Morando no Rio Grande do Sul, exposto seguidamente a calor de derreter e a frio de congelar fora de época, alguns dias com o aparecimento de até quatro estações, declaro que tenho um sonho antigo: ainda vou morar na Islândia.
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Aquele país isolado no Atlântico Norte, de colonização nórdica em seu passado longínquo, tem frio e umidade todo dia, o que afasta o erro: o tempo é ruim SEMPRE (parece que o verão cai em 25 de julho – das 9h às 11h: acordou depois disso, perdeu!). E agora, acabo de descobrir mais um motivo para morar na Islândia: uma gelada ilha vulcânica, sem sol, terreno rochoso, alguns dias com 20 horas de escuridão, a Islândia também é o país do futebol.
Explico. Em seu primeiro jogo de uma participação inédita no Campeonato das Nações da Europa, a dita Eurocopa que está sendo disputada na França, a cidade de Saint-Étienne acolheu incríveis 7 mil islandeses no Estádio Geoffroy Guichard assistindo emocionados ao imprevisível empate de 1 a 1 com Portugal. Considerando que a Islândia, uma ilha cujo tamanho é menor do que a metade do Rio Grande do Sul e tem apenas 323 mil habitantes, ou seja, pouco menos do que Canoas – significa que 2,2% da população estava em um estádio de futebol, e ainda por cima em um outro país a quase 3 mil quilômetros de distância.
Parece pouco, mas é uma enormidade: transportando para o futebol, o que seriam os mesmos 2,2% da população do Brasil, de 206 milhões de habitantes? Dariam 4,5 milhões de torcedores em um único jogo – uns 60 Maracanãs lotados, ou 100 vezes a Arena do Grêmio ou o Beira-Rio, por aí.
Considerando que o Campeonato Brasileiro do ano passado registrou média de público de 17 mil espectadores por partida, seriam necessários 266 dos 380 jogos do Brasileirão (exatos 70% de todo o campeonato) para igualar os islandeses em uma única tarde em Saint-Étienne.
Para jogar futebol na Islândia, a turma precisa forrar as botinas com papel de jornal, sob pena de perder um dedão no campo. Para assistir, o torcedor deve levar cobertor e travesseiro térmico ou deixa a bunda no assento. Com frio e umidade, mesmo assim o pessoal de lá ama o futebol. Ainda mais depois de ontem, quando a seleção do país venceu a Áustria por 2 a 1 e se classificou para a segunda fase da Eurocopa, já na primeira vez em que teve o gosto da competição.
Não há dúvidas: a Islândia é o país do futebol.
*ZHESPORTES