Verão de Porto Alegre que faz os senegaleses quererem voltar para casa, e o povo se refugia nos shoppings em um sábado à tarde. Corredores cheios que, em alguns momentos, lembram os T1 lotados e fazem a gente caminhar lado a lado com desconhecidos.
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Faço essa introdução porque não sou de ficar ouvindo a conversa dos outros. Pois o casal na faixa dos 40 e tantos, acompanhado de uma adolescente entre ambos, caminhava apressado quando o homem, meio sorriso escapando dos lábios, saiu-se com esta:
– Quando era marido, já não gostava de vir ao shopping com vocês. Agora, como ex-marido, então...Só que me vejo aqui.
A mulher riu e tocou no braço dele com gentileza. A menina, entre os dois, permaneceu saltitante com aquela demonstração de civilidade. Eu fiquei tão embasbacada que quase tropecei na protagonista desta minissaga. Aqui, entra o Internacional e a civilidade entendida como humildade de todos trabalharem juntos para o bem maior, que, neste momento dos quase 108 anos de história, atende pelo propósito de "volta redentora para a Primeira Divisão".
É a hora para ter mente aberta às ações da diretoria recém-empossada e liderada por Marcelo Medeiros, ouvir quem possa trazer contribuições. Seja o Conselho Deliberativo, o Fiscal, a Fundação de Educação e Cultura, a Brio – empresa parceira do Internacional na modernização e administração do Complexo do Beira-Rio – ou até mesmo um colorado anônimo. Seria uma aplicação positiva da contemporânea era do compartilhamento, na qual informação, opiniões e sentimentos se convertem em vetores com um só sentido: coletividade na expressão de crescimento mútuo e bem-estar.
Ah, pode parecer utopia e devaneio, resultado de uma cabeça fervente devido ao típico calor da Capital? Pode, só que também tem lógica cartesiana. Na entrevista que concedeu a Zero Hora neste final de semana, o técnico do Inter, Antônio Carlos Zago, conta que está respirando o clube e suas idiossincrasias quase as 24 horas do dia. Não tem glamour. Só muito trabalho.
Aquele casal do shopping estava despido de orgulhos e aparências. A filha é que importava. A civilidade fez com que conseguissem até rir de si mesmos – o que, dizem os especialistas em comportamento humano, é uma das maiores manifestações de inteligência. Que o Inter, com simplicidade e verdade, (re) conquiste a confiança. A Primeira Divisão será natural. Como o sorriso espontâneo da menina.
*ZH Esportes