Quem senta nas cadeiras não entra no vestiário. Não vê a vida real lá embaixo, na colmeia dos atletas, nos subterrâneos dos estádios. Diz assim que Lio Messi é o melhor jogador depois da Era Pelé (1956/1977). O YouTube é a sua enciclopédia.
Leia mais no blog Bola Dividida
Em campo, é único, seguido pelo esforçado número 2, o português Cristiano Ronaldo, que tem idêntica fome de glórias. Competitivo ao extremo, sangue quente argentino circulado por um extraordinário pé esquerdo, Messi é o Barcelona do século 21 - iguais 21 títulos em seis anos e uma pilha de quase 400 gols. Durante a Copa do Mundo, seu colega e amigo Daniel Alves falou:
- Nunca vi ninguém tão competitivo, do bobinho aos clássicos.
Fora das clássicas linhas desenhadas à cal, imagens que a TV não capta, o número 10 dos sonhos de todas as torcidas é instável como um ser humano qualquer. Acerta e erra. Briga e chora. Exibe acessos de bom e mau humor como eu e você, porém, nos últimos tempos, Messi saiu da linha do bom senso e corre sozinho. O Barcelona, um clube planetário, é seu refém.
Ele começa a emitir sinais fortes de que se acha maior do que a sagrada instituição catalã de 115 anos. Que o futuro próximo não é na Espanha, talvez na Inglaterra, quem sabe em Paris. Os bilionários árabes e russos amparados em fundos de investimento, cobiçam o astro. Jornais ingleses calculam que seria preciso gastar R$ 2 bilhões para retirar Messi de casa, alicerçado num contrato de seis temporadas.
- Messi es el "alien" que devora al Barça - comentou o colunista e blogueiro Alfredo Rellaño, do jornal As, editado em Madrid.
Mais perto, a mídia catalã garante que Messi está farto do Barça depois de 14 anos e todas as vitórias, os gols e as taças possíveis. Sem novos desafios, sua carreira entraria num limbo. Ele quer mudar, força a mudança, agir ao seu modo. Continuar no topo por mais tempo é pura obsessão.
Messi teve atritos com Pep Guardiola. Sem diálogo e sem paciência, o treinador trocou a Espanha pela Alemanha e assinou com o Bayern de Munique. Na tentativa de acalmar o jogador, os espanhóis chamaram um conterrâneo de Rosário, em 2013. Tata Martino fracassou. A experiência com Luis Enrique, que assumiu em agosto, durou pouco. Na queda de braço do vestiário, Messi é imbatível.
"Leo Messi gana los comicios" titulou o diário Marca depois da partida com o Elche (5 a 0), no Camp Nou, quinta-feira. "La afición (torcida) vota Messi" destacou o Sport. A torcida ovacionou o jogador e vaiou o treinador, que havia deixado o argentino na reserva no jogo anterior. O fã aceita tudo, menos que toquem no seu 10. O chamam de "O Profeta".
A TV3, da Espanha, informou que o presidente Josep Maria Bartomeu convocu Messi. Disse que está ao seu lado e prometeu afastar o desafeto Luis Henrique.
O astro sugeriu Frank Rijkaard, técnico do time entre 2003 e 2008, como substituto. Não satisfeito pediu mais cabeças, o afastamento de outros integrantes da comissão técnica, do chefe dos médicos e, creia, até do psicólogo.
Fora da Catalunha, terra do Barcelona e reino de Messi, algumas vozes começam a se levantar contra os rompantes de Lio:
- Ya vendieron a Maradona y siguieron siendo grandes - falou Javier Clemente, ex-treinador da da Espanha, lembrando da saída de outro Messias, em 1984.
Dois times podem comprar os direitos federativos de Messi sem o dinheiro sem lei de um xeque árabe ou um russo da área do gás, Manchester United e Real Madrid. Na Inglaterra, o argentino ganharia seis estátuas e reverências, mas na Espanha seria responsável por uma guerra civil.
Opinião
Luiz Zini Pires: o novo planeta Lio Messi
Luiz Zini Pires
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project