Na tarde de 12 de março de 2011, o volante Almir teve seu grande momento como jogador. Em uma partida do Campeonato Gaúcho, no Estádio Olímpico, ele recebeu passe na entrada da área e chutou forte, marcando o segundo gol da vitória do Cruzeiro sobre o Grêmio.
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Hoje, aos 27 anos, o meio-campista está longe dos gramados. Depois de disputar o Estadual pelo União Frederiquense, não recebeu uma boa proposta financeira. A alternativa foi se aventurar em outra área. O atleta virou sócio de uma autopeças na cidade de Portão, no Vale do Caí.
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- Agora, eu tenho uma renda fixa. Futebol não é uma certeza para quem joga em time de Interior - justifica.
Natural de Porto Alegre, criado no bairro Vila Nova, o mesmo de Ronaldinho, Almir sempre quis ser jogador. O sonho virou realidade no Cruzeiro, onde chegou em 2005, com 17 anos, e saiu somente em 2013.
- Fomos vice-campeões gaúchos de juniores em 2008 - recorda o volante.
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Na temporada passada, o primeiro aperto financeiro assustou. O ano começou no Vilhena, de Rondônia. Depois, o destino foi o União-FW. Porém, mesmo após subir com o time de Frederico Westphalen para a Série A do Gauchão, as propostas para jogar no segundo semestre não apareceram. A saída foi ajudar a mulher, Ana, na produção de eventos e até trabalhar no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) durante as eleições.
- Ano passado, a gente passou dificuldades. Tive que me virar - destaca Almir.
Grifes do Interior também sofrem com o desemprego
Por isso, há três meses, quando o sogro resolveu investir em uma autopeças e oferecer para o jogador e a filha tocarem o negócio, o meio-campista resolveu aceitar.
- É complicado sempre ficar correndo atrás para pagar as contas. Preciso pensar no futuro - enfatiza.
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Foto: Anderson Fetter
E com o encerramento do Gauchão, a rotina mudou radicalmente. Os treinos, jogos e concentrações foram trocados por um expediente mais tradicional, das 8h às 12h e das 13h30min às 18h, mas não menos puxado.
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- O futebol te priva de muita coisa, tu fica longe da família, sofre pressão, nem sempre os momentos são bons - comenta Almir.
Sobre sua estreia no ramo de autopeças, destaca que no começo estranhou, mas está pegando o jeito.
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- Estou aprendendo as peças, ganhando experiência. Tem coisas que nem imaginava que existia - diverte-se.
Morador de São Leopoldo, Almir e a mulher compraram um apartamento pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Com o que conseguiu juntar no futebol, deu uma entrada e agora pagará o restante em 20 anos. Para manter a forma, frequenta uma academia e joga em um time de várzea. No momento, sua atuação é fora dos gramados, mas se aparecer proposta de algum clube...
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- Se pintar uma boa, eu jogo.
O volante também faz faculdade de Educação Física no IPA. Começou em 2007, mas devido à rotina do futebol, teve que trancar o curso várias vezes. Atualmente, está no sexto semestre.
- A frustração que tenho no futebol foi por não ter feito um contrato longo, de não ter oportunidades em um time grande. Quando poderia ter, no meu melhor momento, em 2011, me machuquei. Não era para ser, mas não me arrependo, conquistei bastante coisa. Joguei na Arena, no Beira-Rio e no Olímpico.
Meio-campista optou pela faculdade
A instabilidade como jogador do Interior está incomodando o meio-campista Régis, 25 anos, que disputou o Gauchão pelo União Frederiquense. Já pensando em uma vida longe dos gramados, o atleta começou a cursar Direito em uma universidade de Santiago, cidade da Região Central do Estado, onde reside.
- Quero fazer concursos, evitar a instabilidade. É horrível depender do primeiro semestre - ressalta o jogador, que ainda não arrumou emprego para o restante do ano.
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Foto: Arquivo Pessoal
- Estou sem clube, não apareceu nada. E não tenho outra fonte de renda. Guardo o que ganho no Estadual e fico correndo atrás, ligando para amigos e empresários. Meu planejamento básico é guardar o que ganho no Estadual para o ano inteiro - explica Régis.
A campanha ruim do União-FW no Gauchão é apontada pelo atleta como um complicador para despertar o interesse de outros times. O fato de ficar sem emprego no segundo semestre angustia o jogador, que não descarta até abandonar os gramados:
- Se ficar sem clube até o final do ano, terei dificuldade. Nunca tinha ficado parado. Se for para ficar rodando ou jogar só um semestre, talvez eu pare.
Meio-campista do Avenida no Gauchão, o mineiro Elias, 26 anos, é outro que sofre com o desemprego. Desde abril sem clube, ele conta com a ajuda da mulher para se manter.
- Estou sem renda nenhuma. Jogo campeonato de amadores e a esposa segura. É complicado - desabafa o atleta, com passagem pela base do Botafogo e que já jogou no Juventude, na Tailândia e na Moldávia. Atualmente, mora em Santa Cruz do Sul e tem como rotina cuidar dos filhos e se exercitar para manter a forma.
- É muito difícil, estou dividido se continuo ou não. Prefiro trabalhar ganhando menos, mas que seja um emprego estável.
Na Série A do Gauchão, a média salarial é de R$ 5 mil a R$ 10 mil. Na Divisão de Acesso, o valor médio cai para cerca de R$ 3 mil. E nas Copinhas do segundo semestre, diminui ainda mais.