Podemos denominar de saudade de uma voz protagonista, tão escassa nos gramados, nos parlamentos e na sociedade em geral. Talvez por isso surja certo desconforto de como será a reação da equipe colorada sem seu ícone, D'Alessandro, no comando que dita o ritmo do jogo e a energia do vestiário.
Isso denota que a liderança agrega valor ao talento que se faz notar, a ponto de causar insegurança em saber como serão os rumos de uma equipe, sem esta voz que motiva os companheiros, dá confiança aos torcedores e impõe respeito aos adversários. Não basta querer ser líder. Essa é uma virtude que se une ao talento, se forja no caráter e, acima de tudo, se solidifica pela credibilidade.
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Na condição de gremista, me causa alívio essa ausência. Mas lamento pela escassez de lideranças que enfraquece a democracia e empalidece a respeitabilidade, por não encontrar alguém que banque palavras fortes e não faça ouvidos moucos pelo que passa e interfere na vida de um cidadão.
Mesmo com alguns exageros (que por vezes causam ira aos fanáticos) que entram no imaginário das pessoas e as fazem se posicionar, formando opinião, desde que tenhamos critério e bom senso. Não podemos ser uma sociedade de uma única voz, precisamos de contrapontos, para podermos exercer a democracia, fazer escolhas e conviver com divergências. Isso nos torna mais maduros e reflexivos.
Além da contribuição que o D'Ale deixou ao futebol brasileiro, deixa-nos muitas interrogações sobre o que estamos fazendo, para termos mais protagonistas, em todas as áreas, para nos inspirarmos e acreditarmos que o nosso Brasil ainda tem jeito. O país parece estar em uma viagem, em um trem descarrilado, sem voz de comando, não sabendo para onde, nem como podemos chegar a algum lugar.
Então é chegada a vez de olhar ao nosso redor, começando em nossa casa, e juntos pensarmos: que sujeitos queremos formar? Que protagonistas queremos ter para que as mudanças aconteçam? Penso que a ausência sentida do D'Ale, forte liderança, mesmo que com algumas ressalvas da forma, nos faz perceber que nos faltam referências marcantes em todos os cenários e que, sem elas, na obscuridade, sentimos espanto e medo, de forma a comprometer a esperança de como serão as coisas doravante.
Não basta lamentar, é preciso projetar a forma de fazermos para que grandes lideranças sejam forjadas e possamos, com elas, resgatar a confiança de que a nossa voz é representada na voz de um líder que nos dá a certeza e esperança de que muitas vitórias virão, regidas pelo tom da voz de comando. Assim, o saudosismo dará lugar a protagonistas de uma história vencedora.