O volante Nilton construiu uma carreira sólida no Brasil, com passagens por Corinthians, Vasco, Cruzeiro e Inter. Ano passado, ganhou a primeira chance de ter uma experiência internacional e foi contratado pelo Vissel Kobe, do Japão. Depois de um ano na Ásia, o meio-campista de 30 anos se diz feliz com a vida na Ásia e com a adaptação ao futebol japonês.
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Esta é a sua primeira experiência fora do Brasil, e logo de cara em um país tão diferente. Como tem sido?
Sim, é minha oportunidade em poder jogar fora do país. Aqui, o Japão, é um país maravilhoso. É uma cultura que sempre quis conhecer. Tenho a oportunidade de jogar em Kobe, uma das cidades mais bonitas do Japão. Isso ajudou muito. Claro que o começo sempre tem dificuldade com o idioma, cultura, a forma de lidar com o povo japonês. Mas hoje estou completando um ano no Vissel Kobe, consegui me adaptar aos costumes, como o povo japonês lida com as coisas. Estou feliz aqui. Com 30 anos, a experiência pelos clubes grandes que rodei. O país, só tem que tirar o chapéu pelo povo, pela educação, como tratam os estrangeiros.
Como é a sua relação no vestiário com os outros jogadores?
No vestiário, eu tenho uma facilidade muito grande de me aproximar, interagir com qualquer um. Sou muito alegre, gosto de ouvir música alta. Não tive tanta dificuldade. Os japoneses até acabaram estranhando um pouco. Eles têm mania de ficar em silêncio. É uma das coisas que eu estranhei um pouco antes dos jogos, isso é costume. Não só do meu time, mas de todos os clubes. Já mencionei para os outros brasileiros que jogam em outros times, fica aquele silêncio. É um método para se concentrar. No Brasil, sempre estamos ouvindo música, falando alto. Coloco umas músicas brasileiras, eles acabam falando japonês, eu falo português. Acaba tendo essa comunicação, sempre na língua do futebol. Eles gostaram, ficam até pedindo música. O tradutor diz que eles querem ouvir música e uma palavra de incentivo. Fico feliz de ter passado esse meu jeito alegre, que eles acabaram se identificando bastante.
Você pretende ficar na Ásia por mais tempo, voltar para o Brasil em breve ou quem sabe ir para a Europa?
Eu tenho contrato até julho de 2018, pretendo cumprí-lo. Claro que, se o presidente quiser renovar, vamos sentar para conversar. Mas eu sempre coloco nas mãos de Deus minha carreira, minha vida, minha saúde. Se for para permanecer na Ásia, vou permanecer, ou ir para a Europa. Mas claro que eu tenho saudade do Brasil. Sempre vou ter. Clubes já sondaram, se eu teria interesse de voltar. Mas tenho contrato. Estou fazendo meu trabalho, sempre respeitando o povo. É desta forma que a gente acaba conquistando o carinho e virando ídolo desta forma. Guerreiro, como eu sou dentro de campo. Espero poder cumprir, mas deixo na mão de Deus.
Como foi a sua passagem pelo Inter?
A minha ida para o Inter foi uma novela. O Inter tinha interesse no meu futebol desde 2013. Acabei indo para o Cruzeiro, tive as conquistas, fui o melhor do campeonato. Isso aumentou o interesse do Internacional. A minha chegada lá foi muito bacana, o pessoal do Sul me recebeu muito bem. A adaptação é sempre complicada. Tive um começo difícil, mas depois eu consegui me estabilizar e ter um bom futebol. Consegui conquistar título. Tinha dito antes de chegar que o meu objetivo era conquistar título e consegui conquistar um Estadual. Depois, tive o problema com a minha parada no negócio do doping. Isso atrapalhou a minha trajetória. Foi um período muito bom, os torcedores sempre reconheceram, quando eu entrava em campo no meu estilo aguerrido. O meu futebol tem o estilo do Sul, por isso os torcedores gostaram. Queria muito ter conquistado uma Copa do Brasil ou a Libertadores, que chegamos à semifinal. Mas era para ser desta forma. Agradeço muito aos torcedores do Inter, que ainda mandam mensagens querendo que eu retorne.
Você acabou saindo antes da campanha do rebaixamento. Já imaginava que o time poderia viver momentos complicados quando deixou o Beira-Rio?
A gente não tem uma bola de cristal para adivinhar o que vai acontecer amanhã. Mas até quando eu estava no Inter, me recordo que estávamos em primeiro no Campeonato Brasileiro. A equipe vinha jogando muito bem, tendo uma regularidade. Eu sempre falo que no Campeonato Brasileiro tem que ter muita regularidade para poder conquistar o título. A minha saída, junto com outros jogadores também, pode ter pesado um pouco, pois o time ficou muito novo. Em alguns momentos, a falta de experiência pesa. A juventude é boa, mas às vezes a experiência ajuda muito em algumas partidas. Isso acarretou muitas vezes, foram problemas fora do campo. Os resultados começaram a não vir, houve protesto de torcedores. A minha saída, nunca fiz pensando porque o time poderia ir mal. Foi pela oportunidade que tive de realizar um sonho de ir para fora do país. Sempre torci para os companheiros pudessem sair daquela situação, mas infelizmente não aconteceu, acabaram caindo para a Série B. Mas eles vão ter a oportunidade de reerguer o Internacional para o seu lugar na Série A.
O Leandro Silva (atacante) e o Nelsinho Baptista são brasileiros que estão há mais tempo no Japão e trabalham com você no Vissel Kobe. Como eles ajudam na adaptação?
O Leandro tem 10 anos de Japão, saiu também para os Emirados. Claro que ficou mais fácil, por ele já ter passado pelo Vissel Kobe. Isso ajudou para eu poder me adaptar na cidade, na forma como ter que lidar, onde eu poderia ir. Até quando eu tive que tirar habilitação, ele me ensinava os lugares que eu poderia sair com a minha família, os restaurantes, lugar para as crianças se divertirem. O Leandro consegue falar japonês, tem esta facilidade. o Nelsinho, pela experiência que tem, tem mais de 15 anos de Japão. Não preciso nem falar que é um técnico vitorioso, que conquistou coisas aqui no Japão e pretende conquistar mais este ano. Ele me ajudou bastante na base do que ele queria dentro de campo, e como eu poderia fazer as funções que ele queria. Graças a Deus consegui mostrar o futebol que eu estava apresentando no Brasil. Com ajuda, conselhos que ele passa dentro de campo. O futebol japonês é muito dinâmico, você não tem tempo para pensar com a bola no pé. Tem que ser aquela coisa muito rápida. Acrescentei este lado do futebol japonês ao meu, e fico muito feliz em ter boas atuações e ajudar o Vissel Kobe.
Quais as principais diferenças do futebol japonês em relação ao brasileiro?
O futebol japonês me surpreendeu muito pela forma dinâmica que eles têm. Eles ficam com muita intensidade quase os 90 minutos, é uma coisa absurda um jogador manter quase os 90 minutos. Alguns resultados acabam se decidindo de 80 minutos em diante, a intensidade fica mais alta ainda do que no primeiro tempo. O Brasil tem essa forma cadenciada, mais de marcar por setor. Aqui você vai até o final com o jogador, aquela marcação individual. Por isso que fica essa coisa dinâmica. No Brasil, tinha jogos que eu corria nova quilômetros, nove quilômetros e meio. Aqui, eu corro de 10,5 a quase 11 quilômetros por partida. Tive que me adaptar, melhorar a parte física. Já estava bem no Brasil, mas aqui tive que melhorar. A parte técnica, você tem que evitar ter erros de passe. Os times aqui trabalham muito a bola, evitam erros de passe. E sempre estourar no gol, pela qualidade junto com a velocidade. O exemplo é o Kashima Antlers, que fez um duelo acirrado com o Real Madrid. Isso mostra que o futebol japonês está numa crescente. Tem mais ainda a crescer, sem dúvidas. Cada ano, vocês vão ver que o futebol japonês vai ser mais falado mundialmente. Eles estão indo no caminho certo. Espero fazer coisas boas no Japão. O brasileiro que vem para cá tem que ter o período de adaptação. Pela intensidade. O calor também é muito forte. Acaba juntando tudo, tem que ter um trabalho mental e físico. Tem que estar muito bem.
*ZHESPORTES