Em uma liga formada por estrelas, Kawhi Leonard destaca-se pela discrição. No universo da badalação midiática e dos milhões de dólares, o ala do Toronto Raptors é econômico com as palavras e nem rede social possui. Aos 27 anos, prefere dedicar toda sua atenção ao basquete.
— Eu não jogo por esta razão (fama). Estou aqui para jogar e me divertir tentando ser o melhor jogador que eu puder. Estou feliz comigo mesmo. Não é sobre eu ser famoso, é sobre eu jogar basquete e me divertir dentro de quadra — afirmou em entrevista coletiva na quarta-feira (29), véspera do primeiro jogo das finais da NBA, em Toronto, onde seu Raptors recebe o Golden State Warriors, às 22h (horário de Brasília).
A trajetória de Kawhi até transformar-se no responsável pela primeira classificação de um time canadense à decisão da mais importante liga de basquete do mundo foi silenciosa, por baixo dos principais radares do esporte. Em 2011, foi a 15ª escolha do draft. Saído da universidade de San Diego State, foi enviado pelo Indiana Pacers ao San Antonio Spurs em troca do armador Geroge Hill.
Em San Antonio, Kawhi Leonard encontrou o que parecia o lar perfeito. Sob comando de Gregg Popovich, passou a fazer parte de um grupo multicampeão formado ainda no final dos anos 1990 e que tinha como figuras centrais atletas pouco badalados, caso de Tim Duncan, Manu Ginobili e Tony Parker. Foi no Texas, inclusive, que Kawhi chegou às suas primeiras finais da NBA. Em 2013, derrota para o Miami Heat de LeBron James. No ano seguinte, vitória por 4 a 1 sobre o mesmo rival do ano anterior, título e prêmio de MVP da decisão para o então garoto de 22 anos.
Com as carreiras de Duncan, Ginobili e Parker chegando ao fim, o futuro dos Spurs parecia estar nas mãos de Kawhi, que nos dois anos seguintes foi eleito o melhor defensor da competição. A separação ocorreu em 2018, após uma temporada em que lesões e problemas dentro da franquia permitiram ao camisa 2 disputar apenas nove jogos. Sete anos depois de ser trocado pelos Pacers, Kawhi foi enviado para o Toronto Raptors.
No Canadá, o desafio era outro: com apenas um ano de contrato, tentaria conduzir um time marcado por recentes insucessos nos playoffs ao inédito título. Na imprensa, os rumores eram de que desejaria atuar em cidades como Los Angeles e Nova York ao final do vínculo com os canadenses. Dentro de quadra, Kawhi foi o de sempre: silencioso, dedicado e eficiente.
Ajudou sua equipe a despachar o Orlando Magic sem dificuldades na primeira rodada dos playoffs. Daí em diante, iniciou uma impressionante jornada até a final da NBA. Contra o Philadelphia 76ers, o arremesso dramático no último segundo, com direito a cena histórica, agachado no lado de fora da quadra esperando a bola cair, foi o primeiro "buzzer beater" (como são chamadas, em inglês, cestas no lance final) em um Jogo 7 na história da liga. Na decisão da Conferência Leste, comandou Toronto à vitoria por 4 a 2 após estar perder os dois primeiros jogos para Milwaukee Bucks, time de melhor campanha na temporada.
Mais do que ajudar no ataque, o grande diferencial de Kawhi talvez seja sua importância também na defesa. Contra os Bucks, por exemplo, coube a ele a responsabilidade de marcar Giannis Antetokounmpo. O grego, que durante a temporada regular acertou em média 58% dos arremessos tentados, viu seu aproveitamento despencar para 35%.
— A chance de Toronto ser campeão existe por ter o Kawhi. Um cara desse quilate e com esse comportamento. Acho que não tem cara melhor para levar a franquia a um título inédito. Ele vai ter de ser o Kawhi no seu limite, o jogador mais dominante nos dois lados da quadra, que marca muito forte e tem a defesa como seu carro principal — avalia Ricardo Bulgarelli, comentarista dos canais ESPN.
Nesta quinta-feira, depois de alcançar o maior feito na história dos Raptors, Kawhi Leonard inicia mais um capítulo em sua silenciosa caminhada rumo ao rol dos inesquecíveis. Desta vez, quer dar ao Canadá seu primeiro título da NBA.