O bebê da dona Vera Lúcia cresceu e ganhou o mundo. Principal revelação do futebol brasileiro neste ano, o atacante Gabriel Fernando de Jesus foi da várzea ao ouro olímpico em cinco anos. Criado no Jardim Peri, bairro na zona norte de São Paulo, o garoto de 19 anos, que será a estrela do líder Palmeiras contra o Grêmio no domingo, 18h30min, na Arena, desfilará seu talento na Inglaterra a partir de janeiro, no Manchester City de Guardiola.
O gosto pela bola veio desde guri, mas não atrapalhou os estudos. Até porque a mãe, que o criou sozinha, marcou em cima para ele completar o ensino médio. Aos oito anos, Gabriel foi levado pelo mano Felipe (também é irmão de Caíque e Emanuele) para jogar no Pequeninos do Meio Ambiente, time amador que usava o campo do Presídio Militar Romão Gomes, bairro Tremembé, na capital paulista. Lá, foi treinado por Nilson Coelho Santos, o Filé. Curiosamente, o craque iniciou na defesa.
– Comigo, ele era zagueiro. Era pequenininho, raçudo. Depois, a gente viu que ele tinha talento e colocamos no ataque – lembra Filé, que acompanhou Gabriel Jesus até os 14 anos.
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A vida do guri deu uma guinada em 2012. Naquele ano, ingressou no Anhanguera, clube amador dos empresários Fábio Caran e Cristiano Simões, que passaram a representá-lo. Foram só oito meses até um amistoso contra o Palmeiras. Observado por olheiros, foi chamado para um teste no CT de Guarulhos. Com 15 anos, aprovou de primeira e passou a treinar lá.
– Ele tem uma determinação fora do comum – conta Simões, que desfez a sociedade com Caran e hoje é o único empresário do atacante.
Na base do Palmeiras, Gabriel impressionou ao marcar 37 gols em 22 jogos no Paulistão sub-17 em 2014. No ano seguinte, na Copa São Paulo, fez cinco gols em seis jogos. Foi lá que despertou a atenção de Oswaldo de Oliveira, que assumiu o Palmeiras no início de 2015.
– Todos no clube já falavam dele. Era muito corajoso, não fugia das divididas, era muito rápido e com faro de gol. Já dava para ver que teria mesmo futuro – lembra Oswaldo.
Lançado pelo técnico, Gabriel estreou no profissional contra o Bragantino, no Paulistão, em março de 2015. Mas o principal trabalho de Oswaldo era controlar a expectativa da torcida sobre Gabriel. A carência de um ídolo no Palmeiras poderia recair sobre o garoto.
– Ele tinha que ser trabalhado, ainda era precoce. Tivemos que queimar algumas etapas, manter a calma e conter a pressão – completa o treinador, que hoje dirige o Sport.
Maturidade com o ouro olímpico
Trabalhado por Oswaldo e depois por Marcelo Oliveira, Gabriel desbancou nomes como Alecsandro e Lucas Barrios para assumir a titularidade. Ao final do ano, com 18 anos, levantou a taça da Copa do Brasil. Mas foi nesta temporada que sua carreira explodiu.
Pelo Palmeiras, até agora, foram 19 gols em 35 jogos. Tamanho desempenho, que inclui a artilharia do Brasileirão (que ele divide com Sassá, do Botafogo, e Robinho, do Atlético-MG, com 10 gols) o levou a ser chamado por Rogério Micale para a seleção olímpica.
Nos Jogos do Rio de Janeiro, o garoto atingiu a maioridade com a medalha de ouro. Foi acompanhado de perto por Odair Hellmann, auxiliar do Inter que compôs a comissão técnica campeã de Micale.
– É um menino excelente, que vai se desenvolver muito. Alia qualidade à vontade de evoluir, aprender. Mesmo com tudo que aconteceu na carreira dele, não tem soberba alguma – conta Hellmann.
O futuro em Manchester
Ainda antes da Olimpíada, Gabriel Jesus passou a estampar as capas dos principais jornais da Europa. Seu contrato com o Palmeiras, que foi renovado em 2014 e se estendia até 2019, previa que cinco clubes poderiam comprar seus direitos por 24 milhões de euros: Barcelona, Bayern de Munique, Manchester United, Paris Saint-Germain e Real Madrid.
Sua venda foi definida durante os Jogos. E por um valor bem maior. O Manchester City, que corria por fora, venceu a briga. Muito pela influência do técnico Pep Guardiola, que persuadiu Gabriel Jesus a atuar no Etihad Stadium.
Amparado pela fortuna do sheik Mansour bin Zayed Al Nahyan, dos Emirados Árabes Unidos, o clube inglês venceu a concorrência do rival United e fechou acordo com o Palmeiras por 32,7 milhões de euros (R$ 121,1 milhões). Mas só receberá o atacante após o final do Brasileirão.
Na avaliação de Tim Vickery, correspondente da rede britânica BBC no Brasil, o ouro olímpico, os dois gols contra o Equador pelas Eliminatórias e os elogios de Ronaldo Nazário, a quem Gabriel Jesus já é comparado, começam a saciar a curiosidade da Inglaterra sobre o garoto. Mas ainda há muito o que descobrir.
– Por enquanto, Gabriel é uma incógnita na Inglaterra. Ninguém espera que ele chegue para ser o craque do time. É mais um investimento a longo prazo, uma aposta para o futuro do City – analisa Vickery.
NÚMEROS GABRIEL JESUS
Seleção (Olimpíada e Eliminatórias)
8 jogos
5 gols
8 finalizações certas (13 erradas)
17 faltas recebidas
0 assistência
10 desarmes
1 cartão amarelo
0 cartão vermelho
132 passes certos
Palmeiras (2016)
35 jogos
19 gols
45 finalizações certas (31 erradas)
110 faltas recebidas
3 assistências
51 desarmes
10 cartões amarelos
1 cartão vermelho
546 passes certos
Palmeiras (2015)
38 jogos
8 gols
23 finalizações certas (33 erradas)
74 faltas recebidas
2 assistências
57 desarmes
6 cartões amarelos
0 cartão vermelho
473 passes certos
ZHESPORTES
Perfil
A história de Gabriel Jesus, o craque do Palmeiras que encanta o Brasil
Atacante da seleção brasileira jogará no Manchester City no próximo ano
Adriano de Carvalho
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