Eu tinha apenas 11 anos quando me encantei pelo voleibol e vi Bernardinho, com raiva, morder a sua camisa pela primeira vez. Não entendia o porquê disso, mas jamais sairá da minha memória a seleção brasileira campeã olímpica em Atenas 2004.
O Brasil tinha a equipe mais equilibrada que pisou em uma quadra. Ou ao menos que eu vi pisar em uma quadra.
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Se Serginho fazia milagres mesmo com as dores nas costas que privavam seus movimentos no final da sua carreira, imaginem como ele era logo quando começou a representar a seleção. Os ponteiros não deixavam por menos. Giba era a técnica, a liderança. Vestia a camisa 7, mas, se seu esporte fosse disputado na grama e com os pés, apenas a 10 lhe serviria.
Dante não gostava muito de treinar. Ele não precisava disso. Não exercia os fundamentos da forma que os professores ensinam nas escolinhas de vôlei Brasil afora. Você que já jogou, lembra: para fazer a recepção, não fique com os joelhos retos. Dante ficava e acertava. A explosão na saída de rede era uma incumbência de André Nascimento. Era como se fosse um zagueiro, daqueles viris, que batiam até na sombra (foi o único jogador que recordo ter quebrado uma antena durante uma partida).
Os centrais eram gaúchos. Poucas vezes vi seus dentes enquanto jogavam. André Heller nasceu em Novo Hamburgo, mas parecia ter se criado no Alegrete pela seriedade que o acompanha. Gustavo Endres, lá de Passo Fundo, não era diferente. Um semblante fechado que apavorava qualquer atacante que ousasse passar pelo seu bloqueio.
O último jogador que descrevo era o cérebro daquela equipe. Ricardinho sabia como deixar seus atacantes tão à vontade para marcar o ponto, que talvez nem precisassem ser tão habilidosos. Mas eram.
Encantei-me por esse time. Comecei a jogar vôlei vendo essa equipe. Achava tudo tão perfeito e tão fácil. Só não entendia o motivo de o técnico daquela seleção, mesmo com toda a harmonia que sua equipe exercia dentro de quadra, ficar tão descontrolado. Agora, entendo. Bernardinho era e é um perfeccionista. Apenas um homem assim conseguiria dar harmonia e potencializar tantas individualidades. Fez isso durante 16 anos e conquistou tudo o que poderia. A camisa da seleção brasileira de voleibol sentirá falta das mordidas de Bernardinho. Boa sorte a Renan Dal Zotto.
*ZHESPORTES