— Joguei 20 minutos e só deu eu nos jornais.
Assim, Walter resume a sua estreia pelo Paysandu contra o Interporto, na terça-feira, pela Copa Verde. Poucas horas após a vitória por 4 a 0 da equipe de Belém, uma foto em que o atacante aparece acima do peso foi compartilhada e viralizou nas redes sociais.
— Tem foto que você sai bem, tem foto que você sai mal. Aquela foto foi a última, saiu mal — resumiu.
Aos 28 anos, Walter diz não se importar com a repercussão sobre o seu peso. Em entrevista a GaúchaZH, o atacante, que já passou por Inter, Cruzeiro, Atlético-PR, Fluminense, Porto, Goiás e Atlético-GO falou sobre sobre a sua adaptação ao Paysandu, a luta contra a balança e sobre o desaparecimento do seu pai, sumido desde o dia 9 deste mês.
Como está a sua adaptação? Fazia tempo que você não jogava.
Fazia tempo, cara. Achei muito bom. Sei que ainda não estou 100% na minha forma, mas foi tudo combinado junto ao professor. Preciso jogar e treinar para chegar à minha melhor forma e estar 100%. Aqui, começou agora a Copa Verde, o Estadual. Meu foco maior é a Série B do Brasileirão. Pode ter certeza que os jogadores aparecem nesses grandes campeonatos. Tem tanta gente que se destaca no Estadual, na Copa Verde, mas quando chegam a uma Série B, Série A, o futebol cai. É outro nível de jogo. Eu quero estar pronto, 100%, neste campeonato.
Quanto falta para você chegar aos 100%?
Faltam cinco ou seis quilos para eu estar no peso que eu quero.
Qual é esse peso?
Uns 96, 97 quilos. Estou com 101, bem acima. Cheguei com 104, 105. Já perdi quatro quilos nesses 15, 20 dias. Quero que isso termine neste ano. Estou bem concentrado, focado. Meu trabalho está sendo bem certinho para que as coisas aconteçam.
O que você fala de encerrar é essa luta contra a balança?
Sim, cada um tem seu vício. Não é vício, cada um tem sua fraqueza. A minha fraqueza, com certeza, é o sobrepeso. Se eu não tivesse com o sobrepeso, que muita gente fala, talvez hoje eu não estaria aqui dando essa entrevista. Querendo ou não, muita gente fala. Mas eu agradeço essa chance que você está me dando, o Paysandu abriu as portas para eu jogar o meu grande futebol de volta, que é o que eu quero: subir o Paysandu para a Série A, meu foco maior é esse.
Você tem um problema alimentar, o corpo demora a processar, qual é exatamente o seu problema?
Sempre tive problema de peso na minha carreira. "Ah, o Walter é um bom jogador, mas tem problema de peso". Tem gente que tem problema com vício de bebida, tem gente que tem vício de droga. Querendo ou não, eu gosto de comer muito. Cortei algumas coisas: bolacha recheada, chocolate... Querendo ou não, a maioria dos jogadores come muita besteira. Isso é normal. Só que o meu estilo, meu corpo não pode isso. Estou com 28 anos e me acostumando. Quase três meses sem jogar, também. No Atlético-GO eu estava no meu peso certo, jogando. No final do campeonato, não pude mais jogar. Ficaram com medo de que eu pudesse me machucar.
Como foi a reestreia, esses 20 minutos?
Minha estreia foi muito boa. Nós que entramos queremos jogar. E quem estava lá quer tocar a bola, porque já está cansado. Isso é normal. Eu gosto quando o jogo está 0 a 0, 1 a 1, porque aí os dois times estão querendo jogar. Tem mais chances de fazer gol. Quando está 4 a 0, o time fica mais com a bola, porque já está mais cansado. Por isso que eu gosto mais de entrar quando o jogo está pegado. Tem gente que prefere um jogo mais calmo, mas eu gosto de pressão. É uma coisa minha. Em geral, o time fez um ótimo jogo. A gente vinha de três ou quatro jogos sem vencer. Agora, temos duas vitórias seguidas. E jogando bem, que é o mais importante. Agora é dar continuidade. O foco de 2018 é subir o Paysandu e ser campeão da Copa Verde e campeão do Estadual. Você tem a chance de fazer história. Tenho história no Atlético-PR porque fui campeão. Tenho história no Goiás porque fui campeão. Tenho história no Inter porque fui campeão. Eu tenho história no Porto porque fui campeão. Em todos esses times, fui campeão e as portas estão abertas para mim. O povo me respeita. O povo do Inter estava aí, me respeita e me aceita de braços abertos. Se um dia eu for campeão, entro para a história do clube também.
O que você acompanhou da repercussão da sua estreia, da questão da internet?
O jogo era normal, 20 minutos é muito pouco. Muita gente pegou no meu peso, era esperado. Eu mesmo falei para eles que não estava 100%. Nunca cheguei aqui e falei para a imprensa que estava 100%. Disse que estava 60%, 70%. Não é à toa que o técnico combinou comigo 20 minutos, para pegar ritmo de jogo e não ficar só treinando. Pegaram uma foto, postaram. Tem foto que você sai bem, tem foto que você sai mal. Aquela foto foi a última, saiu mal. Se você pegar três, quatro fotos no Instagram, ficaram boas. Os caras tiram fotos de vários ângulos. Mas estou tranquilo, sei que meu trabalho está sendo muito bom. Tenho a minha consciência de que faz 15 dias que estou trabalhando. Voltar a jogar é muito bom. Não estou 100%. Isso é minha vida, minha carreira. Sempre tive esse probleminha.
Você disse que fez história no Inter, participou do título da Libertadores. Como é a sua relação com o Inter?
Muito boa. Conheço o Jorge (Macedo), que é o diretor que me contratou no São José de Porto Alegre. Eu fui campeão gaúcho, campeão da Libertadores, mas vou cobrar de novo. O Inter está me devendo a minha medalha, não me deram. Eu fui vendido para o Porto e não me deram minha medalha. Até hoje eu cobro, até hoje não me deram essa medalha.
Você recebeu algum interesse do Grêmio por conta da tua boa relação com o Renato Portaluppi?
Não. Tenho um carinho grande pelo Renato. Joguei no Fluminense porque ele me chamou. Meu melhor momento lá foi com o Renato. Nos três meses que trabalhei com ele, fiz nove gols em cinco jogos. Mas não chegou nenhum convite.
Você disse que o seu objetivo é subir para a Primeira Divisão com o Paysandu. Depois disso, o que você pensa para a sua carreira?
Sou sincero. Nunca havia jogado no Norte do país. A estrutura do Paysandu é boa. Agradeço a Deus por ter me colocado aqui. No começo, fiquei com receio, mas agora estou me acostumando. Estou feliz, focado. O clube me passa tudo. As tias da cozinha, o preparador físico sempre me perguntam se tem algo que está faltando. Por isso, quero continuar mais tempo aqui. No Carnaval, fiquei treinando para melhorar a minha forma. O preparador físico e as cozinheiras vieram na folga deles para me ajudar. A cobrança com o meu peso é muito grande. Na terça, joguei 20 minutos, e só deu eu ontem nos jornais. Eles me cobram porque acreditam em mim. O destaque do time foi o Cassiano, que marcou dois gols, mas na matéria tá uma foto minha, e eu nem fiz nada no jogo. Isso acontece por causa da minha história. No Atlético-PR, eu nem jogava em alguns momentos e ia dar entrevista em canais fechados, coisa que nenhum outro jogador do time conseguiu fazer. Eu abri as portas do clube. O carinho que os jornalistas e os canais de TV têm por mim é muito grande.
Você é o mesmo cara desde a base do Inter, quando te conhecemos.
Sim. Eu não mudo nada. Tem vezes que os jogadores não podem falar algumas coisas. Eu, não. Falo o que eu sinto, o que penso. Não mudo, meu jeito é esse. Eu vim de uma família humilde. Meu pai está desaparecido. Como você acha que está a minha cabeça? Mesmo assim, estou trabalhando. Se é outro jogador, larga tudo. Só que aqui eu tenho projeto bom. Estou focado. Muito gente só quer meter o pau, não quer pensar no lado pessoal do Walter. Existe muita maldade que o povo publica na internet, e algumas pessoas acreditam. O mais importante é que aqui no Paysandu ninguém acredita nessas maldades. Já joguei, senti o cheiro e o carinho da torcida. Vi eles apaixonados. Tenho tudo para entrar para a história do Paysandu. Tenho qualidade para entrar e fazer gols em finais e ser campeão. É aí que se entra para a história do time.
Não recebeu nenhum notícia sobre o seu pai ainda?
Às vezes, recebemos a informação de que ele está em tal lugar. Só que daí a minha mãe vai no lugar que falaram e ele não está lá. Estamos sem notícia.
Não é sequestro?
Não. Já viram ele em alguns lugares, mas minha mãe não consegue encontrá-lo. Não tive a confirmação de onde ele está. Vamos passar por cima disso.
Pessoal de Porto Alegre fala bastante sobre você.
Quem sabe um dia eu volte para o Rio Grande do Sul?
Você tem alguma preferência?
Não. São dois times grandes. Se eu fizer um bom trabalho, quem sabe, as portas se abrem lá no Sul. Futebol é muito rápido. Hoje estou dando entrevista para você aqui. Amanhã, posso estar falando com você lá em Porto Alegre.