Não foi fácil para a estudante Nathalia Ribarczk, 17 anos, dormir na noite de domingo. Horas antes, durante à tarde, o time que ela defende, o Palestra de Carazinho, foi impiedosamente goleado. A partida pelo Grupo A do Gauchão Feminino terminou 20 a 0 para o Grêmio. A média foi de um gol a cada 4,5 minutos.
– Dormir foi complicado, fiquei pensando que poderia ter me esforçado mais, ter ido melhor. Ficava repassando os lances na minha cabeça – conta a jovem goleira.
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No jogo de domingo, o Grêmio abriu 5 a 0 nos primeiros 20 minutos e fechou a etapa inicial com oito gols de vantagem. No segundo tempo, foram mais 12 gols. Só a jogadora Karina marcou sete vezes. Nathalia revela que, pela equipe estar incompleta e cheia de garotas do sub-15 e sub-17, já se esperava um resultado negativo, mas não com um placar tão dilatado.
– Nós ficamos na defesa e elas atacaram praticamente o jogo inteiro. Impotência é a palavra que define tudo – enfatiza a goleira do Palestra.
Após o jogo, o abatimento era geral no vestiário perdedor. Ontem, algumas meninas ainda tiveram de ouvir piadas em relação ao resultado, mas Nathalia garante que goleada não irá desanimar na busca de seu sonho de fazer sucesso no futebol. Natural de Marau, ela joga futsal em uma equipe de sua cidade e estreou nos gramados justamente no jogo contra o Grêmio.
– A repercussão não foi nada positiva, o pessoal vem te zoar, mas não dá para abaixar a cabeça. Falar é fácil, quero ver ter coragem para estar lá no meu lugar. Quer falar de mim, tem que fazer melhor. Pretendo continuar no futebol, tenho o sonho de ir longe – desabafa a estudante de ensino médio e que faz curso profissionalizante de eletricista.
Presidente e técnico do Palestra, Luis Helfenstein reclama que o time não tem apoio da prefeitura nem de empresas fortes da região. A batalha é diária apenas para colocar a equipe em campo no final de semana. Antes do jogo contra o Grêmio, a luta era juntar recursos para pagar a taxa de arbitragem.
Na partida de domingo, o Palestra teve o desfalque de jogadoras que estavam lesionadas e de meninas que moram em outras cidades e não puderam ir a Carazinho porque o clube não conseguiu dinheiro para pagar as despesas com viagem e alimentação. A base foi de garotas do sub-15 e sub-17, com quatro atletas adultas. No banco, apenas três jogadoras, sendo que duas estavam machucadas.
– Temos dificuldade até para local de treinamentos. Nosso propósito é ter a honra de terminar o Campeonato Gaúcho. Ano que vem, se tivermos incentivo, permanecemos. Caso contrário, óbvio, não teremos continuidade – comenta Helfenstein.
Sobre a partida contra o Grêmio, o técnico/presidente afirma que o Palestra não tinha o que fazer para evitar a goleada, que o nível da equipe da Capital é superior, pois tem a estrutura de um clube grande e a experiência de ter disputado recentemente o Brasileirão.
– Não tem como não ficar chateado, mas, acima de tudo, temos que apoiar as nossas meninas, porque elas são novinhas. É ruim, doído, mas temos que honrar nossos compromissos – conclui.