O primeiro contato com as míticas quadras do All England Club não poderia ter sido mais frustrante. Logo na estreia, o gaúcho Orlando Luz, 16 anos, caiu diante do britânico Joshua Sapwell. Orlandinho, como é conhecido, venceu o primeiro set. Mas não resistiu ao tenista da casa, habituado ao rápido e traiçoeiro piso de grama. O jogador de Carazinho perdeu os dois sets seguintes e foi eliminado do torneio juvenil.
A derrota na primeira rodada virou oportunidade para Orlandinho, a maior promessa do tênis brasileiro desde que Gustavo Kuerten surgiu como furacão em Roland Garros, em 1997. Assim como Guga, o gaúcho é cria da terra batida. Mas a grama sagrada de Londres não intimidou o jovem tenista, que já começa a queimar etapas no concorrido circuito do tênis.
Ao lado do paulista Marcelo Zormann, 18 anos, o gaúcho venceu a chave juvenil de duplas. Foram os primeiros a conquistar um título para o Brasil em Londres desde 1966, quando Maria Esther Bueno foi campeã de duplas.
Na jornada em Wimbledon, Orlandinho conta que recebeu o apoio de Bruno Soares, Marcelo Melo e André Sá, profissionais que disputaram o torneio de duplas. Diverte-se com uma troca de mensagens por celular com Sá, mineiro de 37 anos que chegou às quartas de final de simples em 2002 e às semifinais de duplas em 2007:
- O André me perguntou: "E aí, já tomou gosto de jogar na grama? Porque a grama é assim, ou você ama ou odeia". Respondi para ele que estava odiando. Mas depois disse que já peguei gosto.
O curioso é que a dupla foi formada por acaso. Orlandinho costuma jogar ao lado do mineiro João Menezes, e Zormann, com o gaúcho Rafael Matos. Mas como eles são os únicos tenistas brasileiros nos Jogos Olímpicos da Juventude, que reunirá atletas de 15 a 18 anos na China, em agosto, decidiram formar a parceria em Wimbledon para treinar.
Orlandinho também participará do Aberto dos EUA, disputado em quadra dura. Depois de fazer bonito no saibro de Paris (chegou às semifinais) e levantar a taça na grama londrina, é outro piso para tomar gosto por vitórias.
De São Paulo, onde desembarcou depois do título em Londres, Orlandinho conversou na tarde desta terça-feira por celular com a reportagem de Zero Hora.
Como foi a experiência de jogar e ganhar um título em Wimbledon?
Foi sensacional. Perdi na primeira rodada de simples, mas valeu bastante ganhar nas duplas. Na primeira vez que joguei lá, vencemos um torneio que poucos brasileiros ganharam.
Além do piso, qual é a diferença de Wimbledon para Roland Garros, o primeiro Grand Slam que disputaste?
Em Wimbledon, tive a oportunidade de conviver com os profissionais. Em Roland Garros, isso acontece, mas em Wimbledon convivemos ainda mais de perto com eles. Acompanhei treinos do (Roger) Federer, do (Rafael) Nadal, do (Andy) Murray. Deu para ver como eles batem na bola, não é muito diferente de como a gente bate.
Quais serão os teus próximos desafios?
Vou me preparar para dois torneios muitos importantes na quadra dura, a Olimpíada da Juventude, na China, e o US Open (Aberto dos Estados Unidos).
Essa adaptação para a mudança de piso complica?
Vai mudar um pouco a preparação, mas acho que em duas semanas de treinos já vou estar adaptado. Estamos mais acostumados a jogar no saibro, não tem tanto diferença para a quadra dura como existe para a grama, onde a bola é muito mais rápida.
Já chegaste às semifinais de simples e duplas em Roland Garros, no primeiro Grand Slam que disputaste. Agora, foi campeão em Wimbledon com o Marcelo Zormann. Estás pegando gosto de disputar os grandes torneios?
(Risos) É diferente. Mas já está virando rotina, né?
Os bons resultados estão chegando antes do que tu mesmo esperavas?
A meta era terminar 2014 entre os 10 primeiros do ranking, objetivo que já atingi no início do ano (é o atual número 3). Agora, a meta é chegar ao número 1 do mundo até o fim da temporada.
E quando tu planejas disputar os torneios profissionais?
Na verdade, já estou participando de alguns torneios profissionais. A ideia é disputar mais torneios no ano que vem, para acelerar a transição dos juvenis. Quando chegar aos 18 anos (em 2016), a ideia é só disputar torneios profissionais.
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