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A camisa 10 era dele, mas no time infanto-juvenil da escola. Adenor tinha como sonho um passo de cada vez. Primeiro, queria jogar na dupla Ca-Ju, depois no Grêmio ou no Inter e quem sabe em outros clubes de expressão nacional. E o caminho passou a se tornar realidade quando conheceu o zagueiro grená Luiz Felipe Scolari, o sisudo xerifão do time rival do pai Genor, juventudista por origem italiana.
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Bem antes de ser Felipão, Luiz Felipe se dividia entre distribuir botinadas pelos gramados gaúchos e dar aulas de educação física para adolescentes na Escola Cristóvão de Mendoza. Era 1977, ano de rivalidade na disputa do futebol escolar caxiense.
– Tinha um campeonato municipal muito legal entre escolas naquela época. O Luiz Felipe treinava o time do Cristóvão e o meu irmão jogava no Emílio Meyer, na época chamado de Ginásio Guarani. As duas equipes se encontraram na final, em um jogo marcado para o Estádio Municipal – relembra Ademir Bachi, o Miro, irmão de Adenor.
Às vésperas da decisão, alguns pais dos alunos do Cristóvão informaram o professor Luiz Felipe sobre os perigos do adversário. Falaram para ter cuidado com o tal de Tite, o meia-direita camisa 8 do Ginásio Guarani. Um garoto bom de bola, dono de passes precisos e chegada fácil ao ataque. Luiz Felipe foi para a decisão vacinado.
– O Tite era o camisa 8, um baixinho de toques rápidos, mas o meu irmão jogava com a 10, era mais alto. O time tinha o volante Leonardo, o meia-direita Tite e o meu irmão como meia-esquerda. Era um baita meio de campo. Só que o Luiz Felipe gostou foi do meu irmão e achou que ele fosse o Tite. Nunca mais parou de chamá-lo de Tite – revela Miro.
Assim que terminou o jogo, Luiz Felipe foi ao encontro dele e fez o convite para jogar no juvenil do Caxias. Adenor disse que não se chamava Tite, argumentou que estava treinando no Juventude e que iria pensar na oferta. Passaram-se alguns dias até que Luiz Felipe o reencontrou em uma revenda da Volkswagen, na Rua Sinimbu, onde Adenor era office-boy.
– O que tu estás fazendo aí? – indagou Luiz Felipe.
– Estou trabalhando – respondeu Adenor.
– Mas tu não quer jogar futebol, não treinava no Juventude? – retrucou o professor e zagueiro.
– É, mas lá eles me colocam de zagueiro e o meu pai quer que eu trabalhe – disse Adenor.
– Vou te levar para o Caxias e te colocar como meia – encerrou Luiz Felipe.
Foi então que Dona Ivone viu aquele bigodudo invadir o pátio de sua casa ao lado do filho.
– Ele e o Ade entraram e ele já veio falando que iria levá-lo para o Caxias. Disse que o meu filho tinha potencial, tinha futuro. Aí, não teve jeito – recorda a mãe.
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E Adenor, que acabou incorporando o apelido Tite, não jogava só futebol. Era bom no basquete, inclusive disputando o Estadual da categoria juvenil.
– Ele chegou a jogar partidas no Gigantinho, em Porto Alegre. Não era só basquete, o meu irmão era um esportista nato. Jogava tudo, e bem – elogia Miro.
Mas o futebol era uma paixão herdada do pai, que jogava e treinava o Juvenil, de São Bráz. O talento de Tite o fez subir do juvenil para o profissional do Caxias rapidamente, em 1978. Tanto que fez gols na dupla Gre-Nal nas primeiras oportunidades e chegou a ser convidado para jogar nos juniores do Grêmio.
– Até o Inter o queria. Abílio dos Reis, técnico da base do Inter, veio na nossa casa e viu um pôster do Grêmio na parede. Viu que não seria fácil tirá-lo do Grêmio. Só que tanto o Grêmio quanto o Inter queriam o meu irmão para as categorias de base. Ele foi para Porto Alegre, ficou alguns dias e voltou para o Caxias, porque aqui ele era profissional – conta o irmão.