Fiz uma análise fria dos acontecimentos ligados ao Grêmio, desde o furacão dos últimos dias, e cheguei a uma conclusão surpreendente: eu sou o culpado. Isso mesmo. Esqueça de atribuir alguma responsabilidade ao presidente Romildo Bolzan, à direção de futebol, ao comando técnico de Roger Machado ou aos jogadores que levaram o clube à Libertadores de 2016. Os fracassos deste início de ano passam por mim e pela minha mania de acreditar.
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Peço desculpas por minha falta de postura. Acreditei nas palavras do presidente, que, apenas por retórica, disse que 2016 seria ano de matarmos a sede de 11 anos (sim, eu considero o título da Série B) sem títulos relevantes. Como isso podia ser verdade, se Bolzan é o condutor espartano de uma política de futebol que conta os centavos e, em nome dela, não admite nenhum tipo de ousadia além de trazer um atacante equatoriano frágil e inofensivo? Era discurso, era marketing – e eu caí com toda a inocência do mundo.
Lamento, também, ter continuado a agir como torcedor e ir ao estádio mesmo que a dupla Rui Costa e César Pacheco tenha agido deliberadamente para desqualificar o grupo, mesmo com a classificação para a mais importante competição do continente. Como pude sonhar com uma taça, se o Grêmio deixou partir jogadores que fizeram um bom 2015 e trouxe como reposição atletas de padrão inferior, para dizer o mínimo? No lugar de ampliar a qualidade que já se tinha, houve um flagrante retrocesso. Por que sonhei com o Tri? Burro!
Talvez o meu maior equívoco tenha sido admirar o Roger e a sua proposta de futebol bem jogado. Que ousadia a minha! Um time com toque refinado e giros de bola, com triangulações, passes precisos, mas sem consistência defensiva, sem marcação, sem alma. Gostava tanto de ouvir as entrevistas do Roger. Assim, avalizei uma forma de jogar que deixa a indignação em casa. Tudo em nome do quê? Do delírio de dizer que o meu clube do coração joga bonito e tem o ataque mais efetivo do país?
E os jogadores, que culpa eles têm? São profissionais, vivem disso, não podem ser responsabilizados por não terem vontade de ganhar. Não critico a qualidade, pois ela existe, nos pés de Luan, Giuliano, Douglas e até de Walace, quando o nosso volante ainda não estava seduzido pelos milhões da Europa. Eles sofrem é de indolência crônica, de falta de apetite. Não sangram, não exibem a menor vontade de ganhar – e só quando um time busca títulos como se quisesse um prato de comida algo é possível no futebol.
Enfim, não entrei em campo, não contratei, não projetei, mas sei que a maior parcela de culpa é a minha. São 11 anos apostando tudo na esperança da vez. Tenho de mudar de atitude: deixar de apostar. Não posso ser tão egoísta a ponto de prejudicar a maior torcida do Estado com a mais terrível das armas: acreditar. Perdão.
*ZHESPORTES