O campeão paralímpico sul-africano Oscar Pistorius, com a voz trêmula de emoção, chorou nesta terça-feira no tribunal ao contar sobre o assassinato de sua namorada Reeva Steenkamp, com quatro tiros, por engano segundo ele, em 14 de fevereiro de 2013.
No início da audiência, o atleta falou sobre o relacionamento com sua vítima, ressaltando "os projetos para o futuro".
- Reeva e eu havíamos começado a falar do futuro. Planejávamos realmente o futuro juntos - afirmou o atleta no segundo dia de seu depoimento.
Acordado na madrugada do dia 14 pelo "calor extremo", ele disse ter ficado em pânico ao ouvir a janela e a porta do banheiro se fecharem.
- Acredito que foi neste momento que tudo mudou - acrescentou, sob a orientação de seu advogado. - Isso me fez congelar - prosseguiu.
- Não há porta entre o meu banheiro e o meu quarto (...) apenas um corredor. A primeira coisa em que pensei é que eu precisava me armar e proteger Reeva.
Imaginando o pior, ele pegou sua arma sob sua cama falou para a sua namorada, que ele acreditava estar deitada, que chamasse a polícia, gritou para que o suposto intruso saísse, e seguiu pelo corredor que leva ao banheiro, com arma em punho, aterrorizado pelo agressor fantasma que poderia aparecer a qualquer momento.
Ele se perguntou "se havia alguém no banheiro, ou na escada de emergência que ele poderia ter usado para entrar", verificou o box de banho e constatou que não tinha ninguém ali".
- Eu não sabia para onde apontar minha arma (...) escutei um barulho vindo do banheiro e antes mesmo de me dar conta, atirei quatro vezes - relatou.
De volta ao quarto e ao não encontrar sua namorada na cama, ele então pediu ajuda e arrombou a porta do banheiro com um taco de críquete, que ele já havia posicionado por segurança antes de ir dormir.
- Eu olhei para ela, e... não sei quanto tempo fiquei ali - articulou - Ela não estava respirando - disse, antes de desmoronar, abalado por soluços.
O juiz, então, suspendeu a audiência para quarta-feira. Na parte da manhã, Oscar Pistorius havia descrito como amava Reeva. Pistorius e Steenkamp se conheciam há menos de quatro meses no momento do assassinato. Eles foram apresentados em 4 de novembro de 2012 por um amigo, o proprietário de uma concessionária de carros de luxo.
- Nos seis primeiros dias depois que nos conhecemos, ligávamos um para o outro todos os dias - disse o atleta, antes de afirmar que ambos saíam de relações anteriores "difíceis".
- Estava muito entusiasmado com Reeva. Acredito que eu estava mais interessado nela do que ela estava interessada em mim - afirmou Pistorius, que não conseguiu esconder o tremor nas mãos durante o depoimento.
Desde segunda-feira, orientado pelas perguntas de seu advogado, Oscar Pistorius se esforça para passar a imagem de um jovem sensível, bom cidadão, cristão, o oposto do garoto ciumento e nervoso retratado pelos depoimentos da acusação.
A acusação sustenta que ele atirou contra Reeva propositalmente após uma briga. Em uma mensagem, a namorada havia criticado o ciúmes do atleta, afirmando que "as vezes, você me dá medo".