Quem acompanha o futebol do Interior gaúcho sabe que as dificuldades financeiras caminham lado a lado com os clubes. Se em temporadas anteriores os problemas começavam a surgir somente durante a competição, neste difícil 2016 eles já batem à porta antes mesmo de completar um mês de pré-temporada. Pelo menos é assim em Santa Maria.
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No Inter-SM, algumas contradições permeiam o dia a dia da Baixada. Segundo informações extraoficiais, de um elenco de 30 atletas, apenas 10 seriam remunerados pelo clube. O restante do grupo receberia alguma quantia dos próprios empresários para obter mais visibilidade no futebol profissional. Isso não é novidade em times do Interior. As únicas despesas do clube com esses atletas seriam a hospedagem nos alojamentos e a alimentação.
Contudo, o presidente do Inter-SM, Heriberto Marquetto, afirma que todos os jogadores que permanecerem no clube para a Divisão de Acesso serão remunerados. O que acontece, segundo Marquetto, é que boa parte do elenco ainda será dispensada antes mesmo da competição.
- O que existe são jogadores que não sabemos se vão ficar. Não tem jogadores de empresários no clube. Não gosto de dar números. Não temos um grupo definido ainda. Na semana que vem, mais dois jogadores estão chegando, e outros devem sair. Isso passa por uma dificuldade financeira. Não é marolinha. Jamais vamos fazer a besteira de não conseguir pagar salários no final do ano. A preocupação é grande, mas é o momento que o Brasil está passando. O que tenho certeza é que vai ser um ano difícil para todo mundo - disse Marquetto, enfatizando que o clube segue pagando uma folha paralela de dívidas trabalhistas em torno de R$ 35 mil (já a folha mensal seria de R$ 25 mil, considerada a menor da Divisão de Acesso 2016).
Para quem trabalha nos bastidores do mercado da bola a cada temporada, os baixos valores projetados nas folhas mensais de 2016 assustam:
- O problema é que tem muita gente que acha que é empresário e oferece jogadores. Tem jogador que vem pela alimentação e pela moradia. Santa Maria tem uma baita visibilidade, até pela imprensa que cobre o dia a dia. Na Divisão de Acesso deste ano, há apenas dois times com folha acima de R$ 60 mil (maior folha seria a do Caxias: R$ 140 mil, incluindo a comissão técnica). A média da folha dos clubes da Divisão de Acesso deve girar em torno de R$ 45 mil - comenta o empresário Marcos Pedroso, figura conhecida dos dirigentes de clubes do Interior gaúcho.
Cadeiras do Olímpico devem ser instaladas até sexta nos Eucaliptos
No Riograndense, a preocupação não é menor. O clube nem sequer apresentou os novos uniformes por conta da falta de definição dos patrocinadores. No próprio amistoso do próximo domingo, nos Eucaliptos, o técnico Rodrigo Bandeira poderá relacionar apenas 18 jogadores devido à ausência de materiais esportivos.
- A crise é notória. Não adianta dizer que não tem. Já enfrentamos uma possibilidade de não jogar a Divisão de Acesso. Mas fiquei para aglutinar o pessoal. Estamos levando com muita dificuldade, mas vamos cumprir com tudo. Já perdemos dois ou três jogadores por receberem outras propostas. Mas do grupo que está aí, não temos nenhuma informação de negociação deles com outros clubes - garantiu o presidente do Riograndense, José Coden.
Profut seria uma solução
A Lei do Programa de Modernização do Futebol Brasileiro (Profut), que foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff em agosto do ano passado, seria uma das soluções para tentar acabar com as dívidas dos clubes. O Profut permite o parcelamento de dívidas tributárias e não tributárias de clubes de futebol com a União em até 20 anos.
No entanto, a lei enfrenta resistência da CBF, de clubes e de muitas federações por conta de exigências impostas, como a necessidade de apresentar Certidões Negativas de Débitos para poder participar de campeonatos oficiais, sob pena de rebaixamento.
O prazo de adesão ao Profut para os clubes com receita anual inferior a R$ 5,4 milhões acabou prorrogado para o próximo dia 29 de fevereiro (prazo anterior era 30 de novembro de 2015). Nem Inter-SM nem Riograndense aderiram ao Profut.
- As exigências são muito grandes. Não temos como assumir esses compromissos agora. Além disso, a vantagem é mínima, e os juros do parcelamento são grandes. Só adere quem quer. Por isso, achamos por bem não assumir - comenta o presidente do Inter-SM, Heriberto Marquetto.
Na mesma linha do Inter-SM, o presidente do Riograndense, José Coden, também ficou temerário em não conseguir atingir as exigências:
- Não iríamos cumprir os requisitos e resolvemos não aderir ao Profut - resumiu Coden.