A geração liderada por Gabriel Medina, considerado um dos mais talentosos do mundo atualmente, deve dominar o Championship Tour (CT) pela próxima década. É o que acredita o comentarista da ESPN e ex-surfista profissional Renan Rocha. Para ele, a turma tupiniquim ainda não atingiu seu auge - com a exceção de Adriano de Souza, que conquistou o título aos 28 anos, em sua décima temporada na elite. Por isso, a maioria dos garotos deve evoluir nas performances e "substituir" ídolos como Kelly Slater e Mick Fanning, veteranos no circuito.
Tubo, aéreo, goofy ou regular. Se você ainda não está familiarizado com essas expressões, prepare-se. É provável que elas sigam em seu cotidiano nos próximos anos. Afinal, as projeções para a elite do surfe brasileiro apontam para um futuro promissor. Além de ficar com a taça de campeão do mundo nas duas últimas temporadas, o campeonato de 2016 inicia, em 10 de março (no horário de Brasília, na quarta-feira, 9 de março), com 10 competidores do país na disputa, o que representa cerca de 30% do total de concorrentes (o número de atletas só foi maior em 2001, quando o Brasil teve 11).
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- Os brasileiros são muito novos. Tirando o Mineiro (Adriano de Souza), vamos botar uma média 20 anos. O auge deles ainda vai chegar. Será aos 26, 27 ou 28 anos. Então tem quase 10 anos de evolução deles. Aí, depois disso, entrará a próxima molecada. Do Havaí, dos Estados Unidos, mas que o Brasil também tem. Quando eles entrarem no circuito, aí começa a troca de guarda - projeta Renan.
O país parece ser mesmo uma fábrica de talentos. No Mundial júnior, o campeão também foi brasileiro. Lucas Silveira, carioca radicado em Florianópolis, 20 anos, levantou o caneco em Portugal, em janeiro deste ano, um mês após a consagração de Mineirinho. O menino é apontado como uma das promessas do esporte, e não será surpresa se ele trilhar o mesmo caminho do paulista Caio Ibelli, campeão júnior em 2012 e que em 2016 estará no Championship Tour. Existe uma grande expectativa para o ano de estreia de Caio, considerado um talento da modalidade. Até agora, ele tem provado a que veio. Entra no CT com o status de campeão da divisão de acesso (QS) de 2015.
Existem, porém, alertas em meio a toda a festa. O diretor da conceituada revista Fluir, Kiko Carvalho, afirma que os brasileiros precisam trabalhar e ficar de olho nos adversários. Há outros surfistas que esbanjam personalidade no circuito:
- Tudo bem que o Kelly está parando, mas tem caras muito bons. Tem John John que, se decidir competir realmente, porque agora ele vai lá e brinca, é o cara que tem todo o talento e que surfa mais que todo mundo. Se esse cara se puxar, é difícil parar. O único que faria frente a ele é o Medina. E tem o Julian Wilson, que com certeza vai ser campeão no futuro. É questão dele encaixar alguns resultados.
Os favoritos
Se há consenso entre os especialistas de que o Brasil deve ficar com a taça em 2016, também não há divergências sobre os nomes que disputarão a primeira colocação. O que desponta como franco favorito é Gabriel Medina, mas existem outros talentos. Mineirinho pode levar o bi se prevalecer sua força mental e resistência. Filipe Toledo, o Filipinho, é outro que evoluiu de forma significativa em 2015 e aparece na lista de apostas. O potiguar Italo Ferreira, que conquistou o título de Calouro do Ano (Rookie of The Year) em 2015, deve brigar por posições mais altas nesta temporada, ainda que não seja considerado totalmente pronto para levantar a taça.
- Acho que o Medina tem mais chances. Acredito que ele já vai estar mais relaxado. Já passou a fase que teve no ano passado, de muita mídia em cima, de toda aquela muvuca. Tem o Mineirinho para dividir as atenções também. Mas acho que o Filipinho vem com sangue nos olhos, e está evoluindo mesmo, ainda que tenha atuações um pouco inferiores nessas ondas (tubulares) de Pipe, Teahupoo - avalia Fábio Gouveia, ex-surfista profissional e uma das referências do esporte no Brasil.
Um fator que pode facilitar a vida da Brazilian Storm, como é conhecida a geração no exterior, é a decisão de Mick Fanning de não comepetir em todas as etapas. O australiano tirará um "ano pessoal", para descansar dos sustos que levou em 2015, como o ataque de tubarão em Jeffreys Bay.
- É subjetivo, porque tudo precisa se concretizar. Às vezes, é estrategia. Fala em ano sabático, mas vai competir todas as etapas, e aí o que ele faz? Tira a pressão dele. Mas, saindo o Mick Fanning, a briga fica entre o trio Filipe, Mineiro e Medina. Sendo que, se eu tivesse que apostar, apostaria todas as minhas fichas no Medina. É o mais preparado para todos os tipos de onda. É o cara a ser batido - completa Kiko Carvalho.
Números sobem
Fora da água, o Brasil tem demonstrado igual crescimento quando o assunto é surfe. Segundo dados da World Surf League (WSL), a torcida tem procurado cada vez mais conteúdo dentro das mídias oficias da entidade. Não por acaso, a subida ocorreu entre 2014 e 2015, nos anos vencidos por Medina e Mineirinho.
Quando o primeiro brasileiro sagrou-se campeão, o porcentual de visitas ao site da WSL subiu 231%. Nos dois últimos anos, os brasileiros lideraram os acessos ao conteúdo da página durante o Pipeline Masters, a última etapa do tour. Além disso, os fãs nacionais representam 200 mil downloads do aplicativo de celular disponibilizado pela liga.
- As conquistas foram tão categóricas que, aos poucos, a opinião pública e a própria mídia internacional começaram a olhar com olhos mais justos aos Brasil. Começaram a depositar a confiança e dar valor ao que essas conquistas realmente representam. Isso que é legal, os brasileiros estão botando o pé na porta e assumindo uma posição que foi sempre dominada por loirinhos de olhos azuis. A imagem do surfista brasileiro conquistou os aficionados pelo esporte - opina o gerente-executivo da WSL na América do Sul, Roberto Perdigão.
*ZHESPORTES