Cenário da sétima etapa do Circuito Mundial de surfe, o Taiti traz sorte para Gabriel Medina. Os tubos de Tehuapo'o já presenciaram duas vitórias do paulista de 25 anos, curiosamente nas duas temporadas em que o brasileiro conquistou o título mundial, em 2014 e 2018. Desta vez, Medina chega à maior ilha da Polinésia Francesa — a janela de competição será aberta amanhã e vai até 1º de setembro — em uma situação menos confortável.
O bicampeão mundial é o sétimo no ranking da WSL e tem pela frente na classificação nomes como os compatriotas Filipe Toledo e Italo Ferreira, o experiente sul-africano Jordy Smith e o americano Kolohe Andino, atual líder do campeonato. Mesmo com a necessidade de recuperar terreno na classificação — está a 6.950 pontos atrás de Andino, pouco mais do que a pontuação de semifinalista em cada etapa —, Medina se mostra confiante.
O histórico ajuda: o surfista de Maresias costuma melhorar o desempenho no segundo semestre. O primeiro passo foi dado com a vitória inédita em Jeffreys Bay, na África do Sul, em julho, quando deu mostra que pode entrar na briga pelo terceiro título mundial.
— O ranking está bem embolado. Acredito que, neste segundo semestre, consigo dar um gás e brigar pelo tricampeonato — afirma.
Desde a lesão do havaiano John John Florence, também bicampeão e surfista que liderava o ranking, Medina tornou-se um dos principais candidatos ao título, mesmo após um início irregular de temporada (foi quinto colocado em três etapas e 17º em outras duas). Depois de Tehuapo'o, o Circuito Mundial terá mais quatro escalas: Lemoore, a piscina com ondas de Kelly Slater na Califórnia (EUA), Hossegor (França), Peniche (Portugal) e o tradicional evento de Pipeline, no Havaí, em dezembro. Em todas essas etapas, Medina tem bom retrospecto.
Entre treinos e competições, o surfista ainda dedica seu tempo para o instituto que leva seu nome e também outros projetos, como o Surfland Brasil, local da primeira piscina com ondas do país, em Garopaba (SC). Ele é um dos embaixadores do espaço, ao lado dos ex-surfistas Teco Padaratz e Fabio Gouveia e do skatista Pedro Barros.
A temporada traz um desafio adicional para Medina. Os dois melhores brasileiros no ranking se classificam para a Olimpíada de Tóquio 2020, e por enquanto ele está fora dos Jogos.
O bicampeão concedeu entrevista por e-mail a GaúchaZH para avaliar seu ano, seus objetivos e seus projetos pessoais:
Nas últimas temporadas, a África do Sul tem marcado o começo da sua recuperação no campeonato. O que a vitória deste ano na etapa de Jeffreys Bay representa para você?
Essa vitória representa superação. Em um circuito com tantas direitas, vencer em umas das mais difíceis e importantes foi algo incrível.
Em 2014 e 2018, anos dos seus dois títulos, você teve um desempenho melhor nas quatro primeiras etapas do circuito. Como você pretende se recuperar dentro do campeonato para conquistar o tricampeonato?
Acredito que estou com uma pontuação razoável e o ranking está bem embolado. Dessa forma, acredito que neste segundo semestre consigo dar um gás e brigar pelo tricampeonato.
Esse ano antecede a primeira disputa do surfe nas Olimpíadas. Se você se classificar, como vai ser a sensação de representar o Brasil na maior competição esportiva do mundo?
Acho que vai ser uma sensação incrível. Estou fazendo de tudo e me preparando da melhor maneira para me classificar e poder representar o Brasil na Olimpíada.
O Brasil tem o maior número de surfistas na elite mundial. Não é apenas quantidade, mas também qualidade, da velha guarda ao novatos. A que você acredita que isso se deve?
Acho que isso acontece pelo fato de existirem vários campeonatos, tanto no litoral norte de São Paulo quanto no Nordeste, que preparam muito bem nossa categoria de base para os campeonatos pelo mundo. Além disso, outro fator importante foi a velha guarda, com surfistas como Teco Padaratz, Fábio Gouveia e muitos outros, que abriram o caminho para nossa geração crescer e se tornar uma potência no surfe mundial.
Seu maior adversário nos últimos anos tem sido John John Florence, mas nessa temporada ele se lesionou mais uma vez. Quem você apontaria como candidatos ao título?
Todos os surfista no tour são bons e o nível está cada vez mais alto e disputado. Acho que todos que estão ali no Top 10 têm chances de lutar por um título neste ano.
Você já deu entrevista dizendo que odeia perder. O torcedor brasileiro cobra resultado. Como você lida com isso ao longo do Circuito Mundial? A pressão em cima de você sempre foi muito grande...
É, não gosto de perder (risos). Lido muito bem com a pressão e acho que até me motiva mais.
Muitos jovens surfistas já se inspiram em você. É o caso do Matheus Herdy e do Ryan Kainalo. Da nova geração, quem pode chegar ao seu nível de conquistas e competitividade?
A nova geração de surfistas brasileiro é muito promissora. Tenho certeza que com muito foco, treino e dedicação dessa juventude teremos muitos atletas brasileiros na elite do surfe mundial por muitos anos.
Falando em jovens, como é sua relação com a Sophia, sua irmã de 14 anos? Ele segue sua carreira e já tem bons resultados surfando.
Minha relação com a Sophia é muito boa, adoro estar com ela, surfar com ela e poder passar um pouco das minhas experiências de surfe pra ela. Fico muito feliz que ela está seguindo meus passos e buscando se tornar uma surfista profissional.
Recentemente você esteve em Garopaba no lançamento do Surfland, como embaixador do projeto. Você já ganhou a etapa na piscina de ondas do Slatter. O que os brasileiros podem esperar da primeira piscina de ondas no litoral de Santa Catarina?
Os brasileiros podem esperar uma onda incrível e muito divertida. O mais legal é que, na Surfland, vai ter onda para todos os níveis. Se você nunca surfou lá, é o lugar perfeito pra iniciar e se você já tem um surfe mais avançando vai poder pegar muita onda boa.
Você passa a maior parte do ano viajando para competir, mesmo com envolvimento em instituições e projetos sociais, como é a busca por inspirar jovens brasileiros a seguir surfando, levando em consideração que é um esporte com acesso mais restrito?
Tomei essa tarefa como uma missão de vida, tanto que criei o Instituto Gabriel Medina, que tem como objetivo formar novos atletas para o surfe além de todo o viés de educação e social. Queremos também formar melhores cidadãos.
O RANKING MUNDIAL
1º) Kolohe Andino (EUA) – 33.845 pontos
2º) Filipe Toledo (BRA) – 33.280
3º) John John Florence (HAV) – 32.245*
4º) Italo Ferreira (BRA) – 29.950
5º) Kanoa Igarashi (JAP) – 29.450
6º) Jordy Smith (AFS) – 29.365
7º) Gabriel Medina (BRA) – 26.895
8º) Kelly Slater (EUA) – 21.055
9º) Ryan Callinan (AUS) – 20.130
10º) Julian Wilson (AUS) – 18.140
*Lesionado, está fora da disputa no restante da temporada
PRÓXIMAS ETAPAS
Lemoore, Estados Unidos – 19/9 até 21/9
Hossegor, França – 3/10 até 13/10
Peniche, Portugal – 16/10 até 28/10
Pipeline, Havaí – 8/12 até 20/12