Recuperado do coronavírus, Julinho Camargo fez um relato emocionante dos sete dias em que enfrentou a doença na UTI do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, no Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha, nesta quinta-feira (16). Ele contou que, antes de ser internado, sofreu cerca de uma semana com falta de ar em casa.
– A falta de ar é uma coisa horrível. Eu passei praticamente sete dias antes de internar virando noite sem conseguir respirar. A saturação de oxigênio normal é de 92% a 100%. Eu estava saturando 60%, aí o coração começa a trabalhar mais forte. Minha frequência cardíaca estava em 140 batimentos por minuto (a taxa considerada normal é de 60bmp). Quando eu cheguei no hospital, fui direto para a UTI. A médica disse que, nos dois primeiros dias, usei dois tubos de oxigênio e o próximo passo seria entubar. Mas no terceiro dia meu corpo e meu pulmão reagiram e não foi preciso – contou o técnico, atualmente sem clube, que teve 70% dos pulmões comprometidos pela doença.
Ao mesmo tempo que Julinho estava na UTI, sua esposa, Flavia Schuler, de 50 anos, lutava contra a doença no quarto do hospital. Os dois filhos deles, Júlia, 9, e Luan, 11, tiveram que ficar sob os cuidados de um casal de amigos. João e Carol, que são vizinhos do casal em Rainha do Mar, no Litoral Norte do Estado, tomaram conta das crianças junto com a filha, Manuela, de 11 anos:
– Lembro de eles falarem muito para eu concentrar na respiração, que era para ter calma, respirar, para conseguir. Foi um período de fechar a cabeça. Temos dois filhos pequenos. Foi muito delicado.
O técnico de 49 anos e a esposa tiveram alta na sexta-feira (10) e ainda estão em isolamento em apartamento na Capital. Eles aguardam resultado de um novo teste para retornar para a casa e reencontrar os filhos na próxima semana.
– Sou grato a Deus em primeiro lugar, mas também aos amigos que nos mandaram muita energia boa em um momento ruim. E ao pessoal da área da saúde. Foram sete dias de UTI. A turma da linha de frente, que são heróis anônimos, merece todo nosso carinho e respeito – agradeceu Julinho.
Ao longo da entrevista, Julinho se emocionou ao citar os cuidados dos médicos, a saudade dos filhos e também a perda de um familiar para a doença. Marilena Valduga Teixeira, 81 anos, tia do treinador, morreu vítima de Covid-19. Mas agora, o que Julinho espera é poder voltar para casa.
– A gente está muito feliz, muito grato a Deus e todos os amigos. O recado é sempre de gratidão. Penso que todas as situações que a vida nos oferece têm aprendizados por trás e que nos tornam pessoas melhores. Às vezes nos preocupamos tanto com o futuro e não vivemos o presente. Precisamos entender que o importante são as pessoas – finalizou.