Com ajuda de tenistas, campanha garante compra de terreno do Projeto WimBelemDon
O ex-tenista argentino, naturalizado brasileiro, é um exemplo de patriotismo. Fernando Meligeni nasceu em Buenos Aires, mas se mudou para São Paulo com quatro anos. Iniciou no tênis com oito anos e até os 18 anos garante que aprendeu a jogar com "um olhar argentino". Logo depois, decidiu ser brasileiro. Era o queria. Apesar de receber convites para atuar pela equipe argentina na Copa Davis, Meligeni foi categórico ao negar e afirmar que escolheu ser brasileiro por opção e de coração.
- Foi uma decisão acertada, porque era tudo o que eu queria. Eu queria ser brasileiro, eu queria representar o país e deu certo - ressaltou.
Em 2016, Marcelo Melo garante foco na Olimpíada: "Oportunidade única"
Embaixador do Projeto WimBelemDon desde 2004, Meligeni está em Porto Alegre para a 7ª edição do Torneio Rolando Arroz, que acontece neste domingo, na Zona Sul de Porto Alegre. O evento irá comemorar a aquisição do terreno onde as atividades da ONG são realizadas e contará com as presenças de tenistas ilustres como Thomaz Koch, Bruno Soares, André Ghem e Marcos Daniel.
Ao desembarcar na capital gaúcha, o comentarista dos canais ESPN atendeu a reportagem de ZH e, em uma longa e descontraída conversa, falou sobre o futuro do tênis brasileiro, sobre Olimpíada, sobre sua carreira e revelou algumas curiosidades sobre Gustavo Kuerten, o Guga.
Meligeni, Koch e Bruno Soares confirmam presença em evento do Projeto WimBelemDon
Confira a entrevista de Fernando Meligeni, na íntegra:
Como embaixador do Projeto WimBelemDon desde 2004, o quanto significa fazer parte de tudo isso após esse ano difícil?
O projeto se transformou em uma parte dentro da minha vida. A criançada já faz parte da minha vida e a gente sempre teve esse sonho de ter mais estabilidade. Ter o terreno é a grande demonstração que você tem estabilidade. Eu penso muito no projeto, eu converso muito com o Marcelo, a gente tem várias ideias, toda hora eu estou disponível tentando encontrar maneiras para ajudar. Às vezes eu fico triste pela dificuldade que é o brasileiro apoiar um projeto social. Mas é demais pra mim. Esse momento do ano eu reservo totalmente para vir pra cá.
O RS sempre teve muitos tenistas promissores. O Orlandinho é a mais nova aposta do tênis. O que você acha da escola gaúcha de tênis?
O Rio Grande do Sul sempre foi um celeiro de grandes nomes. Eu lembro na época de juvenil que os gaúchos eram sempre temidos. A gente dizia: "Ah, eu peguei um gaúcho. Vai ser duríssimo". Se criou uma tradição. Eu acho que não morreu o tênis no Rio Grande do Sul, isso é um problema nacional. O Brasil não é mais um celeiro de tantos meninos. O Orlandinho é uma grande promessa, é um menino que joga bem. O Rafael Matos também joga muito bem. Mas não temos mais aquela força. É um sinal de alerta, não só para o Rio Grande do Sul mas para o Brasil inteiro.
Você teve duas derrotas marcantes na carreira, nas semifinais da Olimpíada em 96 (Atlanta) e em Roland Garros, em 1999. Se pudesse escolher uma dessas para jogar novamente, qual escolheria?
Ba, é complicado por um simples motivo: se você falar tenisticamente, eu escolheria Roland Garros. Porque jogar uma final de Roland Garros é algo absurdo e eu jogaria contra o Agassi. Agora, na hora que você coloca em um contexto de toda minha história, ganhar uma medalha para o tênis brasileiro é muito importante. Acho que para o tênis seria mais importante eu ser medalhista do que eu ganhar em Roland Garros. Até porque, o Guga já tinha sido campeão. A Maria Esther já tinha conquistado todos os títulos de Grand Slams possíveis. Então, não seria uma novidade. Eu me divido, e isso é louco no tênis. Eu me divido entre o meu prazer e a importância para o esporte. Se eu tivesse que escolher, eu não sei o que eu escolheria.
Mesmo vindo para o Brasil tão cedo, com quatro anos, você nunca pensou em defender a Argentina?
Eu fui convidado pelo Vilas para voltar para a Argentina. Quando eu voltei pra lá, com 17 anos, treinei durante dois anos e meio e depois me decidi como brasileiro. Antes existia uma regra que, mesmo naturalizado, você podia jogar pelo país que te chamasse primeiro na Copa Davis. Eu tive uma conversa muito séria com o Vila, na época capitão da equipe Argentina da Copa Davis, ele me perguntou qual era minha ideia. Se era, Brasil ou Argentina. E me disse que eu estava dentro da ideia dele de time. Daí quando ele me perguntou se podia me colocar como uma possível convocação, eu falei não. Pra mim foi uma dureza, porque o Vilas era o meu grande ídolo. Eu sou brasileiro por opção, de coração, mas eu aprendi a jogar tênis com um olhar ainda argentino. Mas foi uma decisão acertada, porque era tudo o que eu queria. Eu queria ser brasileiro, eu queria representar o país e deu certo.
Qual foi a vitória mais marcante de sua carreira: em 1999, em Roma, contra o Sampras ou a final do Pan de 2003?
Eu acho que o que me projetou mais foi o Pan. Foi o meu último jogo da carreira, jogo histórico, de dias dos pais, eu sendo um argentino e ganhando uma medalha de ouro para o Brasil. Aquelas coisas que todos já sabem. O tenista tem um lado patriota que é demais. Mas também tem o lado do prazer, e você ganhar do Sampras é a mesma coisa que o Thomaz ganhar do Federer. Pode falar o que quiser, daqui há cem anos você vai lembrar. Pra mim, ganhar do Sampras naquele momento era uma coisa impensável, era impossível. Então, eu acho que o Sampras é mais importante sim.
O que falta para o tênis brasileiro encontrar um novo Guga?
Hoje, que eu parei de jogar e entrei um pouco mais na mídia, as informações chegam. Mas eu não sou um jornalista, eu sou um comentarista. Agora, é absurdo o que eu entendo de tênis e da política esportiva. Você começa a entender porque anda ou porque não anda, e se eu for colocar tudo em um balaio só tenho uma coisa a dizer: a gente não tem planejamento e não tem vontade política. O que a gente vê hoje no Brasil, é que não há amor pelo país. O Orlandinho e mais dois tenistas são os únicos que jogam bem tênis no Brasil. Uma coisa é o governo investir porque tem dinheiro pra investir. No tênis, você não tem dinheiro pra dar pra todo mundo. Você não pode fazer um bolsa família no tênis, você tem que ajudar o que dá resultado. E isso, pra mim, é o que falta.
A escolha da ITF em não computar os pontos da Olimpíada no ranking é justa?
Nós vamos saber quem é quem agora. A gente brigou pelo tênis nas Olimpíadas. Teve muitos atletas que se negavam a jogar os Jogos. Agora, chegou a hora do atleta mostrar seu amor pelo país. Se começar a dizer que porque não conta ponto, não vai, tira da Olimpíada. Se o Nadal, o Djokovic ou Federer não vem porque não conta ponto, se sou o COI eu tiro o tênis. Porque Olimpíada é patriotismo. Pra mim, a Olimpíada não é dinheiro e não é ponto. E é isso que o atleta tem que mostrar agora.
Depois do Guga, o Brasil sempre busca um novo ídolo no tênis. Hoje, o Marcelo Melo conseguiu assumir o posto mais alto no ranking de duplas. Você acredita que ele pode assumir esse posto de ídolo?
Não. Infelizmente não. Ninguém vai tirar o posto do Guga. Pode todo mundo virar número um do mundo, Orlandinho, Zormmann, Bellucci, mas o Guga é o Guga. Ele, além de jogar um tênis absurdo, tem um carisma e uma estrela que é única dele. O Guga é hors concours no Brasil. É sacanagem o mundo querer comparar o Marcelo (Melo) ao Guga. Eu acho que o Marcelo tem que fazer uma reviravolta. Ele precisa ser mais acessível a imprensa. Em 1997, o Guga trouxe o público para dentro. E é isso que o Marcelo tem que fazer. Eu acho que essa é a hora de investir na carreira, pra tratarem ele como ele merece ser tratado. Como número um do mundo no ranking de duplas.
Depois de uma temporada excepcional em 2010, chegando a 21ª colocação no ranking, Bellucci viveu altos e baixos. Você acredita que Bellucci ainda pode bater seu melhor ranking, ou é apenas isso que podemos esperar do brasileiro?
Todo o jogador tem uma margem. Se você olhar o DNA dele, você sabe. Se você pegar o Ferrer, sabe quem é o Ferrer. Ele tem uma zona de conforto. A zona de conforto do Thomaz é do 28 até o 50. É ali onde ele teve seus piores e melhores momentos. A gente pode ver um Bellucci melhor de 20, mas eu acho mais difícil hoje. Quanto mais tempo você fica na zona de conforto, mais difícil é de sair. Você tem que querer. Eu, por exemplo, era um jogador de 60 a 80 e para mudar eu tive que expandir meu repertório. Daí fui a 25. Se o Thomaz ficar nessa pegada, ele vai seguir na zona de conforto até se cansar.
Rafael Nadal confirma presença no Rio Open em 2016
*ZHESPORTES
Em visita a Porto Alegre
"É sacanagem o mundo comparar o Marcelo Melo com o Guga", diz Meligeni
O ex-tenista brasileiro está na capital gaúcha para participar de evento do Projeto WimBelemDon
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: