Não necessariamente o vírus, mas parte dele — explicou Raphael Einsfeld, médico do Esporte e coordenador do curso de Medicina do Centro Universitário São Camilo, em entrevista à Agência Brasil.
Com base neste estudo, a CBF liberou quatro jogadores do Atlético-GO, que testaram positivo para o coronavírus, para enfrentar o Flamengo na segunda rodada do Campeonato Brasileiro, em 12 de agosto. De acordo com a entidade, o clube goiano informou que os atletas cumpriram a quarentena e não possuíam mais potencial de transmissão do vírus, justificativa que foi aceita pela confederação.
— No protocolo, está colocado que ele pode ser modificado a qualquer momento. Então, ele vai sofrer modificações. A gente diz que ele é uma peça viva, é uma foto do momento. Mas ele pode ser modificado, sim, sempre para que melhoremos nosso controle, seja com evidências científicas muito bem pautadas ou até por alguma observação. Estamos avaliando diariamente tudo o que está acontecendo. E o que for necessário fazer para melhorar, nós vamos aprimorar esse protocolo quantas vezes forem necessárias — afirmou o coordenador médico da CBF, Jorge Pagura, à Agência Brasil.
Porém, na avaliação de Luciano Goldani, médico infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor da UFRGS, o protocolo não está funcionando.
— Tantos jogadores infectados certamente coloca em risco o próprio Brasileirão e a Libertadores, além das pessoas da comunidade que estão em contato com esses atletas. Deveria haveria uma orientação e um entendimento por parte desses jogadores sobre medidas de prevenção contra a covid-19. Isso não está acontecendo — ressalta.
O procedimento adotado no futebol brasileiro, no entanto, é semelhante ao de outras ligas. Ou seja, se um jogador ou membro da comissão técnica testa positivo para o coronavírus ou apresenta os sintomas da doença, é imediatamente afastado. Mas as partidas daquele time seguem mantidas.
O caso diferente aconteceu no Uruguai. No sábado (26), após o meia brasileiro Felipe Gedoz ser diagnosticado com covid-19, o Ministério da Saúde do país exigiu que todo o time do Nacional permanecesse em quarentena, impedindo a realização da partida contra o Liverpool-URU.