É inegável que o São Gabriel faz uma campanha surpreendente na temporada. O clube da região central do Estado recriou um departamento de futebol no final de 2013 - cidade ficou cinco anos sem futebol profissional -, subiu da Segundona Gaúcha em 2014 e, hoje, é finalista da Divisão de Acesso em 2015.
Os méritos do belo trabalho passam por uma comunidade integrada ao time, uma diretoria empenhada, um plantel minuciosamente planejado e pela fé de Gelson Conte, 46 anos, técnico da equipe desde o início do campeonato. Em 19 jogos na Divisão de Acesso, o clube perdeu apenas uma partida - para o Riograndense por 4 a 0 em Santa Maria na 6ª rodada da primeira fase -, e é o único invicto no pentagonal.
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Já classificado ao quadrangular final da competição, o São Gabriel tenta, na quinta-feira, contra o Inter-SM, em Santa Maria, confirmar a melhor campanha da fase, antes de entrar definitivamente na briga pelo título e pela vaga no Gauchão de 2016.
Confira a entrevista de Gelson Conte:
Onde o São Gabriel pode chegar?
"Pelos adversários e pelos enfrentamentos, nós nos candidatamos ao título. Pelo próprio jogo que fizemos com o Pelotas e contra as equipes de Santa Maria. Temos convicção. O grupo se fortaleceu e entendeu o recado. Serão decisões uma em cima da outra. Jogos definidos no detalhe. Mas quando se respeita o adversário, consegue-se os objetivos. O trabalho continua o mesmo, com um pouco mais de foco e mais concentração. Temos mais um mês de campeonato e ele é decisivo na nossa vida profissional. O São Gabriel veio da terceira divisão, e como a equipe que perdeu apenas um jogo na Divisão de Acesso. Não entramos como azarão. Entramos como todos os outros."
Como o São Gabriel avançou ao quadrangular?
"O passo mais importante foi o planejamento. Estamos desde outubro trabalhando no elenco - São Gabriel foi um dos primeiros times a começar a pré-temporada. Alguns atletas saíram. De repente, faltariam um ou dois reforços, mas não há tempo para isso. Tivemos a felicidade de contratar bem. São atletas com um perfil profissional enorme dentro e fora de campo."
Pulso firme e a dispensa de jogadores
"A dispensa do Robinson e do Michael mostrou-se como uma situação de administração de grupo muito grande. Tenho convicção e uma maneira de trabalhar. O futebol profissional dentro de campo anda junto com o futebol fora de campo. Se não tivéssemos entrega, já estaríamos fora. Não quero ser a estrela de tudo, não tenho esse perfil. Mas tenho um comando forte e não abro mão disso. Tenho de fazer os comandados entenderem os caminhos que devem ser tomados."
Quem pode decidir lá na frente?
"O coletivo está muito forte. Mas o sistema defensivo está sólido. Isso faz com que o setor mais da frente, com atletas como Bahia, Jeorge e Alexandre consigam ser peças fundamentais. Não consigo individualizar, a força coletiva é que vem dando resultado."
São Gabriel joga pela região
"Nós lidamos com a condição de servir de exemplo para outras equipes da região, principalmente no planejamento. Peguei um clube onde tinham poucas dívidas e conseguimos fazer algo a mais. Sei que poderemos representar a região no ano que vem, e servir de exemplo. Principalmente na hora de contratar grupo de jogadores e comissão técnica."
Atletas da dupla Rio-Nal no "banco de dados"
"Não estou dizendo que os times de Santa Maria não sirvam de exemplo. Inclusive, alguns atletas de Inter-SM e Riograndense entraram no meu banco de dados para próximas competições."
Elenco, auxiliares, presidente e empresário
"Temos um elenco de 25 jogadores, contando o Vila e o Henrique, que estão lesionados. Dos 25, seis atletas já tinham trabalhado comigo, e tinham outros no meu banco de dados. O presidente (Roque Hermes) mexeu nos cofres, e isso foi muito importante - folha mensal do clube é de R$ 100 mil. Tivemos, também, indicações do empresário de Rio Grande Cláudio Louzada, que foi uma pessoa fundamental no nosso planejamento, assim como o meu auxiliar, Jefferson Câmara, o preparador físico Valdemar Fernandes e o preparador de goleiros Rodrigo Souza."
Chegou a hora do torcedor
"O nosso torcedor tem que saber que respeitamos ele desde o início. O torcedor é fantástico e, agora, chegou o momento dele. É hora de a cidade juntar forças. Serão três jogos decisivos em casa no quadrangular final."
A superstição de Conte
"Quando se trabalha com futebol, ter superstição é normal. E é preciso ter fé e humildade. Preciso acreditar em alguma coisa. Quando consigo arruda, eu coloco embaixo do boné. No jogo contra o Pelotas, a arruda caiu e o pessoal enxergou. Mas vai continuar. Está dando certo."
Crítica pelos empates e o desabafo
"Nós sabíamos que o trabalho era correto. E queríamos dar o resultado positivo ao torcedor. Mas, como as vitórias não estavam vindo, tivemos equilíbrio para assimilar isso na hora da crítica. Ninguém gosta de ser injustiçado em uma ou outra situação. E os empates nos trouxeram desgaste em certo momento. Porém, o presidente nos deu a segurança de ir até o final - São Gabriel soma 12 empates, 6 vitórias e uma derrota em 19 jogos e está invicto na segunda fase. Time não sofreu nenhum gol de cabeça no campeonato."
FICHA TÉCNICA
- Gelson Conte, 46 anos
- Natural de Lajeado
- Em 2012, no comando do São Luiz de Ijuí, em sua estreia na Série A, liderou o time do início ao fim e permaneceu na elite gaúcha. No segundo semestre do mesmo ano, conquistou o título da terceira divisão com o Aimoré, resultado que alavancou o clube até a primeira divisão do Estado