Exatamente há 50 anos, o goleiro Negri fazia história no futebol brasileiro. Era 27 de junho de 1965. A vitória de 2 a 1 sobre o Brasil-Pe, no Alfredo Jaconi, não ficou marcada pelos gols ou pelo início de uma série de vitórias que culminou com o vice-campeonato gaúcho daquele ano. Ali surgiu o primeiro goleiro a usar luvas no país, talvez o primeiro na América Latina. Aos 19 anos, Elias, que estreia no gol do Juventude neste sábado, às 15h, contra o Madureira, no Rio, pela Série C, terá a honra de usar um par novinho de luvas batizado por Negri.
- Essa luva é nova, nem vesti ainda. O senhor é o primeiro a colocá-la. Tomara que me dê muita sorte - disse Elias, no encontro que tiveram às vésperas do jogo da tarde de sábado.
- Vai dar sorte, sim. Eu comecei como titular do Juventude com a tua idade - respondeu o ex-goleiro, prestes a completar 70 anos.
Aribaldo de Negri nasceu em Rolante (RS) e, antes de defender o Ju, atuou em times como Floriano, que depois virou Novo Hamburgo, e Flamengo, de Caxias do Sul. Assim como todos os outros goleiros do Brasil ou da América, não usava luvas. Até que uma fatalidade o transformaria num pioneiro:
- Fui o primeiro goleiro a usar luvas porque sofri um acidente e perdi parte de um dos dedos. Não tinha outra saída a não ser procurar algum tipo de luva para poder jogar. O Pastelão, nosso técnico no Juventude em 1965, me perguntava sempre quando eu ia voltar. Eu respondia que em dois ou três meses, e ele deu a ideia: "Vai a Porto Alegre e vê se acha alguma luva". Fui em várias lojas de artigos esportivos e nada, nunca tinham escutado falar em luvas para goleiros. Até que numa pequena lojinha, a Couro Esporte, nos deparamos com uma na vitrine, cheia de pó. O vendedor disse que ela estava lá há um ano, era uma luva da marca alemã Drible. Serviu direitinho, comprei numa quarta-feira e usei no domingo.
Antes de Negri, o consagrado goleiro russo Lev Yashin usava luvas na Europa por um motivo diferente do juventudista.
- Ele usava por causa do frio - contou Negri.
Por aqui, o goleiro do Juventude era chamado de "fresco".
- Quando eu ia jogar fora, a torcida pegava no pé. Diziam que era frescura. Eu tinha que tirar a luva, mostrar o curativo no meu dedo machucado para justificar que era por uma necessidade - relembrou.
No Brasil e na América, a luva só se tornou indispensável depois da Copa do Mundo de 1974. Negri lembra que Félix, tricampeão mundial com a Seleção Brasileira, não usou luvas no Mundial de 1970. O pioneirismo de Negri aumentou a vida útil dos goleiros.
- Foi a melhor coisa que aconteceu. Antes das luvas era comum os goleiros ficarem fora de jogos por luxações nos dedos e outros machucados no pulso. O Manga, ídolo do Inter, tinha as mãos deformadas. Naquele dia que eu comprei a luva, deixei encomendado mais seis pares: duas para mim, duas para o Bagatini e duas para o Geraldo, meus reservas no Juventude - contou o ex-goleiro.
Série C
Estreia do novo camisa 1 do Juventude marca os 50 anos das luvas de goleiro no Brasil neste sábado
Negri foi o primeiro a usar luvas em 1965 e Elias vai estrear com um par batizado pela lenda
Adão Júnior
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